Poucas horas após nascer, fraca e sozinha, Daisy, uma rinoceronte-branca bebê, foi resgatada no Parque Nacional Kruger, na África do Sul. A mãe havia sido morta por caçadores, deixando a pequena sem proteção e sem alimento. Quase ao mesmo tempo, Modjadji, uma zebra-comum recém-nascida, também foi encontrada debilitada após ser atingida por uma forte chuva.
As duas órfãs foram levadas ao Care for Wild Rhino Sanctuary, o maior centro de reabilitação de rinocerontes do mundo. Internadas na mesma UTI, formaram um laço inesperado que mudou suas histórias. Desde então, Daisy e Modjadji se tornaram inseparáveis, dormem lado a lado, correm juntas e se confortam mutuamente, como se fossem irmãs de sangue.
“Nem imagina o quão adoráveis elas são”, diz Petronel Nieuwoudt, fundador do santuário, sobre a relação entre as pequenas. O contato constante, especialmente ao dormir, trouxe às órfãs a sensação de segurança que teriam com suas mães.
Amizade que salva vidas
Modjadji, batizada em homenagem à deusa da chuva na tradição local, estava anêmica e enfraquecida por carrapatos quando foi encontrada. Poucos dias depois, guardas do parque localizaram Daisy, ainda com o cordão umbilical preso e sofrendo de uma infecção. Sozinhas, nenhuma delas teria resistido.
A convivência não trouxe apenas conforto emocional, mas também oportunidades de aprendizado. Segundo especialistas, a brincadeira entre animais jovens é fundamental para o desenvolvimento social e físico. “A socialização cria um animal muito mais bem-adaptado na idade adulta”, explica Terri Roth, cientista do Zoológico de Cincinnati.
Caminhos separados
Conforme crescem, Daisy e Modjadji começam a seguir seus próprios rumos. A zebra passa cada vez mais tempo com outros animais de sua espécie em uma área protegida, mas ainda visita a rinoceronte para cochilos ocasionais. Já Daisy, que hoje pesa cerca de 500 quilos, continua no santuário, aprendendo a conviver com outros rinocerontes órfãos.
Apesar da separação gradual, a expectativa de Nieuwoudt é que ambas possam um dia retornar à vida selvagem. Talvez, no futuro, rinoceronte e zebra ainda possam se encontrar nos campos africanos, não mais como órfãs, mas como sobreviventes de uma amizade improvável que lhes deu uma segunda chance.