Fonte: UOL
Os principais rios amazônicos estão, sem exceção, com níveis abaixo dos registrados no mesmo período em 2023, ano em que eles tiveram recordes negativos.
Os dados constam em uma nota técnica divulgada nesta quinta-feira (5) e produzida pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
“A situação de seca na região Norte do país é particularmente crítica, com uma persistência que já dura mais de 12 meses, e em algumas áreas 24 meses”, destaca o texto.
Essas são as menores marcas já medidas em um início de setembro e tendem a piorar ao longo das próximas semanas.
“Provavelmente teremos níveis dos rios abaixo em 2024. A seca continua desde 2023, com as previsões de chuvas abaixo do esperado nos próximos três meses na região centro-norte do país, especialmente na Amazônia. A situação tende a piorar e continuar batendo recorde de intensidade e extensão.” – Ana Paula Cunha, pesquisadora da Cemaden e uma das autoras da nota.
Em alguns casos, como no rio Purus, essa diferença é mais evidente. Na quinta-feira (5), o nível era quase cinco metros menor que na mesma data em 2023 (veja dados completos abaixo). Isso é reflexo da maior seca já registrada no país.
Como a navegação de pelos rios é a principal rota de transporte para cidades no interior da Amazônia, a estiagem deve ampliar o isolamento de cidades na região. “Esses valores ressaltam a gravidade da condição de seca nessas regiões e evidenciam o impacto sobre os recursos hídricos locais”, afirma.
Medições (em metros) para o dia 5 de setembro:
- Rio Negro
2023: 12,06 (em Fonte Boa-AM) e 22,74 (Porto de Manaus)
2024: 10,38 (-1,48) e 18,96 (-4,05)
- Rio Solimões
2023: 13,15
2024: 8,49 (-4,66)
- Rio Madeira
2023: 5,58
2024: 3,48 (-2,1)
- Rio Juruá
2023: 2,85
2024: 2,73 (-0,12)
- Rio Purus
2023: 13,47
2024: 8,49 (-4,98)
- Rio Tapajós
2023: 4,3
2024: 2,57 (-1,73)
- Rio Amazonas
2023: 4,33 (Óbidos-PA) e 8,89 (Itacoatiara-AM)
2024: 2,25 (-0,12) e 5,5 (-3,39)
A nota cita que o Acre, por exemplo, tem uma seca hidrológica severa entre outubro de 2023 e janeiro de 2024. “Embora as chuvas de fevereiro a abril de 2024 tenham proporcionado algum alívio temporário, os níveis dos rios continuaram abaixo da média”, destaca o texto.
A situação, dizem os especialistas que assinam a nota técnica, resultou em uma nova condição de seca severa a partir de maio e que persiste até agora.
A estação seca de 2024 iniciou-se mais cedo e está mais intensa do que o habitual, exacerbando ainda mais o impacto nos níveis dos rios da região.
Maior seca já registrada
De acordo com o Cemaden, em termos de extensão, a seca de 2023-2024 é maior registrada desde o início das medições, abrangendo cerca de 5 milhões de km² —o que corresponde a aproximadamente 59% do território brasileiro.
A maior até então tinha sido a seca de 2015-2016, que atingiu cerca de 4,6 milhões de km² (54% do país).
Outro ponto que os especialistas chamam a atenção é que, ao contrário de outras secas, essa tem um caráter nacional, e não regional. “Diversos dados reforçam esse cenário crítico, evidenciando a gravidade da seca prolongada de 2023 e 2024”, alega.
Nos últimos 13 anos [período de monitoramento de secas do Cemaden] observa-se que as secas geralmente apresentavam um caráter regional, concentrando-se em áreas específicas do país. Diferentemente dos anos anteriores, a seca iniciada em 2023 demonstra uma característica muito mais abrangente e intensa em comparação às anteriores.
A nota ainda diz que a previsão para as próximas semanas não é de volta à normalidade de chuvas.
“A previsão meteorológica indica um provável atraso no início da próxima estação chuvosa, o que resultará na prolongação do período de estiagem nos rios de todas as regiões do país, com exceção da região Sul”, pontua.