EnglishEspañolPortuguês

OBJETIFICAÇÃO

Rena como troféu: a conquista histórica do esquiador brasileiro e uma tradição que ignora os avanços éticos atuais

A premiação é um exemplo do choque entre o esporte moderno e costumes que ainda tratam animais como símbolos de posse.

16 de novembro de 2025
Redação ANDA
2 min. de leitura
A-
A+
Foto: Christophe Pallot/Agence Zoom/Getty Images

O esquiador brasileiro Lucas Braathen fez história no domingo (16/11) na etapa de Vuokatti, na Finlândia, ao conquistar o topo do pódio na temporada 2025/26 do esqui alpino. Mas, desta vez, o que chamou atenção não foi apenas o desempenho impecável nas pistas cobertas de neve. A imagem do atleta posando ao lado de uma rena entregue como parte da premiação volta a expor uma tradição que já não encontra espaço em um mundo mais consciente e ético.

Braathen recebeu, além dos 47 mil francos suíços (cerca de R$ 313 mil), uma rena, um animal considerado símbolo da região. A cerimônia, que chegou a contar com a presença do Papai Noel, revela como a humanidade ainda precisa avançar bastante em termos de consideração moral. Em um contexto de novos entendimentos éticos e científicos, transformar um ser senciente em objeto de celebração esportiva continua sendo uma escolha difícil de justificar.

A rena, um macho batizado pelo atleta como “Bjorn” em homenagem ao pai, não será levada ao Brasil e não corre risco de morte. Ficará em uma fazenda licenciada na Lapônia, segundo os organizadores. Para quem acompanha o debate sobre direitos animais, porém, o problema não está no destino específico do animal.

Silvana Andrade, jornalista e presidente, afirma que a discussão ultrapassa o caso individual. “Mesmo que a rena receba cuidados adequados, o ato de oferecê-lo como prêmio alimenta uma lógica arcaica de que vidas não humanas podem ser tratadas como troféus, brindes ou propriedades. É uma narrativa incompatível com o que sabemos hoje sobre senciência e direitos animais”, explica.

A tradição finlandesa de presentear renas em eventos esportivos remonta a um período em que a relação com a natureza era marcada pela exploração. Silvana lembra que costumes culturais não estão imunes à revisão. “Sociedades evoluem. E quando uma tradição fere princípios éticos, ela precisa ser confrontada e modificada. Não é diferente do que fizemos com outros rituais antes considerados aceitáveis, mas que hoje são reconhecidos como formas de crueldade”, afirma.

Nota da Redação: até quando práticas que transformam animais em objetos de celebração continuarão sendo aceitas sem reflexão? No esporte, o pódio define vencedores. No debate ético, porém, a chegada ainda está em aberto.

    Você viu?

    Ir para o topo