Por Patricia Tai (da Redação), com a colaboração de Lobo Pasolini

No último dia 16 de maio, em uma palestra em São Paulo, o ex-presidente Lula declarou que os torcedores poderiam deslocar-se para os jogos da Copa do Mundo no estádio Arena Corinthians – vulgo “Itaquerão” – de diversas formas, referindo-se a não necessidade do metrô: “Vai a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa (…).

Se a declaração do ex-presidente foi infeliz, mais infeliz ainda foi a atitude da rádio Jovem Pan que, nesta quarta-feira, decidiu “testar” a sugestão  e obrigou um jumento (“jegue”, termo usado pela rádio) a caminhar, com um repórter, até o estádio.

De acordo com informações do próprio site da rádio, o repórter Victor LaRegina saiu do estúdio da Jovem Pan, na Avenida Paulista (zona sul), e fez o percurso até o Itaquerão (zona leste), montado no animal vestido de verde e amarelo. Ele levou mais de duas horas para percorrer o trajeto de aproximadamente 22 km, segundo a reportagem.

O objetivo da rádio foi comparar diversos meios de transporte para o percurso – apesar do animal não enquadrar-se nessa classificação – e ironizar com a declaração de Lula, porém a única das “alternativas” que utilizaram seguindo o que foi dito pelo ex-presidente foi o animal. Enquanto LaRegina usou o jumento, uma outra repórter foi de carro, outro foi de metrô, e um outro foi em um ônibus especial da Fifa. Nenhum deles foi a pé, descalço, ou de bicicleta – as outras opções citadas na declaração.

“Victor LaRegina, seguindo os conselhos do ex-presidente Lula, teve problemas de deslocamento pelas vias paulistas e demorou para acessar a Avenida 23 de maio. Com muita bravura, o animal chegou à Radial Leste e encerrou sua jornada, muito atrás dos outros concorrentes”, conforme a reportagem.

Segundo o blog Esquadrão Pet , ao fazer isso, a Jovem Pan promoveu “uma campanha usando um jumento (“jegue”) como proposta de mobilidade urbana para a Copa do Mundo”, destacando também que é proibida a utilização de animais de tração e de equinos para conduzir pessoas na cidade de SP.

Os ativistas da Esquadrão Pet mobilizaram-se tentando interpelar o ato durante o percurso, porém não conseguiram impedir que o animal chegasse até a zona leste. Ao entrar em contato com a rádio por telefone, ouviram do setor de jornalismo que o animal “não se cansou (sic)”, e contam que, apesar da mobilização, nenhuma autoridade da cidade de São Paulo fez algo para impedir que o animal fosse utilizado pela rádio.

É lamentável que um veículo de comunicação de tão larga audiência como a Jovem Pan tenha tido tal ideia. Ao explorar um animal para provar algo tão óbvio, além de colocar a sua vida em risco e submetê-lo a estresse e desgaste desnecessários, a rádio reforçou o status histórico e inadmissível de exploração dos animais e ignorância de seus direitos.

O que a Rádio ignorou completamente foi a Lei 14146 que proíbe a circulação de animais, montados ou não, em vias públicas pavimentadas da cidade de São Paulo, em qualquer circunstância, com exceção do exército e da Polícia Militar.

Um meio de comunicação não pode explorar um animal simplesmente para fazer uma piada, sem qualquer consideração com o bem estar do mesmo e com o agravante de burlar a lei. A mídia não tem imunidade legal, e  seria adequado  que neste caso fossem tomadas providências legais contra a emissora.