Em meio ao monitoramento do trânsito, o surgimento de animais variados, e inusitados, nas proximidades das rodovias Anhanguera (SP-330) e Bandeirantes (SP-348) muda a rotina dos agentes de tráfego. Seja por meio da interação com as câmeras de monitoramento ou acuados precisando de socorro, eles chamam a atenção e motivam um preparo especializado das equipes.
Já teve onça e família de patos. Papagaios, falcões e gaviões costumam dar o ar da graça em pausas rápidas nas torres. E capivaras com frequência dão trabalho aos profissionais da concessionária Autoban.
O coordenador de tráfego e funcionário da Autoban há 20 anos, João Moacir da Silva, lembra de alguns casos.
“A onça [2009] foi na altura do km 70, apareceu bastante debilitada e ficou deitada no canteiro central. É diferente pra gente. É um animal bem mais feroz. Nós garantimos a segurança dela no canteiro desviando o tráfego, aguardamos a chegada do Corpo de Bombeiros e da Mata Ciliar”.
“Tem situações com capivara, que é um animal bastante comum no nosso sistema, e precisa de cuidado, porque é um animal arisco. O animal fica bastante estressado”.
“A família de patos [2016] que saiu para a rodovia e ficou no canteiro, a mãe com vários filhotes… Nós tivemos que parar o tráfego”, conta Silva.
Nos últimos seis anos, 275 animais silvestres foram resgatados e encaminhados para a Associação Mata Ciliar, em Jundiaí (SP), que há cerca de dez anos possui parceria com a empresa.
Os últimos tempos são de uma demanda menor se comparado às épocas de seca severa, quando as queimadas contribuíam para o aparecimento de animais com maior frequência próximo das faixas de rolamento.
Preparação
Segundo o coordenador de tráfego – atualmente com 54 anos, sendo 32 de experiência com estradas – todos os colaboradores passam por treinamento e reciclagem de tempos em tempos para saber lidar com os animais, preservando a segurança dos animais, do trânsito e deles próprios.
“Se não está ferido, a gente procura não fazer a captura, mas afugentar ele. Mas, se estiver machucado, faz a captura e remove para a Mata Ciliar. As viaturas estão preparadas para qualquer tipo de evento. Na hora que aparece, causa um pouco de transtorno, principalmente para o usuário”, explica Silva.
São ao todo 200 agentes de monitoramento, sendo a maior parte formada de inspetores de tráfego, além de profissionais que atuam nos guinchos e das equipes de resgate.
A informação sobre animais chega até eles de formas variadas: pelo sistema de monitoramento, por viaturas que ficam 24 horas em inspeção nos trechos, e pelo usuário, que informa por 0800 ou nas caixas de chamada ao longo das rodovias.
“As ocorrências são bem divididas entre as duas rodovias. A Anhanguera é mais urbanizada e a Bandeirantes tem mais campos. A onça foi na Anhanguera. É o desmatamento, condomínios que são construídos, e o animal acaba chegando na zona urbana da cidade”, afirma o coordenador.
Flagrados pelas câmeras
O Sistema Anhanguera-Bandeirantes conta com 106 câmeras de monitoramento de tráfego. Elas são suficientes, segundo a concessionária, para cobrir quase 100% do trecho administrado pela Concessionária – de São Paulo a Cordeirópolis (SP).
Entre as aves que já visitaram as torres das câmeras de monitoramento do Sistema Anhanguera-Bandeirantes, há desde espécies ameaçadas de extinção a falcões e gaviões.
O G1 consultou a bióloga Giselda Person para entender mais sobre quem são esses animais e os hábitos deles. Veja, abaixo:
Tucano – sua característica marcante é seu bico enorme. Se alimenta de frutos, insetos e, às vezes, comem ovos e filhotes nos ninhos. Vive aos pares ou em bandos. Sobrevoa campos, matas e rios.
Chupim – normalmente vive em bando, habita paisagens abertas, em vegetação gramínea, pastos e parques. Alimenta-se de insetos e sementes, ocasionalmente de frutos.
Quiriquiri – utiliza a torre como poleiro fixo para caçar. Durante a caça, voa a pouca altura do solo. É uma ave de rapina de pequeno porte, alimenta-se de insetos, lagartos, pequenos roedores e aves, cobras e morcegos. Ocupa margens de estradas e ambientes abertos.
Gavião-carijó – tem um papel importante no equilíbrio de algumas espécies de animais, como é o caso de ratos e pombos nos centros urbanos. O gavião na imagem, abaixo, ainda é jovem. Possui ampla distribuição geográfica e, com isso, tem hábitos alimentares bem generalistas, como insetos, aves, lagartos, cobras e morcegos. É comum ver casais voando juntos.
Caracará – é da família dos falcões. Comum principalmente em gramados nas margens das rodovias, campos abertos, cerrados, borda de matas e cidades. Seus hábitos alimentares também são generalistas, alimenta-se de quase tudo o que acha, animais vivos ou mortos. Em áreas urbanas, até restos de carne encontrados nos lixos das casas servem de alimento. Também caça insetos, répteis, anfíbios, pequenos roedores e aves. Pode ser visto sozinho, aos pares ou em grupos.
Papagaio-verdadeiro – essa espécie quase desapareceu das cidades e do campo, pois foi muito capturada e traficada. Atualmente, voltou a ser observada com maior frequência. Ainda é ameaçada de extinção, mas a presença é maior devido à preservação nos dias de hoje. Vive em florestas, áreas com árvores e palmeiras. Normalmente os papagaios são observados em casais, mas também podem ser vistos em bandos. Alimenta-se de sementes e frutos.
Pica-pau-do-campo – espécie que vive em casais ou pequenos grupos. Alimenta-se de insetos e larvas, encontradas em troncos de árvores, cupinzeiros e gramados. Se estabelece em áreas de campos e cerrados. Sua vocalização serve para a marcação territorial e também é um meio de comunicação entre o casal.
Fonte: G1