Se anualmente são avistadas de 100 a 120 baleias-franca pelo litoral Sul do Brasil, o ano de 2022 vem surpreendendo pesquisadores e extrapolando a estatística.
“Este ano já foram registradas cerca de 230 baleias-francas, num sobrevoo realizado pela SCPar/Porto de Imbituba (SC) no inicio de setembro. É um número alto comparado a outros anos, na verdade é o segundo maior numero de baleias já registrado em SC (o recorde anterior havia sido em 2018, 273 baleias-francas).”, explica Karina Groch, diretora de pesquisa ProFranca/Instituto Australis.
A temporada reprodutiva das baleias-francas normalmente vai de julho a novembro, quando elas se aproximam da costa brasileira para ter e/ou amamentar os filhotes.
O número de baleias-franca surpreende e, segundo a pesquisadora, pode ser influenciado pela disponibilidade de alimento. Entre tantas baleias, no entanto, alguns filhotes chamaram mais atenção.
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“O primeiro registro de um filhote semialbino neste ano ocorreu bem antes do sobrevoo, no dia 31 de julho, aqui em frente à nossa sede, na praia de Itapirubá (Imbituba). Posteriormente, durante o sobrevoo houve a avistagem de pelo menos outros três filhotes com esta característica, sendo dois em Itapirubá e um na praia do Siriú (em Garopaba)” .
Além dos três filhotes semialbinos que apareceram em Santa Catarina, outro também foi visto no Rio Grande do Sul. Todos têm de três a quatro meses.
Segundo o Programa de Pesquisa e Conservação da Baleia Franca (ProFranca), em média, um único animal com essas características é visto a cada ano.
“Esta característica conhecida como semialbinismo, ou albinismo parcial ou ainda leucismo, não é uma mutação genética, mas sim uma característica genética, onde um gene recessivo que causa a coloração branca acaba predominando e fazendo com que as baleias, que normalmente são pretas, nasçam brancas, com ausência de melanina na maior parte do corpo. Não é um albinismo legítimo pois não tem os olhos vermelhos e não sofre os problemas comuns do albinismo”, esclarece Karina que ainda acrescenta que as baleias-francas semialbinas geralmente são do sexo masculino (raramente pode ocorrer fêmeas).
As baleias semialbinas ficam acinzentadas quando crescem
Animais com coloração diferente de outros da mesma espécie podem sofrer consequências, porém, no caso das baleias-franca, ainda não há dados. “Não sabemos se há distinção entre eles, se há alguma rejeição ou algum comportamento diferenciado em função desta característica. Nem sobre fertilidade no caso dos machos, porém as fêmeas conhecidas que são semialbinas podem ter filhotes”, lembra.
Mas como saber, através das imagens, se os cinco filhotes semialbinos flagrados não são o mesmo indivíduo?
“Os filhotes recém-nascidos de baleia-franca em geral não são possíveis de foto identificar (é preciso alguns meses de desenvolvimento para isso), mas no caso dos semialbinos conseguimos, justamente por causa da pigmentação preta (pontinhos e manchinhas pretas) que ocorre nestes animais, que são característicos desde o nascimento e não mudam com o tempo. Isso possibilita o reconhecimento posterior e por exemplo podemos saber a idade destes filhotes se retornarem pra cá”, explica.
O monitoramento dessas baleias é realizado pelo Projeto ProFRANCA (Projeto Franca Austral), mantido financeiramente com patrocínio da Petrobras.
“O ProFRANCA tem como objetivo geral conservar a baleia-franca-austral tanto através da continuidade de pesquisas realizadas a longo prazo, como pela execução de metodologias inovadoras aplicadas para descobertas de novas informações biológicas sobre a espécie”, finaliza Karina.
Vídeo: YouTube | Balanço Geral Florianópolis
Fonte: G1