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CRISE

Relatório global alerta: a desconexão ecológica ameaça a vida na Terra

14 de outubro de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

O planeta vive uma crise silenciosa e devastadora: a quebra das conexões naturais que mantêm a Terra viva. Um novo relatório global mostra que rios, florestas, pastagens e solos, os tecidos vitais do planeta, estão sendo fragmentados a um ritmo alarmante, comprometendo a segurança alimentar, a disponibilidade de água e a própria sobrevivência de milhões de espécies, incluindo a humana.

O Relatório Global sobre Conectividade Ecológica e Restauração da Terra, lançado durante o Congresso Mundial de Conservação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em Abu Dhabi, foi produzido pela Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD) em parceria com a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS). O estudo revela que cerca de um terço das terras do planeta já foi profundamente transformado pela ação humana, deixando ecossistemas degradados e desconectados.

As paisagens naturais, antes entrelaçadas por fluxos de água, nutrientes e espécies, tornaram-se mosaicos quebrados. Mais de 60% dos rios do mundo foram represados ou desviados. O Mekong, que já abrigou a maior pesca continental do planeta, é agora cortado por barragens que interrompem as migrações dos peixes e ameaçam a segurança alimentar de milhões de pessoas. No Serengeti–Mara, as cercas e a expansão agrícola bloqueiam as rotas seculares de gnus e outras espécies selvagens, pondo em risco um dos últimos grandes espetáculos naturais da Terra.

A fragmentação não se limita aos rios ou savanas. O avanço de rodovias, ferrovias e cidades divide habitats e cria “ilhas de natureza” cercadas por concreto. Estima-se que a malha viária global aumentará 60% até 2050 — um crescimento que intensificará a pressão sobre ecossistemas já frágeis.

As consequências são graves. Quando a conectividade se rompe, os solos empobrecem, as colheitas encolhem, as secas se tornam mais intensas e as comunidades ficam mais expostas a inundações e incêndios. Hoje, a degradação da terra já afeta 40% da superfície terrestre e ameaça diretamente quase metade da população mundial. A forma como produzimos alimentos — somada à expansão urbana, à poluição e às mudanças climáticas — está provocando o colapso da teia ecológica que sustenta a vida.

A secretária executiva da UNCCD, Yasmine Fouad, resume a urgência: “A vida no planeta depende de sistemas de terra e água saudáveis, não apenas para a natureza, mas para as pessoas. Quando essas ligações se rompem, os mais vulneráveis sofrem primeiro. Restaurar ecossistemas também significa restaurar as conexões entre eles: precisamos reconectar para restaurar e restaurar para reconectar.”

Ecossistemas saudáveis são a verdadeira infraestrutura da natureza. Eles garantem o fluxo das águas, protegem contra eventos climáticos extremos e sustentam o abastecimento de alimentos e água potável. Restaurar a terra em larga escala significa também capturar carbono, reduzir riscos de desastres, preservar biodiversidade e criar empregos sustentáveis.

A secretária executiva da CMS, Amy Fraenkel, reforça que a proteção de habitats isolados não é suficiente. Sem corredores ecológicos e redes naturais restauradas, as espécies migratórias — de felinos e antílopes a peixes e aves — continuarão desaparecendo. “Esses animais são peças fundamentais de ecossistemas saudáveis. Proteger seus caminhos é proteger o nosso futuro comum.”

O cientista-chefe da UNCCD, Barron Orr, alerta: “Quando o solo se exaure e os rios se contaminam, a recuperação é lenta e cara. A prevenção e a restauração em larga escala são muito mais eficazes do que esperar o colapso para tentar reparar os danos.”

Há, contudo, exemplos inspiradores. O Cinturão Verde Europeu conecta 24 países, do norte da Europa ao Mediterrâneo, formando uma das maiores redes ecológicas do mundo. Na Costa Rica, corredores de fauna restauraram florestas, favoreceram o retorno de espécies como o jaguar e fortaleceram economias locais com o ecoturismo. Na Bolívia, comunidades indígenas utilizam práticas tradicionais de agrofloresta para recuperar paisagens e diversificar a renda, mostrando que o conhecimento ancestral é essencial para a resiliência climática.

O relatório chega no ponto médio da Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas (2021–2030), e reforça que metas globais de clima e biodiversidade só serão alcançadas se os países agirem juntos, com políticas que integrem conectividade ecológica, gestão do solo e infraestrutura sustentável.

Não se trata apenas de salvar a natureza, trata-se de restaurar a própria teia da vida de que dependemos.

Fonte: Revista Amazônia

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