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Responsabilidade se aprende: nova lei exige que tutores de cachorros na Espanha façam curso preparatório

17 de março de 2023
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Quem quiser ser tutor de um cachorro na Espanha terá que fazer um curso preparatório, de acordo com a nova lei de bem-estar animal aprovada no país.

Depois de muita polêmica e mudanças no texto, essa é a primeira lei nacional em defesa dos direitos animais a ser aprovada na Espanha. O principal objetivo anunciado é prevenir maus-tratos e o abandono de animais domésticos.

Entre várias novidades, está a exigência de que tutores de cachorros contratem um seguro de responsabilidade civil contra terceiros que cubra possíveis danos a pessoas ou outros animais.

A brasileira Viviane Amaral, que tutela dois gatos, dois pássaros e um cachorro, diz que já tem um seguro e considera essa exigência uma boa medida.

“Uma vez meu cachorro foi atacado, quando era filhote, por outro que estava sem coleira e tive que acionar o seguro para os gastos veterinários dele”, conta a paulista que mora na Espanha há 15 anos.

O curso obrigatório para ter um cachorro em casa será gratuito e só precisará ser feito uma vez, segundo as informações disponíveis até o momento. Além disso, o governo espanhol informou que a capacitação será online, mas ainda não detalhou como será a formação.

“Não acho necessário um curso dessa maneira como está sendo planejado. Em vez de gastar recursos com isso, o governo deveria financiar outras coisas mais importantes e vitais, como a vacinação e a castração, que aqui são caras. Também investir em áreas para animais, por exemplo, porque na região onde moro estão sujas e mal conservadas”, critica a brasileira.

Quem tem uma opinião diferente sobre isso é Audrey Acosta Matteucci, tutora de um cachorro em Madri. “Acho essencial esse curso porque muitas pessoas querem ter um animal doméstico mas não fazem a lição de casa, que é estudar sobre a raça e o tipo de mascote que pretendem ter e, por isso, há muitos casos de abandonos e maus-tratos”, diz a paulista.

Multas pesadas

A nova lei, criada para proteger animais domésticos e silvestres em cativeiro, será rígida com quem cometer infrações. As consideradas leves custarão entre 500 a 10 mil euros (R$ 2.780 a R$ 55 mil) As graves, entre 10.001 e 50 mil euros (até R$ 278 mil) e as consideradas muito graves podem chegar a 200 mil euros (mais de R$ 1 mi).

Para evitar o abandono de animais, a nova lei é dura. Deixar um cachorro sozinho em uma sacada por mais de 24 horas, por exemplo, pode dar multa. Algo que em alguns países poderia ser considerado até normal, na Espanha terá o peso de uma infração leve.

A ideia é que o animal tenha um lugar para se proteger do calor, chuva ou frio. A exceção será para gato, hamster ou pássaro enjaulado – o tempo máximo que podem ficar sozinhos é de até três dias.

Os gatos terão que ser castrados antes de completar seis meses de idade. Só ficam de fora os gatos registrados como reprodutores, desde que isso seja feito por um criador oficial.

A lei também obriga que todos os animais domésticos devem ser registrados, identificados e levar um microchip.

Audrey considera que na Espanha já existe um grande controle sendo feito com os animais e seus tutores.

“Logo que cheguei com a minha cachorra em Madri, procurei um veterinário para registrá-la e o chip dela ficou ligado ao meu documento. Se ela fugir, eu não avisar a polícia, e logo ela for encontrada, serei multada. Os controles são rígidos e, por isso, aqui não tem cachorro em situação de rua”, explica.

Mais animais do que crianças

A lei foi muito debatida durante meses e não foi à toa. Na Espanha, há mais animais domésticos do que crianças e adolescentes.

O país ibérico tem cerca de 15 milhões de gatos e cachorros registrados e 6,6 milhões de pessoas com menos de 15 anos.

O setor de animais cresceu ainda mais durante a pandemia, quando muita gente procurou a companhia de um animal doméstico.

Fora das vitrines

Com a nova lei, lojas de animais também ficam proibidas de expor na vitrine e vender cães, gatos ou furões. Esses estabelecimentos só poderão comercializar pássaros, peixes e roedores, desde que sejam de criadores registrados.

Só será considerado um criador legal aquele que tiver registro de criador de animal doméstico. Essas lojas terão um ano de prazo para se adaptar e seguir a nova lei.

Para a presidente da Federação Espanhola de Proteção Animal (FEPA), essa é uma lei super necessária, que foi muito pedida tanto pelas entidades que defendem os animais como pela sociedade espanhola.

“Mas também tem várias falhas e uma delas é não ter incluído os animais que têm atividades profissionais, por exemplo”, explica Isabel González.

Não estão na lei cachorros que são utilizados para alguns trabalhos como pastoreio, cães de polícia, de resgate, de caça, os que acompanham pessoas com deficiência, e cavalos utilizados para terapias e animais que são utilizados para reprodução.

Os circos já não poderão exibir animais silvestres, como leões, girafas ou elefantes. As brigas de galo também serão consideradas ilegais, assim como o uso de animais em feiras ou eventos culturais como recreação.

Tradição taurina

Os polêmicos e cruéis espetáculos de touros não são mencionados na nova lei de bem-estar animal e não há mudanças nessa área.

De certa maneira, as touradas estão protegidas por serem reconhecidas por outra lei nacional (de 2013) como patrimônio histórico e cultural na Espanha.

“Assim como foi aprovada, esta lei trai completamente o espírito de como deveria ter sido feita porque deixou de fora outros animais, como os touros, que também deveriam ser protegidos”, diz a presidente da Federação Espanhola de Proteção Animal (FEPA).

A nova lei entrará em vigor no país ibérico seis meses após ser publicada no Boletim Oficial do Estado.

Fonte: BBC

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