Embora ainda desconhecida, uma reserva florestal distante apenas 40 km de Campo Mourão (PR) está sendo considerada um dos poucos paraísos ainda existentes no noroeste do Estado. Trata-se da Reserva Biológica das Perobas, uma unidade de conservação do Governo Federal administrada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade. Lá, Willian Menq, um jovem pesquisador de apenas 21 anos de idade, decidiu dedicar parte de seu tempo para realizar um levantamento sobre a avifauna local. Como resultado ele acabou descobrindo raras espécies de animais. “É como se fosse uma verdadeira Arca de Noé”, disse.
Com aproximadamente 8,7 mil hectares, a floresta está localizada entre os municípios de Tuneiras do Oeste e Cianorte. Embora tenha passado às mãos do governo ainda em 2006, ela sempre pertenceu à Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, que ao longo dos anos preservou esse remanescente, tornando-se o mais importante do noroeste do Paraná, principalmente, devido ao seu tamanho. “Ela acabou se tornando o único refúgio da fauna silvestre da região”, explicou.
Menq é um daqueles jovens entusiastas que sempre soube o que iria fazer da vida. Estudante de graduação em Ciências Biológicas pelo Cesumar, de Maringá, ele já é membro do Projeto Gaviões de Penacho, fundado em Santa Catarina pelo ornitólogo Jorge Albuquerque. Por vocação, ainda realiza pesquisas com conservação e ecologia de aves de rapina. Na Reserva das Perobas, seu objetivo é realizar o levantamento de espécies das aves de rapina – gaviões, águias, falcões e corujas – estimando a composição e abundância destas. De acordo com ele, a maioria dos registros está sendo documentado por fotografias.
Aves de rapina
Segundo explica o pesquisador, as aves de rapina, como são predadoras, têm um importante destaque na cadeia alimentar. Elas podem ser utilizadas como “bioindicadoras” da qualidade ambiental da reserva, uma vez que a maioria é sensível a ação do homem. “Além disso possuem um papel importantíssimo no controle de populações de animais, garantindo o equilíbrio no ecossistema”, diz. As aves de rapina também controlam espécies consideradas pragas como “roedores” e algumas aves nocivas a agricultura. De acordo com ele, a ausência desse grupo na reserva desequilibraria a comunidade de presas e afetaria até mesmo a vegetação de forma indireta.
Um dos principais motivos que levou Menq a realizar a pesquisa na Reserva das Perobas é o fato de que a avifauna local ainda era desconhecida. “Minha pesquisa com aves de rapina é inédita na reserva. Os dados foram de grande importância para a unidade”, explicou. Além disso, segundo ele, o fato de a reserva ser a única floresta de grandes dimensões e isolada na região acabou se tornando o refúgio da fauna no noroeste paranaense, uma verdadeira “arca de Noé”, abrigando uma grande diversidade de espécies. A Pesquisa tem duração de um ano. Menq está recebendo orientação de dois doutores: Rosilene Delariva e Jorge Albuquerque.
Fauna
“Sem dúvida a biodiversidade dessa floresta é impressionante, nela habitam predadores como onças-pardas, além de veados-catingueiros, bugios, macacos-prego e diversos outros animais”, informou o pesquisador. Em suas visitas ao local também não é raro encontrar pegadas de antas. Ele já viu cachorros do mato, e teve um encontro especial, quando achou um animal interessante e pouco conhecido: a irara – mamífero carnívoro pouco menor que um cachorro-do-mato. “Já me deparei com tamanduá-mirim e com bandos de queixadas”.
Em se tratando de aves, a reserva apresenta diversas espécies de tucanos, araçaris, pica-paus e outras aves. Quanto às aves de rapina já foram identificados o gavião-carijó, gavião-de-cabeça-cinza e o raro e ameaçado gavião-pato, espécie que consta na lista vermelha do estado. Habitam também o urubu-rei e a coruja-dos-banhados.
Em relação à vegetação, Menq explicou que a reserva possui a rara vegetação de transição de floresta estacional semidecidual e a floresta ombrófila mista, ambas como um tipo vegetacional do bioma de mata atlântica. Nela predominam as perobas, muitas centenárias que ultrapassam facilmente os 15 metros. Araucárias e palmitos também são comuns.
Conservação
A Reserva das Perobas, segundo o pesquisador, não sofre com desmatamento. Mas atividades de caça ainda persistem, sendo esta a principal ameaça. Lá é possível ver trilhas clandestinas, armadilhas e outros rastros de caçadores. “Eles vão lá e caçam animais como queixadas, veados e cotias, destruindo a sua biodiversidade”, diz. No entanto, a unidade vem fiscalizando com rigor, verificando as questões como caça, retirada de flora e fauna. “Eles realizam um trabalho muito bom que devo elogiar”, frisou.
Recentemente a Reserva das Perobas implantou a “Operação Bicho”, projeto de combate à caça, que abrange desde a educação ambiental com os moradores e comunidades até a repressão aos caçadores ilegais. Por ser um projeto amplo e continuado, os trabalhos contam com apoio, cooperação e ações conjuntas do Instituto Chico Mendes, IBAMA, Polícia Ambiental e Rodoviária, IAP, Poder Judiciário, Polícia Federal, Exército e outras organizações da sociedade civil.
Fonte: Tribuna do Interior