Gabriel Bitencourt
Notícia de novembro de 2009: Dois restaurantes foram fechados, no Bom Retiro, em São Paulo, por vender carne de cachorro. Havia motivos de ordem legal – abatedouro clandestino e a proibição, no Brasil, de abate de cachorro para o consumo. Foram presos.
O fato causou comoção, não pelo aspecto legal, mas pelo cultural. “Nossa, eles pegavam cachorros na rua, matavam e vendiam a restaurantes que os ofereciam cozidos ou assados a seus clientes”, espantam-se os leitores da notícia. E é este aspecto que quero abordar, o lado ético-cultural da relação dos seres humanos para com os animais.
Detalhe da notícia: os proprietários eram coreanos e os frequentadores do restaurante, via de regra, também eram. Na Coreia, a carne de cachorro é vendida e consumida normalmente.
Em visita à Itália, certa vez vi, no espaço destinado à venda de carnes de uma grande cadeia de supermercados, um setor só para a venda de carne de cavalo.
Considerando todos estes fatos, do ponto de vista ético, pergunto: que diferença faz comer carne de vaca, de porco, de cachorro, avestruz, macaco, gato…? Aliás, o porco é, por exemplo, um animal domesticável, inteligente, limpo e usado, inclusive, na Europa, para farejar trufas, dado o fato de que seu faro seria mais apurado do que o dos cachorros.
Em meu ponto de vista, diferença ética nenhuma. Há, evidentemente, diferenças culturais (porco aqui, pode, cachorro não) e relativas aos impactos ambientais que provocam (o gado provoca mais impacto do que a criação de galinhas).
Notícia de novembro de um ano futuro: fico imaginando um cenário dado por uma mudança de postura ético-cultural-ambiental onde a espantosa notícia seria essa: Restaurante fechado por vender carne.