A produção mundial de peles caiu drasticamente nos últimos dez anos, atingindo seu nível mais baixo desde 2010, segundo dados divulgados pela Fur Free Alliance. O setor, que já foi um dos pilares da indústria da moda, registrou uma queda de 85% na última década, com um declínio de 40% apenas em 2024 em comparação ao ano anterior. Ativistas afirmam que os números refletem uma mudança significativa no comportamento de consumidores e marcas, que estão cada vez mais rejeitando o uso de peles animais.
A China, maior produtor global de peles, viu sua produção reduzida à metade entre 2022 e 2023. No ano passado, 21 milhões de visons, raposas e cães-guaxinins foram criados para a indústria de peles em todo o mundo — uma queda significativa em relação aos 34,5 milhões de 2022. Os visons continuam sendo os animais mais explorados, com 14,1 milhões criados em 2023, seguidos por 3,5 milhões de raposas e 3,2 milhões de cães-guaxinins.
Nos últimos anos, diversos países adotaram medidas para banir a criação de animais para peles. Noruega, antigo maior produtor mundial de pele de raposa, e Holanda, que já foi um grande produtor de pele de vison, estão entre as nações que implementaram proibições. Além disso, a pandemia de Covid-19 expôs os riscos associados às fazendas de peles, onde surtos da doença foram registrados em centenas de locais na Europa e na América do Norte. Esses episódios levaram governos a repensar a viabilidade e a segurança dessas operações.
Investigações realizadas por organizações de proteção animal revelaram condições cruéis nas fazendas de peles, incluindo animais mantidos em gaiolas de arame, sinais de sofrimento mental, ferimentos e doenças. Comportamentos abusivos por parte de trabalhadores também foram documentados, ampliando a pressão pública contra a indústria
A Fur Free Alliance, coalizão que reúne organizações de proteção animal, celebrou o declínio da produção como uma “grande vitória para os animais”. Brigit Oele, gerente da coalizão, destacou que mais de 1.600 marcas de moda já se comprometeram a abandonar o uso de peles, incluindo grandes nomes do setor. O British Fashion Council, por exemplo, proibiu o uso de peles na London Fashion Week a partir de 2023, estendendo a medida para peles de animais exóticos em 2024.
No entanto, a batalha contra o comércio de peles ainda não está encerrada. Algumas marcas e celebridades continuam a defender o uso do material, apesar das críticas éticas e dos riscos à saúde pública. O cantor Pharrell Williams, diretor criativo da Louis Vuitton, foi alvo de protestos por usar peles em suas coleções.
“Milhões de animais ainda sofrem e morrem a cada ano por um produto desnecessário”, afirmou Oele. “Nosso trabalho continuará até vermos o fim dessa indústria cruel em todo o mundo.”
Enquanto a produção de peles diminui, a moda sustentável ganha espaço, com alternativas como couro vegano e materiais sintéticos sendo cada vez mais adotados. A queda histórica na produção de peles sinaliza uma transformação cultural e um passo significativo em direção a uma indústria da moda mais ética e consciente.