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RELATÓRIO

Relatório mostra que o 0,1% mais rico do planeta emite mais carbono em um dia do que metade da população em um ano

Segundo estudo da Oxfam, emissões ligadas aos bilionários aumentam ainda mais quando se consideram seus investimentos em empresas altamente poluentes

31 de outubro de 2025
Mayra Castro
6 min. de leitura
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Área com projetos de crédito de carbono na Amazônia. Foto: Fred Rahal & Idesam/Divulgação

Enquanto o Brasil se prepara para receber líderes mundiais para a COP30, em Belém, onde irão discutir estratégias e negociar esforços para conter as mudanças climáticas, é importante considerar os impactos das desigualdades sociais na crise climática. É o que mostra o relatório divulgado pela Oxfam nesta quarta-feira, cujos dados indicam que as emissões de gases de efeito estufa estão diretamente ligadas à renda: o 0,1% mais rico do planeta emite mais CO₂ em um dia do que metade da população em um ano.

Isso porque, enquanto os 50% mais pobres do mundo emitiram apenas 0,8 toneladas de carbono no ano de 2023, o 0,1% mais rico foi responsável por 298 toneladas emitidas. Isso significa que uma pessoa pertencente a esse grupo lançou mais de 800 kg de CO₂ na atmosfera por dia, contra 2 kg das classes mais baixas.

Com isso, o relatório mostra que o estilo de vida poluente dos super-ricos está contribuindo para esgotar o limite de emissões de CO₂ que a humanidade ainda pode liberar sem ultrapassar o aquecimento global máximo considerado seguro para o planeta. Se toda a população mundial emitisse como o 0,1% mais rico, o orçamento de carbono seria esgotado em menos de três semanas.

Os dados indicam ainda que esse número está aumentando nas últimas décadas. Desde 1990, a percentagem das emissões do 0,1% de super-ricos subiram 32%, enquanto a liberação desses gases entre os 50% mais pobres diminuiu 3%.

“A crise climática é uma crise de desigualdade. Os indivíduos mais ricos do planeta financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria da população mundial paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”, afirma Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.

As emissões ligadas aos bilionários aumentam ainda mais quando se considera que muitos deles investem em companhias altamente poluentes, que mantêm a dependência mundial de combustíveis fósseis. A Oxfam estima que os investimentos de um bilionário médio resultam em 1,9 milhão de toneladas de CO₂ por ano — volume de emissões equivalente ao de quase 10 mil voltas ao redor do mundo em um jato particular.

Além disso, quase 60% dos investimentos dos bilionários estão concentrados em setores com alto impacto climático, como petróleo, gás e mineração. Com isso, emitem, em média, duas vezes e meia mais carbono do que os investimentos incluídos no índice S&P Global 1.200. Somadas, as emissões das carteiras de apenas 308 bilionários superam as de 118 países juntos.

Crise climática no mundo

A Oxfam também demostrou que o lançamento de gases na atmosfera não é distribuído de forma igualitária entre os países. Em seu relatório, a organização cita um estudo realizado em 2020 por Jason Hickel que mostra que os Estados Unidos saem em disparada como maiores emissores, sendo responsáveis por 40% da crise climática.

Na sequência, vem a União Europeia, com 29% de responsabilidade pela emissão dos gases, seguida pelo resto da Europa (13%) e o resto do norte global (10%), enquanto o sul global fica com apenas 8%.

Não é a toa que maioria (86%) dos 0,1% mais ricos vive no norte global e produzem 6% de todas as emissões do mundo. Mas a pesquisa destaca que os super-ricos que vivem em países mais pobres também são responsáveis. No Brasil, a crise climática também pode ser relacionada à desigualdade.

“Os mais ricos, muitos deles ligados a setores poluentes, como o agronegócio, e à extração de recursos, emitem centenas de vezes mais do que a maioria da população, enquanto comunidades periféricas, indígenas, quilombolas e lideradas por mulheres negras arcam com as piores consequências. São elas que enfrentam enchentes, calor extremo e falta de serviços básicos, num claro exemplo de racismo ambiental”, destaca Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

Como consequência, o relatório estima que as emissões do 1% mais rico do mundo devem causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor até o fim do século, além de gerar US$ 44 trilhões em danos econômicos a países de baixa e média renda até 2050. Com isso, populações que estão entre as que menos contribuíram para a crise climática serão mais impactados pelos seus efeitos.

A Oxfam calcula que, para que o aquecimento global não ultrapasse o limite máximo de 1,5 °C, o 1% mais rico da população mundial precisaria reduzir suas emissões per capita em 97% até 2030 — e o 0,1% mais rico, em 99%.

Para isso, Behar destaca a importância de combater o lobby em importantes conferências como a COP 30. Na COP 29, que aconteceu no Azerbaijão, em 2024, foram concedidas 1.773 credenciais a lobistas dos setores de carvão, petróleo e gás, segundo a Oxfam — mais do que o número total de representantes dos 10 países mais vulneráveis ao clima.

“Precisamos quebrar o controle dos super-ricos sobre a política climática: taxar suas fortunas, proibir seu lobby e colocar as populações mais afetadas no centro das decisões”, concluiu o diretor-executivo da Oxfam Internacional.

Fonte: O Globo

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