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Resposta à reportagem bem-estarista da Unesp Ciência

30 de agosto de 2013
5 min. de leitura
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Entre as páginas 18 e 25 da recente edição de agosto, a revista Unesp Ciência, da universidade de mesmo nome, fez uma reportagem exaltando a política bem-estarista de explorar, para fins de consumo, animais não humanos com condições ditas “humanitárias”, de redução do sofrimento explícito das vítimas da pecuária. A matéria está revoltando os abolicionistas, defensores do fim de toda e qualquer forma de exploração animal, e não é por menos.

Toda a reportagem se dedica a legitimar e popularizar perante o público leitor o ato de explorar e matar animais desde que “sem sofrimento”, tachando-o de “ético” e “humanitário” e usando para isso uma linguagem que causaria inveja aos ideólogos do “duplipensar” do regime totalitário do livro 1984, de George Orwell. É dada a impressão de que o bem-estarismo é a salvadora e definitiva solução para tornar “ética” a pecuária, ainda que esta atividade consista, em sua essência, na ação antiética de explorar e matar seres sencientes em prol da produção e consumo de produtos, alimentares ou não, de origem animal.

A matéria é objeto de indignação desde o seu título (“Sem dor na consciência”) e sua primeira figura, o corpo de um boi repartido como num diagrama de carnes, no qual se vê nomes que nada têm a ver com a natureza da pecuária, como “ética”, “respeito” e “sem violência”. A partir dali, começa a divulgação da falsa “pecuária ética”, divulgação essa que nada mais é do que uma anestesia, composta de dose cavalar de alienação, na consciência dos onívoros.

Lendo-se o texto até o fim – algo que possivelmente poucos tiveram estômago e paciência para fazer – percebemos a real intenção da reportagem: mostrar o “bem-estar animal” como uma grande oportunidade não de se estabelecer uma autêntica relação de respeito entre animais humanos e não humanos, mas sim de melhorar a qualidade das carnes, cativar clientes “exigentes” e aumentar os lucros dos exploradores de rebanhos.

Isso porque, praticamente em nenhum momento nas oito páginas da produção, houve referências aos animais explorados em si como sujeitos de direitos, como seres dotados de vontades próprias inalienáveis que devem ser respeitadas pelos humanos. Tudo que foi abordado ao redor da “preocupação com o bem-estar animal” era por motivos técnicos (perturbações comportamentais dos animais tratadas como fatores prejudiciais para a integridade da produção de carne “de qualidade”) e publicitários (promover uma falsa libertação da consciência dos consumidores, de modo a fazê-los comprar e comer “carne feliz”).

Nenhuma questão moral foi discutida ali. A postura ética vegano-abolicionista foi tratada como se sequer existisse. Os interesses dos animais foram reduzidos a meras externalidades técnico-econômicas, meras reações mecânicas a estímulos – mesmo a dor e o sofrimento são tratados como fatores tão técnicos quanto o superaquecimento de uma máquina numa indústria. As consequências da pecuária convencional, não aderente ao bem-estarismo, aos animais não foram abordadas como consequências aos animais, mas sim como algo que degrada a qualidade das carnes e repele consumidores “mais exigentes”.

Para piorar, o bem-estarismo propagandeado pela Unesp Ciência dá espaço a costumes e ações nada “humanitários”, como eletrocutar por um segundo as patas traseiras de animais que empacam ao embarque no caminhão de “carga viva” – considerando-se que eletrocutar uma pessoa por décimos de segundo já é considerado uma violência odiosa –, aprisionar porcos em baias coletivas e causar “dano cerebral severo no animal”. Isso sem falar nos desenhos que remetem à continuidade da já tradicional política de confinamento, com bois, porcos e galinhas aprisionados em cercados, e na omissão de imagens, mesmo desenhadas, de mamíferos recém-abatidos.

Adiante, nas duas últimas páginas, a reportagem menciona um estudo exploratório sobre o conhecimento dos onívoros sobre a pecuária não bem-estarista. A pesquisa apresentou a alguns entrevistados “vídeos curtos sobre o processo de criação de animais”, e convenientemente cortou as cenas de abates, “de maneira a evitar reações mais emocionais”. Ou seja, mesmo os bem-estaristas admitem que continuarão sempre existindo na pecuária cenas tão bizarras cuja carga de violência nem a mais complexa reforma de “bem-estar animal” poderá anular.

Ler a matéria vai fazer o leitor abolicionista perceber, de forma ainda mais convicta, que a versão bem-estarista da pecuária trata suas vítimas como objetos da mesma forma que as versões convencionais, porém com mais “cuidadinho” para “não danificar o produto”. Eles não deixam de ser coisas sob propriedade dos pecuaristas, os quais estão livres para matá-los e lhes retalhar os corpos para que, a muitos quilômetros dali, pessoas comam carne com a consciência anestesiada.

Tal leitura também nos faz relembrar que o problema não é o “sofrimento desnecessário” na pecuária – como se existisse sofrimento necessário ali –, mas sim a própria pecuária. Ela é que deve ser abolida, porque não é eticamente aceitável nenhuma forma de explorar animais, de tratá-los como propriedade, de assassiná-los para consumo num contexto em que as alternativas veganas são viáveis e às vezes abundantes.

Por mais que o lobby pecuarista insista em se aliar com a mídia e até mesmo com as universidades para propagar mentiras e ilusões sobre ser “eticamente aceitável” escravizar e matar animais para consumo, não passará nenhuma tentativa de alienar a sociedade. Sempre que um veículo de comunicação, como a revista Unesp Ciência, tentar passar a imagem de animais “felizes” sendo “eticamente” exterminados e legitimar a crença escravocrata de que os animais não humanos existem para nos servir, haverá abolicionistas prontos para desmontar os argumentos usados e desmascarar o bem-estarismo.

Porque, no final das contas, os animais não querem ser aprisionados com “dignidade”, explorados com “respeito” e assassinados de formas “humanitárias”, mas sim ser seres livres, sujeitos e senhores de suas próprias vidas e corpos. E isso só o vegano-abolicionismo pode proporcionar. Nunca o bem-estarismo, que nada mais é do que uma contrarreforma dos sistemas de exploração animal para tentar torná-la legítima e aceitável e aumentar os lucros de quem ganha dinheiro derramando sangue animal inocente.

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