Um filhote de maritaca encontrado nos trilhos da Linha 1-Azul do metrô de São Paulo foi resgatado próximo a estação Santana, na manhã da última sexta-feira (14/02). O caso, que não é isolado, é mais um exemplo da perda de habitat causada pela atividade humana, que coloca cada vez mais animais em risco.
O resgate foi coordenado pelo supervisor da estação, Daniel Hirata, que falou sobre a importância de agir rapidamente para garantir a segurança tanto da ave quanto dos passageiros. “Um passageiro avistou a maritaca acuada e quis intervir, mas explicamos que faríamos o resgate de forma segura”, relatou Hirata em entrevista à Agência SP.
“Ficamos apreensivos porque vimos que era um filhote, e seus pais vinham e iam para confortá-lo. Felizmente, conseguimos garantir um final feliz”, acrescentou o supervisor.
A operação envolveu quatro agentes de segurança, que utilizaram equipamentos de proteção e uma caixa adaptada para transportar a ave. A maritaca resgatada foi levada ao Parque Ecológico do Tietê, onde será avaliada por especialistas antes de ser reintegrada à natureza.
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Wilson Ornellas, um dos agentes envolvidos no resgate da maritaca, compartilhou sua emoção ao participar da ação. “Já resgatei filhotes de pássaros antes, mas dos trilhos do metrô foi a primeira vez. A sensação é de gratidão por poder ajudar”, afirmou o agente.
Já Carine Gosik, outra agente que participou do caso, enfatizou a importância do trabalho em equipe para minimizar o estresse ao animal durante o resgate.
Riscos sofridos pela fauna urbana
Com a expansão das cidades e a redução das áreas verdes, animais silvestres são forçados a se adaptar a ambientes urbanos, onde enfrentam inúmeros perigos, como atropelamentos, fios elétricos e, no caso desta ave, os trilhos do metrô.
Este não é o primeiro caso de animais silvestres encontrados em áreas do sistema de transporte de São Paulo neste mês. Em 03 de fevereiro, durante uma inspeção de rotina, 13 patos silvestres foram resgatados nas imediações da estação Primavera-Interlagos, da Linha 9-Esmeralda. Os animais, três adultos e dez filhotes, estavam próximos aos trilhos e foram avistados por colaboradores da concessionária ViaMobilidade, que acionaram a equipe de meio ambiente da empresa para garantir o resgate seguro.
Um dia antes (02/02), um sagui foi avistado dentro de um vagão de trem da mesma linha. Ele também foi resgatado por agentes e solto em uma região próxima à estação Socorro, na zona sul da cidade. Esses casos demonstram como a fauna silvestre está cada vez mais vulnerável em meio ao avanço urbano.
O metrô possui protocolos específicos para situações envolvendo animais. O “Código C”, por exemplo, é acionado para alertar os funcionários sobre a presença de animais e mobilizar a equipe de resgate.
“Nosso objetivo é sempre agir de forma rápida e segura para proteger os animais que, por algum motivo, acabam acessando o sistema”, explicou Mônica Miki, coordenadora de Planejamento da Segurança.
O crescimento excessivo das cidades, marcado pela construção de prédios e expansão de infraestrutura, tem levado ao desmatamento de áreas verdes que antes serviam como refúgio para a fauna silvestre. Em São Paulo, por exemplo, a constante substituição de matas e bosques por empreendimentos imobiliários acaba com os habitats naturais de diversas espécies e fragmenta os ecossistemas.
Com menos árvores e vegetação, os animais perdem não apenas seus lares, mas também fontes essenciais de alimento, como frutas, sementes e insetos. Essa escassez os obriga a buscar alternativas em ambientes urbanos.
Sem locais seguros para se abrigar e sem acesso a alimentos naturais, esses animais tornam-se mais vulneráveis a doenças, predadores e acidentes. O desmatamento urbano não só destrói habitats, mas também desequilibra ecossistemas inteiros, colocando em risco a biodiversidade que ainda resiste nas grandes cidades.
É necessário adotar medidas mais amplas para proteger os habitats naturais e garantir a coexistência segura entre a fauna silvestre e o desenvolvimento urbano. Caso contrário, cenas como essa podem se tornar cada vez mais frequentes, com desfechos nem sempre tão felizes.
A sociedade precisa entender que a proteção da biodiversidade é uma responsabilidade coletiva. A sobrevivência das espécies silvestres está intrinsecamente ligada às escolhas que fazemos em relação ao meio ambiente, então é necessário colocá-los como prioridade em relação à urbanização.