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AMEAÇA

Riscos crescentes devido às mudanças climáticas ameaçam as espécies endêmicas do Sri Lanka

16 de junho de 2025
Malaka Rodrigo
5 min. de leitura
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O lagarto-de-chifre-de-Karu (Ceratophora karu), endêmico das florestas nubladas. Foto: Imesh Jayalath

Durante as Eras do Gelo, houve uma diminuição no nível global do mar, criando uma ponte terrestre entre o Sri Lanka e a Índia. No entanto, os períodos interglaciais subsequentes, mais quentes, reverteram essa ligação, isolando a ilha no Oceano Índico.

Esse ciclo de conexão e separação permitiu o fluxo genético com o continente, seguido por períodos de isolamento que impulsionaram a especiação, resultando na rica biodiversidade que o Sri Lanka abriga hoje.

Um estudo recente oferece novas perspectivas sobre como as mudanças climáticas provocadas pelo ser humano podem estar revertendo essa história evolutiva de sucesso. As mesmas espécies que evoluíram como endêmicas durante essas mudanças climáticas antigas estão, hoje, entre as mais ameaçadas.

“Analisamos 233 espécies endêmicas de vertebrados, incluindo anfíbios, répteis, aves e mamíferos”, afirma Iresha Wijerathne, da Universidade de Guangxi, autora principal do estudo. Embora o Sri Lanka abrigue 370 vertebrados endêmicos — incluindo 101 anfíbios, 154 répteis, 34 aves e 20 mamíferos — apenas 233 possuíam dados suficientes para modelagem. Os pesquisadores usaram técnicas de modelagem de distribuição de espécies (SDM, na sigla em inglês) para projetar os impactos das mudanças climáticas até 2100.

A SDM utiliza variáveis ambientais como temperatura, precipitação, altitude e vegetação para prever como os habitats adequados para uma espécie podem mudar ao longo do tempo. Essas projeções são cruciais para espécies com exigências específicas de habitat e alcance geográfico limitado, especialmente as endêmicas.

Globalmente, espera-se que as mudanças climáticas alterem a distribuição das espécies por meio do aumento das temperaturas, da mudança nos padrões de chuva e da maior frequência de eventos climáticos extremos. Mesmo aumentos moderados — uma média de 1,5 °C (2,7 °F) até 2040, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — podem deslocar habitats adequados, levando à queda populacional ou extinção. Espécies endêmicas, com áreas de ocorrência restritas e pouca capacidade de dispersão, são especialmente vulneráveis, afirma Wijerathne.

Anfíbios e répteis em maior risco

“Anfíbios e répteis surgiram como os grupos mais vulneráveis”, diz o coautor do estudo Madhava Meegaskumbura, professor de genética evolutiva na Universidade de Guangxi. Entre eles, as espécies com desenvolvimento direto — uma estratégia reprodutiva em que os anfíbios nascem como versões em miniatura dos adultos, sem passar pela fase de girino — estão particularmente ameaçadas.

“Esses sapos evoluíram para prosperar em ambientes estáveis e úmidos, depositando ovos em habitats terrestres”, explica Meegaskumbura, que estuda os anfíbios do Sri Lanka há décadas. “Mas essa mesma adaptação agora os limita a nichos climáticos em retração, especialmente nas florestas nubladas de alta altitude.”

O Sri Lanka já registrou o maior número de extinções de anfíbios no mundo. Das 34 extinções confirmadas globalmente, 21 ocorreram no Sri Lanka, sendo 17 do gênero Pseudophilautus, um grupo de sapos com desenvolvimento direto. Muitos sapos do Sri Lanka atualmente classificados como criticamente ameaçados compartilham essas características e dependem fortemente de alta umidade para que seus ovos se desenvolvam.

“Com o aquecimento climático, os habitats adequados no topo das montanhas estão diminuindo. Esses sapos não têm para onde subir”, diz Meegaskumbura ao site Mongabay. Ele acrescenta que espécies como os lagartos-de-chifre que vivem nas florestas nubladas (Ceratophora spp.), restritos a ambientes frescos e úmidos, podem enfrentar ameaças semelhantes. Meegaskumbura defende mais pesquisas para entender os limites fisiológicos dessas espécies.

Riscos climáticos ainda desconhecidos

O estudo, no entanto, não incluiu peixes de água doce nem invertebrados do Sri Lanka. Pesquisas sobre invertebrados no país ainda são limitadas, exceto para grupos como borboletas, abelhas, libélulas, aranhas e caranguejos. No entanto, muitas dessas espécies, especialmente aquelas com baixa capacidade de dispersão ou alcance climático restrito, provavelmente enfrentarão riscos semelhantes devido às mudanças climáticas, observa Meegaskumbura.

A equipe de pesquisa destaca a necessidade urgente de mais dados, especialmente sobre a genômica funcional de espécies com distribuição restrita. Entender como os organismos podem responder a mudanças ambientais rápidas é essencial para formular estratégias de conservação adaptativas.

Embora mamíferos e aves possam ser menos impactados no curto prazo devido à sua mobilidade e maior tolerância ecológica, eles também não estão imunes às mudanças climáticas. Uma revisão global estima que hotspots de biodiversidade podem perder até 31% de sua biodiversidade até 2100, sendo os ecossistemas insulares especialmente vulneráveis.

Urgência na proteção

O Sri Lanka, como parte do hotspot de biodiversidade Ghats Ocidentais–Sri Lanka, enfrenta não apenas as mudanças climáticas, mas também intensas pressões humanas: desmatamento, fragmentação de habitat e mudanças no uso do solo. Essas ameaças combinadas aumentam a urgência por esforços de conservação informados e resilientes ao clima.

Avanços silenciosos da agricultura, como plantações de chá e cardamomo, especialmente em áreas biodiversas como o leste da Sinharaja, estão fragmentando habitats críticos para muitas espécies endêmicas. “Precisamos preservar toda a estrutura da floresta — da serrapilheira ao dossel — para proteger lagartos-de-chifre únicos como C. karu e C. erdeleni, que vivem em diferentes camadas da floresta”, afirma o coautor e herpetólogo Suranjan Karunarathna, da equipe Nature Explorations & Education.

Algumas partes do riquíssimo leste da Sinharaja já não são mais como eram há duas décadas, diz Karunarathna. Em uma pesquisa recente, os pesquisadores não conseguiram encontrar certas espécies em áreas onde elas haviam sido registradas anteriormente.

“Precisamos de estratégias que integrem projeções climáticas futuras com os padrões atuais de uso do solo”, acrescenta Wijerathne. “Medidas proativas, como restauração de habitat e proteção de áreas montanhosas e de captação de água, são cruciais se quisermos preservar o patrimônio biológico único do Sri Lanka.”

Traduzido de Mongabay.

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