Desde a exclusão dos cães da raça Bully XL no Reino Unido, iniciada em fevereiro de 2023, uma realidade enfrentada por esses animais foi marcada pela crueldade e pelo abandono. Dados obtidos pela BBC, por meio da Lei de Acesso à Informação, revelam que mais de 100 cães dessa raça foram condenados à morte mensalmente na Inglaterra e no País de Gales. Somente nos primeiros oito meses do ano, 818 cães foram sacrificados, mais que o dobro do registrado em 2022, enquanto outros 1.991 foram aprisionados em canis superlotados, aguardando um destino semelhante.
O Bully XL foi incluída na lista de raças proibidas no Reino Unido após uma série de ataques graves atribuídos a esses cães. Contudo, o foco no banimento ignora o papel crucial dos humanos na criação, socialização e cuidado desses animais. Em vez de implementar políticas que promovam a educação sobre a guarda responsável e programas de reabilitação, a legislação penaliza diretamente os cães, seres sencientes e incapazes de compreender a razão do seu sofrimento.
De acordo com a nova lei, apenas tutores que obtiveram certificados de autorização podem manter cães da raça, desde que cumpram regras regulatórias, como a castração e o uso constante de focas em espaços públicos. Mesmo assim, muitos animais acabam sendo renunciados por seus tutores devido às dificuldades impostas pelas restrições, o que muitas vezes resulta na morte dos cães.
O impacto da legislação sobrecarregou os canis policiais e os recursos públicos. Com instalações lotadas e custos exorbitantes para manter os animais aprisionados, o governo já gastou cerca de £ 25 milhões (R$ 159,6 milhões) no cuidado temporário e no descarte dos corpos. Muitos cães permanecem em confinamento por meses, aguardando a identificação de sua raça, um processo que requer conhecimento especializado e, muitas vezes, prolonga o sofrimento dos animais.
Mark Hobrough, chefe de polícia do Conselho Nacional de Chefes de Polícia (NPCC), classificou a situação como uma “pressão significativa” sobre as forças policiais, que precisam absorver os altos custos da nova legislação sem suporte financeiro adicional. Enquanto isso, cães considerados “perigosos” são sacrificados por veterinários após decisões judiciais ou quando seus tutores os abandonam.
O governo britânico estimou inicialmente a existência de cerca de 10.000 cães Bully XL na Inglaterra e no País de Gales. No entanto, dados recentes indicam que esse número ultrapassa os 57.000, revelando a falta de disposições das autoridades para lidar com a exclusão. Ainda mais alarmante é o fato de que os dados oficiais sobre ataques de cães não discriminaram as raças envolvidas, deixando sem comprovação uma justificativa para o banimento.
De acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais, 16 mortes resultaram de ataques de cães nos primeiros nove meses de 2023, em comparação com seis em 2022. No entanto, responsabilizar uma raça específica pelos ataques, sem considerar fatores como negligência humana e criação convencional, perpetua estereótipos e resultado na morte injustificada de animais.
A concessão de raças como o Bully XL, pit bull terrier e outros, reflete um sistema que trata os animais como específicos, ignorando sua sensibilidade e capacidade de sofrer. Em vez de combater a raiz do problema — como a criação irresponsável e o treinamento inadequado —, o governo opta por medidas que condenem cães inocentes a uma vida de sofrimento e morte prematura.
Esse cenário levanta uma questão ética urgente: até quando a sociedade continuará tratando os animais como prejudiciais pelo resultado de práticas humanas irresponsáveis? É preciso compensar a forma como as legislações são elaboradas, priorizando a educação, a reabilitação e o respeito à vida animal, em vez de soluções simplistas que perpetuam a crueldade.