Antes considerados inimigos naturais, cães e gatos podem até desenvolver uma bela amizade dentro de casa. Mas, quando chega a hora de ir ao veterinário, a coisa fica mais complicada. Para evitar o estresse dos bichanos, o veterinário especialista em felinos André Gatti acaba de inaugurar em São Bernardo a Gatto de Botas, primeira clínica e pet shop exclusiva para gatos no Grande ABC.
A iniciativa, mais comum nos Estados Unidos, ainda é raridade no Brasil. Em todo o País existem apenas outras seis, metade no Estado de São Paulo (duas na Capital e uma em Campinas). Bahia, Santa Catarina e Paraná contam com uma especializada cada um. A expectativa de Gatti é que o território reservado unicamente para a gataria faça com que ele dobre o número de consultas de 40 para 80 mensais.
“Muitos proprietários hesitam em levar seus gatos no veterinário por causa do estresse que a situação causa”, observa Gatti. “Ao contrário dos cães, que adoram passear, o gato é mais caseiro. Ele não gosta de sair do ambiente dele. Então, a visita ao veterinário já começa com o desgaste de sair de casa. Aí, quando ele chega na recepção da clínica, vai ter de esperar atendimento ao lado de vários cachorros desconhecidos. Ou seja, quando entra na sala de exame já está tão estressado que fica até difícil examinar”, diz o especialista.
Gatti afirma que, inclusive, esse abalo emocional acaba prejudicando o resultado dos exames e complicando o diagnóstico. “Ao contrário dos cães, que são animais já 100% domesticados, os gatos ainda guardam muito do comportamento selvagem, de predador. Então, quando eles sentem uma dor, ficam quietinhos. O cachorro late, uiva, gane, pede ajuda do humano. O gato, não. Fica no silêncio para não correr o risco de atrair predadores. Essa é uma memória dos tempos em que ele vivia na natureza”, explica.
Esse jeito discreto pode retardar o tratamento e complicar a recuperação. “Por isso é importante oferecer ambiente propício para eles e para seus tutores, que também tendem a ser pessoas mais tranquilas e observadoras”, descreve o veterinário, que tem 12 anos de experiência clínica e está apostando em um nicho em crescimento acelerado.
De acordo com dados da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), atualmente no Brasil existem aproximadamente 37,1 milhões de cães e 21,3 milhões de gatos. Apesar do crescimento de cães – que em 2011 eram 35,7 milhões –, o aumento dos gatos é maior: o número atual significa alta de 8,19% em relação a 2011. A estatística reflete a procura por esse tipo de animal em grandes cidades, onde a vida em apartamentos requer animais menores e mais independentes. O crescimento das populações de ambos foi de 5,4%. “Nos Estados Unidos e na Europa, os gatos já são maioria. Justamente por causa da verticalização das cidades. Além disso, geralmente quem tem gato, tem mais de um. A maioria dos meus clientes tem três ou quatro”, afirma o veterinário especializado em felinos André Gatti.
Normalmente um gato saudável deve fazer consultas (que custam cerca de R$ 100) semestrais ao veterinário, tomar vacinas anualmente (cerca de R$ 130) e tomar vermífugos (R$ 45) a cada quatro meses se tiver acesso à rua e a cada seis meses se for caseiro.
Os banhos podem ser mensais. A Gatto de Botas oferece banhos de ofurô (R$ 60) ou banhos especiais de imersão com cromoterapia e aromaterapia (R$ 70). A clínica ainda oferecerá exames. Com todos os cuidados, um gato castrado que não tenha acesso à rua alcança idade entre 16 e 17 anos. “Tive um paciente siamês que chegou a 22 anos”, conta o veterinário.
Em compensação, gatos machos não castrados com acesso à rua dificilmente passam dos cinco anos de idade. Atropelamentos, encontros com cães e chumbinho (tipo de veneno) estão entre as causas mais frequentes de morte destes animais.
Fonte: Diário do Grande ABC