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Refugiado iraniano luta para salvar animais de dentro de uma prisão na Nova Guiné

17 de setembro de 2017
4 min. de leitura
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O iraniano Shoushtari, de 43 anos, tornou-se uma personalidade bastante conhecida na prisão. Ele é muito alegre e possui uma sensibilidade particular em relação ao envolvimento das crianças com o mundo.

Foto: Reprodução, The Guardian

Sua presença na prisão é um paradoxo: sua personalidade em conflito com a prisão de maneiras fundamentais. Shoushtari projeta beleza, ternura, gentileza e sua existência é contrária à violência do local, ao poder e à barbárie do encarceramento.

Há quatro anos, Shoushtari conseguiu chegar à Ilha Christmas, mas o governo australiano o exilou para a Ilha Manus logo depois, onde ele está preso desde então. Ele já recebeu o status de refugiado e há anos espera ser transferido para um país seguro.

Shoushtari é um ativista pelos direitos animais; um papel inusitado para um preso. Ele continua defendendo os animais da mesma maneira que fazia no Irã.

Ao pôr do sol, ele coloca as sobras dos alimentos em um prato de plástico e dá aos caranguejos que vivem na ilha. Quando questionado por que alimenta os animais, ele diz: “Os caranguejos vivem aqui nesta ilha há séculos. Eles estavam aqui antes que a prisão fosse construída. Porém, ao construir esta prisão, nós violamos seu território. Eles possuem todo o direito de comer nosso alimento”.

Ele não alimenta somente os caranguejos. Durante anos, o refugiado também tem sido um companheiro amável para os cães abandonados que percorrerem os arredores da prisão. Ele fez o possível para fornecer comida para os cães famintos por trás das grades.

Como resultado de suas ações, alguns dos refugiados e guardas reclamaram e seu ativismo fez com que os animais famintos da ilha o procurassem. Foi alegado que Shoushtari causava problemas para o local. Mas ele continuou a tratar os cães com carinho, vivendo de acordo com sua simples filosofia de que “os cães também possuem o direito de comer bem”.

Depois que a Suprema Corte de Papua Nova Guiné declarou que a prisão de Manus era ilegal, ele teve a oportunidade de levar um dos cães para dentro do local. Ele levou o cão mais magro e assumiu a função de cuidar dele. Seu nome é “Leopard” (leopardo).

“Este cão estava extremamente deprimido e desnutrido. Estava aterrorizado com os seres humanos e, quando ofereci comida, tornou-se tímido como um leopardo e pegava a comida que eu lhe dava escondido e comia atrás das barracas. Desde o dia em que testemunhei isso, o chamei de Leopard porque era tão magro e frágil. E agora cresceu e ficou tão gordo, tornou-se tão alegre, é tão saudável quanto é possível. É como um leopardo real, como um leopardo poderoso”, contou.

Shoushtari sorri enquanto conta a história. Ele também se referiu a um pato do qual cuidava e que deixou com um amigo no Irã.

Foto: Reprodução, The Guardian

“Eu tinha um pato de cinco anos, tinha deixado ele com um amigo no Irã. Nosso barco havia desaparecido no oceano por cinco dias. Quando todos pensavam que morreríamos em breve, tive um sentimento que me apontou que não morreria. Eu experimentava esse sentimento sempre que pensava sobre o meu pato – eu senti que meu amor e bondade em relação a ele me ajudariam, meus sentimentos em relação ao meu pato iriam impedir o barco de afundar, sentia que minha conexão emocional com ele acabaria salvando minha vida”, acrescentou.

Quando questionado sobre seu amor pelos animais, ele responde: “É amor. Em minha opinião, não é necessário dar razões para o amor. O amor é um assunto pessoal, é um estado existencial. Mas, em minha opinião, se um humano não ama os animais, eles são incapazes de amar os seres humanos”.

Shoushtari não é apenas popular e conhecido entre os refugiados na prisão, até mesmo os guardas reconhecem sua personalidade. Todo mundo o respeita e admira seu caráter e dignidade.

De acordo com Shoushtari, há alguns guardas que até o chamam de “Homem pato”. Ganhar este apelido é motivo de felicidade para ele, que acredita que é um título honorável; especialmente em circunstâncias em que esses mesmos guardas chamam os outros refugiados pelo número.

Shoushtari tem uma personalidade muito tocante e uma natureza extremamente poética. O refugiado tem planos para o futuro e está determinado a colocá-los em prática quando for libertado. Ele quer trabalhar como mecânico como fazia no Irã e também tem esperança de ler literatura inglesa. Outro dos seus sonhos é criar um centro para animais abandonados. “Os animais também têm o direito de viver bem”, finaliza.

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