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ESTUDO

Repelentes olfativos são eficazes contra atropelamentos de animais em estradas?

Certos odores podem afugentar animais da margem das rodovias e diminuir a quantidade de atropelamentos. Mas a medida também tem suas desvantagens.

4 de julho de 2024
Thais Ranzi
2 min. de leitura
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O corço (Capreolus capreolus) foi uma das espécies estudadas – Foto: Alchemist hp/CC-BY-SA-3.0

É sabido que medidas de mitigação são cruciais para reduzir as colisões entre veículos e fauna nas rodovias. No entanto, fatalidades continuam ocorrendo e ameaçando diversas espécies. Por isso, é sempre válido estudar abordagens de mitigação alternativas e menos custosas às mais usuais – ou que possam complementá-las. Uma dessas abordagens se dá por meio dos repelentes olfativos.

Ao exalar um odor específico, esses produtos sinalizam, por exemplo, o perigo de um predador nas imediações. Isso acaba gerando uma resposta de fuga nos indivíduos da espécie-alvo, evitando que os animais se aproximem da rodovia e diminuindo a chance de um atropelamento. Pelo menos é o que mostra um estudo publicado pela revista Journal of Environmental Management, que realizou uma extensa pesquisa com repelentes olfativos em ungulados (grupo de mamíferos com cascos na extremidade das patas, tais como cervos, antas e porcos-do-mato).

A pesquisa foi conduzida na Europa e utilizou um desenho amostral do tipo BACI (Before-After Control-Impact, em português: Antes-Depois Controle-Impacto) para testar a efetividade dos repelentes olfativos na redução da mortalidade desse grupo de animais. Os pesquisadores concluíram que a instalação de dispositivos com repelentes diminuiu entre 43%-60% as mortes de ungulados por colisão.

Qual o revés dessa medida de mitigação?

Com efeito similar a uma cerca, ao impedir a passagem de animais de um lado para outro da rodovia, os repelentes diminuem o movimento das espécies entre os lados da estrada. Isso pode levar ao isolamento de populações e aumento de outros problemas gerados pela fragmentação do hábitat. Ainda, o próprio estudo mostra que a diminuição nos atropelamentos foi mais evidente nas primeiras semanas de aplicação da medida, já que há uma tendência dos animais se habituarem com o odor constante no ambiente e não mais responderem ao estímulo. A sugestão dos pesquisadores é utilizar esse dispositivo em períodos de pico de mortalidade nas rodovias.

Outra questão que parece carecer de respostas é: enquanto um odor é aversivo para uma espécie, poderia ser atrativo para outra, como a do próprio predador? Isso não geraria efeitos indesejados para outros grupos da fauna?

Uso de diferentes técnicas de mitigação deve ser pensado

Ampliar o leque da mitigação é sempre importante. Dito isso, o uso dos repelentes deve ser pensado de forma estratégica e aplicado a contextos espaciais e temporais onde essa, de fato, seja a melhor solução. Deve-se sempre buscar um planejamento que integre outras medidas, como as estruturas que permitem a passagem segura da fauna.

A crescente urbanização provoca aumento de fluxo nas rodovias, o que demanda aberturas de novas estradas e duplicação das já existentes. Enquanto as rodovias recebem investimentos em melhorias para os usuários humanos, devemos demandar, no mesmo nível, investimentos em medidas de mitigação efetivas para a fauna.

Fonte: Fauna News

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