Quem não se lembra do massacre de uma família de gorilas-das-montanhas na República Democrática do Congo (RDC)? O Episódio ocorreu em 2007 e, embora extremamente triste, serviu para chamar a atenção do mundo todo para a frágil situação em que se encontravam os gorilas dessa espécie.
Reduzidos a cerca de 700 indivíduos (número inferior ao de humanos de um único edifício de 10 andares), eles vivem ao redor do Vulcão de Virunga que se estende por três países bastante pobres: Uganda, Ruanda e República Democrática do Congo.
Nos anos que se seguiram ao massacre a RDC enfrentou guerrilhas urbanas e confrontos na floresta justamente habitada pelos gorilas. Além dos caçadores e rebeldes, até agricultores representavam ameaça a essa espécie que, apesar do tamanho, é pacífica e vegetariana. Aliás, o fato dos gorilas serem pacíficos é uma das causas de estarem correndo risco de extinção.
Um gorila não caça e só ataca em legítima defesa. Ao se deparar com algum inimigo (no caso o homem), urra e bate forte no próprio peito na tentativa de impor respeito e afugentar o estranho. Ledo engano. Essa atitude “diplomática” de resolver as coisas reduziu os gorilas a um número crítico e agora eles dependem de muita ajuda internacional para não serem extintos.
Uma das medidas para salvar os gorilas abraça também a comunidade humana local. É o turismo ecológico. Um pacote turístico acaba de ser lançado pelo departamento de turismo da RDC a um preço muito acessível: 200 dólares por dois dias de observação dos gorilas – naturalmente são observadas famílias de gorilas que já estão bastante acostumadas à presença humana. Esse preço está sendo aplicado na baixa temporada e com o objetivo de atrair turistas do mundo todo.
A área de visitação dentro do Parque Nacional de Virunga não registra incidentes violentos há três anos. O departamento de turismo e a ONG Gorilla.CD, grande promotora desse projeto, garantem que a região reservada para a observação dos gorilas é segura. Os turistas podem se hospedar nas casas vizinhas ao Parque (onde também são servidas refeições simples) e incluir no pacote uma trilha pelos arredores do vulcão.
O diretor do Parque Nacional de Virunga é Emmanuel de Merode. Ele é um príncipe, no duplo sentido: por vir de uma família de nobres da Bélgica e por abdicar de uma vida de conforto para abraçar a causa dos gorilas-das-montanhas e de outros animais ameaçados da RDC. Assumiu uma missão de príncipe (igual a que conhecemos nos contos de fadas) lutando pelos menos favorecidos num dos países mais pobres do mundo.
O trabalho de sua equipe é fantástico e envolve medidas ambientais como a substituição do carvão (que é como dinheiro vivo naquele país) por outras fontes de energia sustentáveis. Anos atrás, Emmanuel também intermediou uma negociação entre o presidente da RDC e o líder rebelde Laurent Nkunda para conseguir com que os conflitos não adentrassem mais na área habitada pelos gorilas. E deu certo. Esse trabalho pode ser acompanhado diariamente pelo site www.gorillacd.org onde tem muitas fotos e informações postadas pelos próprios guardas florestais que convivem com os gorilas.