Monica Faria
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Recebi este relato da moradora Luiza, de Petrópolis, no RJ, e repasso, importante publicar para que as pessoas tenham idéia do que ocorre e AJUDEM!
A todos os amigos que se preocuparam, todos os cães e eu estamos bem. Estamos sem luz, sem telefone, internet, sem água (que foi cortada pelo risco de contaminação dos corpos dentro dos rios), poupando bateria de celular. Entre minha casa e a primeira curva havia 7 barreiras e deslizamentos, mas a estrada já foi liberada para moradores e consegui fazer chegar a ração que havia faltado.
Todos os moradores do meu condomínio deixaram suas casas a pé, a água subiu a uns 2 metros para dentro do condomínio e duas casas que ficavam mais baixas, perto do rio foram varridas com perda de tudo dentro (uma está inteiramente rachada). Eu fiquei aqui “com os ratinhos do navio”. Minha casa não tem mais cercas pela ação da água e os cães estão presos em um local menor e não entendendo o porquê de não serem soltos.
De hoje para amanhã perto de mim as coisas devem melhorar, talvez com luz e, daí,com celular. Vim até uma lanhouse para escrever a todos os que foram maravilhosamente incríveis procurando notícias e oferecendo ajuda. A primeira melhor ajuda que cada um poderá dar é adotar os cães das protetoras de Teresópolis, para que possamos abrir espaço para os que teremos que resgatar.
Nem todas as protetoras do estado dariam conta do sofrimento que sei que não vou conseguir descrever para vocês.
A segunda ajuda será certamente financeira, porque estes cães estão paralíticos, fraturados, sendo comidos por bicheiras dos ferimentos e começando a ser apedrejados pela população com medo de doenças ao vê-los em estado desesperador e começando a se atacar entre eles por fome.
Vagam pelas ruas em desamparo sem socorro. Sinto tanto por estar fornecendo o número da minha conta, e nem tenho ideia do aporte financeiro que será necessário.
A cidade é o Haiti, nas regiões mais afetadas o cheiro está insuportável, os corpos chegam em caminhões baú, 60, 80 de uma vez. Ou levados pelos moradores que ainda têm carro, em pickups, caminhonetes, fuscas. Não se consegue fazer uma contagem oficial, os que foram computados são apenas os que foram reconhecidos. Pessoas passam boiando pelos rios.
Pelas ruas os corpos estão amontoados, ou sob escombros que máquina nenhuma conseguirá retirar. Começam-se a encontrar pés, braços. Os animais ficaram para trás em casas trancadas, sem comida ou água, ou no alto das ribanceiras despencadas, andando de um lado para outro em desespero, sem conseguir descer.
Os poucos moradores que deixam suas casas arrastando animais desesperados chegam no local onde são recolhidos pela Defesa Civil para descobrir que não poderão levar seus animais para os abrigos. São então abandonados às dezenas neste local.
Tem chovido intermitentemente, mas não forte, mas as próximas previsões são assustadoras. Os bairros onde sobraram casas em pé serão totalmente evacuados por conta do rompimento da barragem do rio mais afetado. Mais animais estarão sem socorro de qualquer espécie. Não tenho ideia de como será possível para cada um de nós andar pelas ruas sem poder socorrer a todos.
Ao lado de minha casa é o sítio por onde as pessoas cruzavam o rio para chegar ao outro lado do asfalto, fugindo das catástrofes. Era como um êxodo de guerra, levas de pessoas, sempre em silêncio profundo, adultos carregando suas crianças e seus bebês, homens vergados sob o peso do que era possível carregar nas costas. Todos de cenhos franzidos, idosos em passos arrastados, todos com estórias para contar de terrores inimagináveis. Doem, por favor doem.
Qualquer coisa, ou de tudo um pouco. Faltam, além de todo o básico óbvio na cidade, velas, fósforos, pilhas de todos os tamanhos, lanternas, medicamentos. A prefeitura se mobilizou e comprou todo o estoque das farmácias que, mesmo assim não dá conta, então faltam medicamentos para as equipes de resgate e para os moradores. Já existem casos de leptospirose e de tétano, e o número vai aumentar exponencialmente nos próximos dias.
A cidade hoje está sendo saqueada, pedestres estão apanhando nas ruas. Acho que perto de minha casa estarei em segurança. O outro lado desta estória é o trabalho incansável e incessante das equipes de todas as procedências, trabalhando madrugadas adentro sem cessar, no breu, na chuva, no risco, nos deslizamentros. São os que liberam estradas, reolocam postes, levam e buscam moradores, doações, resgatam, tratam, socorrem. São repórteres chorando em frente às câmeras por não suportar a visão do que é indescritível. Vou tentando dar notícias nos próximos dias.
Minha conta vai abaixo, mesmo que eu não tenha acesso a banco atualmente. Já ficam aqui meus agradecimentos, porque não sei se conseguirei retornar a cada um de vocês individualmente para agradecer devidamente.
Bradesco
Ag 2801
CC 5177-2
(Luiza Pinheiro)
CPF 667573127-00
Meu beijo a vocês, meu obrigada pelo que já fizeram, minha emoção pelo que ainda vão fazer,
Luiza