O Japão realizou nesta semana um leilão de carne de baleia-comum (Balaenoptera physalus), espécie incluída recentemente na lista de animais permitidos para caça comercial. A ação marca a expansão da exploração desses cetáceos ao longo da costa japonesa, levantando críticas sobre o impacto ambiental e ético dessa prática.
Na última quinta-feira (12), cerca de 1,4 toneladas de carne de baleias-comuns capturadas em Hokkaido foram leiloadas em Sapporo e no porto de Shimonoseki. Nesse último, a carne da cauda, considerada uma iguaria chamada “onomi”, atingiu o valor de US$ 1.312 por quilograma, segundo autoridades locais.
A caça comercial de baleias foi retomada em 2019, após o Japão ser retirado da Comissão Baleeira Internacional (CBI), entidade que protege a baleia-comum desde 1976 devido à caça excessiva. Embora o governo japonês tenha afirmado que essas populações se recuperaram no Pacífico Norte, grupos conservadores, como o Dolphin & Whale Action Network, discordam. “Essas baleias foram quase extintas pela caça, e sua presença na costa japonesa ainda é incerta”, afirmou Nanami Kurasawa, líder da organização.
Este ano, o Japão estipulou uma cota de captura de 60 baleias-comuns, das quais metade já foi morta, além de uma cota combinada de 379 indivíduos de outras espécies, como baleias-minke, de Bryde e sei. Especialistas apontam que a retomada da caça comercial ocorre em um momento em que o consumo de carne de baleia está em declínio, reforçando o caráter controverso da prática.
Historicamente, a carne de baleia foi vital para alimentar a população japonesa no pós-guerra, com o consumo anual chegando a 233 milhões de toneladas em 1962. No entanto, a demanda despencou ao longo das décadas, atualmente limitada a cerca de 2 milhões de toneladas anuais. Nobuhiro Kishigami, especialista em caça indígena, afirmou que a carne é hoje mais cara que outras proteínas e consumidas principalmente nas cidades baleeiras, mas notadamente em grandes centros como Tóquio.
Apesar da queda no interesse, a Kyodo Senpaku Co., única operadora de frota baleeira em larga escala, declarou determinação em manter a atividade. A empresa lançou neste ano o navio Kangei Maru, avaliado em US$ 49 milhões, e abriu lojas automatizadas de carne de baleia, planejando inaugurar mais de 100 unidades nos próximos anos.
A persistência na caça às baleias, sobretudo espécies historicamente ameaçadas, evidencia uma desconexão com os apelos globais por práticas sustentáveis e éticas. Além de questionar o impacto ambiental, a prática desafia a senciência dos cetáceos, conhecida por sua inteligência e estruturas sociais complexas. Em um cenário de colapso ambiental e perda de biodiversidade, insistir na exploração dessas gigantes das éguas é um retrocesso que coloca em xeque o compromisso com a conservação e o respeito à vida animal.