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Reserva protege urso andino e outras espécies de animais no Peru

23 de maio de 2009
3 min. de leitura
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Depois de passar anos acorrentada e tratada como mascote de uma família peruana, a ursa Yinda foi levada até a Reserva de Chaparrí. Lá, pouco a pouco, foi desatando seus laços com os humanos e readaptando-se ao seu verdadeiro habitat. Um dia, aproveitando uma caída de árvores que destruiu a cerca do seu terreno, seguiu seu extinto, despedindo-se enfim da vida domesticada que levava. Hoje, Yinda tem ao menos dois filhotes (de acordo com avistamentos esporádicos), e é um dos poucos exemplares do Urso Andino (Tremarctos ornatus) que vivem de forma silvestre na América do Sul.

O programa de resgate e reintrodução do Urso Andino, desenvolvido na Reserva Ecológica de Chaparrí, no norte do Peru, é o primeiro do país a se dedicar à espécie em risco de extinção. Consiste na recuperação dos ursos em situação ilegal confiscados pelas autoridades peruanas, assim como na identificação e monitoramento dos animais em estado selvagem que habitam os 35 mil hectares da Reserva. Estima-se que há 50 indivíduos silvestres no lugar. Depois da primeira experiência acidental em 2002, a equipe pretende realizar este ano a segunda reintrodução, desta vez controlada.

Refúgio de outras espécies ameaçadas como a Pava Aliblanca, o Condor andino, o Guanaco e o Pitajo de Tumbes, a Reserva abriga mais de 200 tipos de aves, 15 de mamíferos, 22 de repteis, além de muitas espécies endêmicas do ecossistema de Bosque Seco, situado nas regiões norte do Peru e o sul do Equador. Segundo especialistas, o alto grau de endemismos deste bioma é decorrente de sua posição longitudinal, que permite a interação da corrente fria de Humboldt com a corrente quente equatorial.

Chaparrí também é a primeira área de conservação privada do Peru. O mais interessante se deve ao fato de que o proprietário não é uma pessoa e, sim, toda uma comunidade. A iniciativa surgiu há dez anos, quando os campesinos de Santa Catalina de Chongoyape decidiram abandonar antigos hábitos predadores para se comprometer com um novo pensamento: a preservação e a divulgação da fauna e flora do lugar.

“Antes, caçávamos ursos para nos sentirmos mais “valentes” e vendermos algumas partes do seu corpo que, segundo as lendas da região, servem como amuletos e afrodisíacos. Atualmente sabemos que os animais vivos tem muito mais valor do que os mortos”, conta Juan Carrasco, agricultor e um dos dez antigos caçadores que se transformaram em guias turístico da Reserva.

O projeto de ecoturismo de Chaparrí oferece pacotes com hospedagem, alimentação e serviço de guiado e gera, ao todo, 30 postos de trabalho. Cerca de U$30 mil já foram deixados pelos turistas, estudantes de biologia, ornitólogos, veterinários e outros curiosos que chegam do mundo todo. O dinheiro foi revertido em educação, saúde e infra-estrutura para a comunidade.

“Os campesinos são convidados para participar de conferências sobre meio ambiente e turismo sustentável em várias cidades da América e Europa”, explica o peruano Heinz Plenge, que iniciou seu trabalho como fotógrafo de natureza em Chaparrí, na década de 70. Mais de 30 anos depois, Plenge decidiu se mudar para a zona, associar-se à comunidade e ensinar aos seus vizinhos a importância de proteger o lugar: “A maior quantidade de esforços humanos e econômicos estão concentrados na Amazônia. Pelos Bosques Secos e sua rica biodiversidade quase nada havia sido feito”.

“Éramos analfabetos em conservação, mas hoje aprendemos o significado desta palavra”, explica o senhor Carrasco. Quando perguntamos sua idade, ele responde: “Tenho 8 anos”, descontando todo o tempo que viveu como caçador.

Por: Maria Emília Coelho (UOL Bichos)

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