Faz quase dois anos desde que os Talibãs retomaram o poder do Afeganistão, extinguindo quase na totalidade os poucos direitos que as mulheres tinham. Instaurada a repressão e a tortura, muitas tiveram de dizer adeus ao seu país e fugir para os vizinhos. Especialmente, aquelas que manifestavam contra o Governo.
Freshta Siddiqui começou a fazer as malas mal teve oportunidade. Com a sua família a ser procurada pelos Talibãs, por ser ativista dos direitos das mulheres, sabia que não podia ficar muito tempo no país. O primeiro passo foi despedir-se dos seus companheiros de quatro patas.
Em fevereiro de 2022, sete meses depois da tomada do povo terrorista, a cidadã afegã tomou a decisão difícil de enviar o seu cão Lucky, o seu pastor da anatólia de três anos, e o seu gato Leo, num avião com centenas de outros animais, em direção ao Canadá.
Os animais ficaram ao cuidado da Sociedade de Prevenção da Crueldade Animal (SPCA), e foram rapidamente colocados em casas de acolhimento, até a sua tutora e a mãe dela poderem entrar no país como refugiadas.
Lucky começou por ficar no abrigo da organização, com o objetivo de encontrar uma família que o acolhesse temporariamente. Contudo, Lori Kalef, diretor de projetos da SPCA Internacional, disse que a sua ansiedade de separação e o seu trauma só dificultaram o processo.
Freshta e Lucky tinham uma relação muito especial e insubstituível. Quando a afegã viu o cão a ser maltratado por miúdos, que lhe estavam a atirar pedras, não resistiu a intervir: “Fui lá, agarrei-o e levei-o para casa”, contou ao canal canadiano CBC News.
E Lucky devolveu o favor, ao alertar a família para a presença de Talibãs, na sua casa, em setembro de 2021: “Ele ladrou e avisou-nos de que os estranhos já estavam dentro de casa, e que estávamos sob ataque”.
O cão acabou por encontrar uma casa em Portland, onde pode brincar e praticar o seu estranho fetiche de abrir as portas. Pelo menos, até à sua tutora aparecer do outro lado.
Ainda que Freshta e a sua mãe tivessem conseguido sair do Afeganistão três meses depois de Lucky e Leo, o gato que ficou na casa de uns amigos, demoraram ainda dez meses a estabilizarem-se, para conseguirem ir buscá-los.
Assim que encontraram uma casa recetiva a animais domésticos, foram encontrar-se com o seu patudo, que não via há mais de um ano, no parque Peace Arch Provincial. Freshta e Lucky abraçaram-se, como se nunca tivessem saído dos braços um do outro: “Estou cheia de felicidade e sentimento de gratidão”, disse a tutora.
“O Lucky significa paz, significa família. Significa uma parte do meu coração que tinha desaparecido e que voltou, agora que o tenho comigo”. Agora, os dois podem recomeçar juntos.
Fonte: Pets in Town