Os cães não devem ser uma extensão dos desejos dos tutores e uma forma de se mostrar o status social ou o poder económico. Levar os animais ao cabeleireiro, tratá-los como se fossem pessoas, não significa que seja o melhor para o animal. A opinião é da veterinária municipal de Benavente, Vanda Lobato, que é também responsável pelo canil municipal. Para um cão ser bem tratado e feliz “não é preciso dar-lhe a melhor ração. É preciso é que ele compreenda o tutor”, explica a veterinária.
Vanda Lobato, que considera a relação entre humano e animal a mais pura que existe, é contra os extremismos no tratamento dos animais. “Os concursos de beleza caninos são tal e qual como a moda. É um mundo muito artificial que certas pessoas usam para mostrar o seu poder económico”, aponta. Confrontada com o facto de haver pessoas que vivem com dezenas de animais em apartamentos ou vivendas, Vanda afirma que se as pessoas não têm condições para cria-los, mais vale estarem abandonados.
A veterinária lembra o caso de um homem que vivia numa casa com 50 cães. “Foi difícil convencê-lo que não podia ter aqueles animais todos ali mas com o tempo foi doando grande parte deles a amigos e conhecidos”, conta. A veterinária considera que as pessoas têm-se desligado do prazer e da partilha que é possível estabelecer com um animal de quatro patas. Vanda Lobato confessa que às vezes tem que se conter para não levar animais para casa. No apartamento onde vive já tem um cão e dois gatos e apesar de gostar de ter mais, está consciente que não tem condições para tal. “As pessoas têm que viver de acordo com a sociedade. Eu não posso sujeitar os meus vizinhos ao barulho e aos eventuais maus cheiros porque tenho a vontade de abrigar mais animais”.
É raro o canil ter que resgatar animais vítimas de maus-tratos. A responsável do canil municipal desde 2004 não atribui o facto de o espaço com capacidade para 30 cães estar praticamente cheio à crise económica. “Estão aqui bastantes cães que vamos recolher à rua. Depois há situações em que as pessoas por problemas de saúde deixaram de poder tomar conta dos animais e vêm entregá-los com as lágrimas nos olhos. Ainda há casos em que os cães começam a crescer, a perder pêlo e a dar muito trabalho e os tutores não estão dispostos a cuidar deles”. A veterinária tenta mantê-los o máximo de tempo possível no canil. Outros são abatidos por serem vítimas de atropelamentos ou porque chegam aos centros de recolha em estado terminal ou em sofrimento.
Canil de Benavente tem promovido a adopção de animais
O canil tem promovido a adopção de cães que tem decorrido muito bem. Atendendo ao facto de até agora não se ter registado a devolução de nenhum cão que tenha sido adoptado por uma família. Nem há memória de algum destes sido recolhido numa situação de abandono. Os cães que saem do canil têm um microchip e a vacina anti-rábica em dia. Vanda assegura os cuidados veterinários e António Oliveira é o tratador dos animais. Este admite que o trabalho é duro mas recompensador pois acaba por desenvolver uma certa afeição pelos animais.
Vanda Lobato considera que limitar a dois o número de cães por apartamento, como pretendia o Ministério da Agricultura, pode não ser uma medida justa. E Sublinha que a quantidade não está relacionada com o tratamento que é dado aos animais. “Normalmente as pessoas que têm mais animais domésticos são aquelas que os tiraram da rua”, explica. A aplicar-se esta limitação iria aumentar o número de cães abandonados. “O canil já esta lotado. Se isto avançasse o que é que fazíamos aos cães?, questiona.
*Esta notícia foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores
Fonte: O Mirante