A equipe do Instituto Gremar encontrou uma raia morta e com uma máscara facial presa no focinho durante ação pelo Projeto Monitoramento de Praias da Bacia de Santos, na Praia da Enseada, Guarujá, no dia 2 de fevereiro. A máscara descartada indevidamente estava com as alças presas no focinho da raia, o que causou lesões.
Segundo a bióloga Rosane Farah, do Instituto Gremar, para o G1, é provável que o aninal tenha se prendido à máscara acidentalmente. “O próprio elástico ficou preso ao focinho, e ela deixou de se alimentar, e provavelmente foi isso que levou à morte do animal, além de impossibilitar a natação dele. Ele não conseguiu se locomover, porque tinha algo preso ao corpo dele”, explica ao portal.
O animal era um macho adulto da espécie popularmente chamada de raia-viola ou raia-viola-de-focinho-longo, um elasmobrânquio de família Rhinobatidae, comum na Baixada Santista. Ele foi recolhido para ser utilizado para pesquisas. A espécie é protegida por estar ameaçada de extinção – a pesca e comercialização são proibidas.
Esse foi o primeiro registro de um animal morto após ficar preso a uma máscara facial na Baixada Santista, mas os técnicos do Gremar já têm observado o descarte inadequado tanto de máscaras cirúrgicas quanto de pano no litoral. Em setembro de 2020, o Instituto Argonauta registrou o caso de um pinguim-de-magalhães que morreu ao ingerir uma máscara semelhante, que ficou embrulhada em seu estômago, em Juquehy.
Segundo Roseane, máscaras de tecido – como a que foi encontrada na raia – são mais sustentáveis por serem reutilizáveis, enquanto máscaras cirúrgicas tem uso único e permanecem contaminadas. Essas máscaras descartáveis são produzidas aos milhões, transformadas em lixo tóxico e, de acordo com o Instituto de Conservação Costeira (ICC), podem demorar até 450 anos para se decompor.
Como descartar?
Como não é possível evitar a utilização de máscaras por motivos de cuidado pessoal, é necessário focar no descarte adequado delas. “Quando a gente fala em gestão de lixo, a gente vem trabalhando a redução do consumo do plástico em si. Mas, a máscara é uma questão comportamental mesmo. Ela não pode ser descartada no chão, porque vem o vento, a chuva e acaba parando em rios e mares. Quando for descartar, colocar a máscara embalada em um saco e em um recipiente adequado”, diz Rosane.
A campanha “Elastic Cut”, iniciada no Reino Unido, foca nesse objetivo e tem ganhado tração no mundo. Ela incentiva as pessoas a cortarem as alças das máscaras após a utilização para reduzir a possibilidade de os animais ficarem presos e enroscados se o material chegar às águas.
“É uma questão de saúde de todos. Todo resíduo descartado de forma incorreta é prejudicial. É um ciclo. Temos que mudar os nossos hábitos em relação ao nosso descarte […] Todas elas [máscaras] são prejudiciais, é uma questão de saúde pública e saúde dos oceanos”, conclui Rosane.
