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INCÊNDIOS FLORESTAIS

Recorde de queimadas no pantanal nos últimos anos ameaça espécie de cobra exclusiva do bioma

Desde 2020, alta frequência de incêndios, impulsionados por mudanças climáticas e políticas ambientais inadequadas, ameaça fauna de anfíbios e répteis

19 de novembro de 2024
Ana Bottallo
5 min. de leitura
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Cobra-d’água (Helicops leopardinus) encontrada morta durante período de queimadas. Foto: Gabriela do Valle

O aumento dos incêndios no pantanal desde 2020 provocou a morte de milhões de vertebrados no bioma, além de ter afetado o regime hidrológico e aumentado os casos de doenças respiratórias nas cidades da região.

Um levantamento recente do ICMBio (Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade) e instituições parceiras revela que a alta frequência e a intensidade das queimadas, exacerbadas pelas mudanças climáticas, também representam um sério risco para as espécies de répteis e anfíbios da região, especialmente para as mais vulneráveis ao fogo.

O estudo identificou 1.708 ocorrências de 45 espécies de répteis e anfíbios nos municípios de Barão de Melgaço e Poconé (distantes, respectivamente, cerca de 103 quilômetros e 109 km de Cuiabá), em Mato Grosso, e destacou a necessidade urgente de políticas ambientais e climáticas mais eficazes.

Segundo o levantamento, divulgado nesta segunda-feira (18) na revista Biodiversidade Brasileira, dentre os animais mais afetados estão as serpentes aquáticas e os anfíbios de grande porte, espécies que apresentaram alta mortalidade durante as expedições de emergência.

A pesquisa registrou, por exemplo, um grande número de carcaças de anfíbios e répteis, como a cobra d’água Helicops boitata, exclusiva do bioma e que foi encontrada apenas em áreas queimadas durante as campanhas emergenciais. A recorrência de incêndios, diz o estudo, pode ameaçar essa e outras espécies endêmicas.

“A maior descoberta foi encontrar uma maior proporção de répteis com hábitos aquáticos ou fossoriais [que vivem enterrados no solo] mortos durante as emergências, uma vez que se acreditava que estes grupos teriam vulnerabilidade reduzida devido à sua capacidade de se enterrar ou viverem associados aos recursos hídricos”, afirma Lara Gomes Côrtes, analista ambiental do ICMBio junto ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios.

“Além disso, H. boitata, única serpente endêmica do bioma e provavelmente ameaçada de extinção, é semiaquática e ocorre em planícies de inundação.”

Para realizar o levantamento, os pesquisadores conduziram seis expedições de 2020 a 2023, cobrindo períodos de seca e vazante. Utilizando duas abordagens distintas —uma para os momentos de emergência (durante os incêndios) e outra para monitoramento em períodos sem fogo—, as coletas incluíram a contagem de animais mortos em áreas queimadas e a amostragem de animais vivos em locais intactos.

Nas emergências, foram percorridos trajetos de até dois quilômetros para registrar animais mortos logo após a passagem do fogo. Já o monitoramento foi realizado com a chamada busca ativa (visualização direta de indivíduos) e com armadilhas aquáticas para capturar e identificar as espécies e coletar informações sobre seus habitats.

Os acessos aos locais de amostragem foram, principalmente, pela rodovia transpantaneira (MT-060) e estradas secundárias de acesso às fazendas, explica Leonardo Moreira, pesquisador do programa de capacitação institucional no Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal.

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