Um efeito colateral da explosão de pessoas em situação de rua em São Paulo está preocupando os sem-teto. O xeque Rodrigo Jalloul, que está à frente de um centro islâmico na capital e atua junto ao padre Júlio Lancelllotti distribuindo quentinhas, denuncia que já recebeu, ao menos, quatro denúncias de morte de cães por envenenamento. Como a maioria da população que perambula pela capital tem animais domésticos, o religioso atribui os casos a um aumento da intolerância contra as pessoas em vulnerabilidade tanto por parte de comerciantes quanto de moradores da capital.
Na quarta-feira (13-02), em seu perfil no Twitter, Jalloul exibiu a foto de um cão, muito magro e com sinais de envenenamento, que ele encaminhou para uma clínica veterinária. Segundo ele, o animal está em estado grave e deverá permanecer ao menos três dias internado. “Olha esse olhar, não podia deixar ele sofrer e morrer na rua”, publicou Jalloul, que contou ter agido a pedido do dono do animal, que já tinha perdido outro cachorro por envenenamento dias antes. Ele divulgou o número de PIX (011-992790473) para quem puder ajudar nos custos do tratamento.
“Quase toda pessoa em situação de rua tem seu animal. Eles fazem companhia e ajudam a enfrentar a solidão das ruas. Além disso, são como seguranças dessas pessoas. Os catadores, por exemplo, que têm seus carrinhos, contam com eles para vigiar o material enquanto dormem. A questão dos animais de estimação dos moradores de rua é um importante fator a ser considerado pela prefeitura, pela assistência social. Muitos deles não aceitam ir para abrigos, por exemplo, porque eles não recebem os animais ou os mantêm em gaiolas. Quem gosta de seu animal não aceita isso”, diz Jalloul.
A própria prefeitura estimou, no último censo realizado, que existam hoje cerca de 32 mil pessoas nas ruas de São Paulo. Um levantamento do final do ano passado feito pelo Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua da UFMG aponta que atualmente cerca de 48,6 mil pessoas estão no Cadastro Único (Cadúnico) e viveriam nas ruas da capital paulista. Ou seja, quatro em cada dez de pessoas em situação de rua no país.
Jalloul, que tem dez cachorros resgatados da rua, disse que, dos cinco relatos de envenenamento recebidos de pessoas em situação de rua, dois foram na Mooca, onde foi resgatado o último animal e morreu um outro, e três na região da Penha. O religioso afirmou que a veterinária atestou que o cão socorrido na última quarta-feira (13-02) foi vítima de veneno.
“Em geral, as pessoas que não querem as pessoas morando na rua em seu entorno dão chumbinho para os animais. O produto estoura o animal por dentro. Tenho distribuído ração fracionada para evitar mais violência, mas não temos, infelizmente, quantidade suficiente para todos. Os abrigos de São Paulo não costumam aceitar as pessoas com seus animais, o que reduz a busca pelo serviço porque elas não querem se afastar de seus cachorros”, critica.
Fonte: O Globo