Por Fátima Chuecco (da Redação)
Se já era doloroso imaginar o horror vivido pelos 37 animais encontrados mortos em 2012 na frente da casa de Dalva Lina da Silva conhecida como “a matadora de animais” da Vila Mariana (SP), com o julgamento de hoje foi descoberto um cenário ainda mais chocante e revoltante. O laudo cadavérico apontou que os animais foram amarrados (ou imobilizados) numa provável posição de crucificação, com pernas unidas e braços abertos para que Dalva pudesse injetar no peito deles um pré-anestésico indicado apenas para animais de grande porte e não para morte induzida. E isso não é o pior.
Todos os 37 cães e gatos tinham várias perfurações no peito numa tentativa insana de se localizar o coração deles. A cadelinha entregue nas mãos de Dalva, horas antes de ser morta, tinha 18 perfurações. Por conta desse método aplicado por uma pessoa completamente leiga em medicina veterinária, os animais sucumbiram por hemorragia interna. E como as agulhas usadas eram finas, a morte pode ter levado de 15 a 30 minutos absolutamente dolorosos e angustiantes. A droga de uso controlado, injetada por Dalva no corpo dos animais, ainda potencializou o sofrimento.
O laudo foi apresentado por um mestre no assunto, o doutor Paulo Cesar Mayorca, professor do departamento de patologia da faculdade de medicina veterinária da USP. Ele constatou também que os animais não foram mortos todos na mesma noite, mas em dias diferentes. Isso sugere que Dalva foi acumulando os corpos antes de descartá-los todos juntos. Outra constatação também choca: nenhum dos animais apresentava doença terminal ou lesão que comprometesse a saúde deles. Eles eram saudáveis e alguns, inclusive, castrados e prontos para adoção.
Dalva confessou seis mortes
Segundo o advogado de acusação, Rodrigo Barbosa Carneiro, contratado pela ONG Adote um Gatinho, que é a entidade que move a ação, Dalva se manteve fria o tempo todo, sem esboçar nenhum arrependimento e confessou ter matado seis dos animais alegando que estavam doentes, em estado terminal. Na audiência anterior ela negou ter matado qualquer animal, mas no julgamento de hoje assumiu a morte de seis e disse que não sabe como os demais foram parar na sua porta. No entanto, tantos os animais que ela confessou ter matado quanto os demais, estavam embalados em jornal e ensacados juntos.
Condenação
A juíza do caso solicitou um prazo para dar a sentença. Rodrigo acredita que saia dentro de 15 a 20 dias. Ele disse também que, embora Dalva seja ré primária, nesse caso não cabe mais pagamento de cesta básica. Dalva está sendo julgada por crimes contra a fauna com o agravante da morte dos animais e também por uso de medicamentos controlados que ela alega ter recebido de “veterinário amigo de amiga”. Diz também que “aprendeu a usar as drogas com veterinário amigo da família”. Mas não se lembra do nome de mais ninguém.
Dalva vendeu a casa onde residia na Vila Mariana (SP) e hoje se divide entre uma casa na cidade de Agudos do Sul (PR) e um apartamento na Aclimação (SP). Um tempo atrás, em entrevista concedida à TV Record, no Paraná, ela disse que “ama os animais” e até se tornou vegetariana por causa deles. Cada uma daquelas “vidinhas”, largadas no asfalto depois de serem cruelmente mortas, foi testemunha disso que Dalva chama de “amor”.
Motivação
Estudos feitos pelo FBI apontam que uma esmagadora parcela de psicopatas (mais de 85%) começa sua trajetória torturando e matando animais, às vezes na adolescência ou até mesmo na infância. É uma espécie de “treino” antes de migrarem para vítimas humanas. Por conta disso e para garantir maior segurança de pessoas e de animais, a partir do próximo ano, quem maltratar e matar animais nos EUA terá um julgamento igual ao de qualquer outro criminoso.
Os psicopatas podem praticar assassinato em série (ao longo de semanas, meses ou anos – conhecidos como serial killers) ou em massa (quando muitas mortes são cometidas ao mesmo tempo). Caso Dalva venha praticando esses crimes há anos, ela se encontra nas duas categorias. Mas essa pode nem ser a pior notícia. A pior é: psicopatas não têm cura. O prazer sádico de matar acompanha os psicopatas por toda a vida.
Revolta
“Nunca tinha ouvido falar de um caso desse nível. Acredito que ela fazia isso por maldade. Uma pessoa dessas não tem conserto”, diz Roseli Albuquerque, professora aposentada. Maria José Ferreira, conhecida como Zezé Protetora dos Animais, acompanha o caso desde o começo: “Nunca perdi a Dalva de vista. Foi feita uma estimativa que ela pode estar fazendo isso há dez anos, o que resultaria na morte de milhares de animais de uma forma muito trágica e dolorosa. Uma vez psicopata, sempre psicopata. Isso faz parte do ritual de vida dela”.
A professora Daniele Fragoso diz que ficou muito chocada com o caso: “A frieza da Dalva, o descaso com que as leis tratam episódios desse tipo, o comportamento de uma pessoa capaz de chegar a um crime desse tamanho, tudo isso me chocou. Na minha opinião, a solução seria mudar as leis para privá-la de ter acesso aos animais porque a mentalidade dela não vai mudar, isso não vai acontecer nunca”.
Quer acompanhar o inquérito 018/2012 em detalhes? Acesse o link.
E veja as matérias anteriores, incluindo entrevista com o advogado de acusação e detalhes do caso em:
Caso Dalva. A história ainda não acabou!
Matadora de animais será julgada dia 4 em São Paulo (SP)