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CLAUSURA

Quinze meses depois, girafas trazidas da África do Sul para o BioParque do Rio seguem confinadas em resort de Mangaratiba

Durante esse um ano e três meses, surgiram muitas polêmicas envolvendo a importação e o confinamento desses animais e três girafas morreram em uma tentativa de fuga

12 de março de 2023
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação | Diário do Rio

Em novembro de 2021, 18 girafas foram trazidas da África do Sul para o Brasil. Desde então, elas estão no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba. De acordo com o que foi informado há um ano e três meses, os animais ficariam no local para passar por uma adaptação para então serem transferidas para o BioParque da cidade do Rio de Janeiro. Nesse tempo, em dezembro de 2021, três dessas girafas morreram em uma tentativa de fuga, polêmicas surgiram e até o momento da publicação desta matéria não se sabe quando os animais irão para o novo zoológico do Rio.

As polêmicas começaram já com a chegada dos animais ao Brasil. O processo de importação foi autorizado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, o Ibama, todavia, o laudo inicial, feito por técnicos em janeiro de 2022, diz que os espaços que abrigam as girafas no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba, estariam fora dos padrões mínimos de conforto.

“Não havia local adequado para colocar os animais, então um galpão foi adaptado para isso. Fica evidente que seriam vendidas. O Grupo Cataratas escondeu que três girafas haviam morrido, porque tentaram fugir e foram laçadas por boiadeiros, isso está no relatório da Polícia Federal. Detalhe: introduziram animais do exterior em área rural”, afirma o professor e defensor dos animais Marcio Augelli, bastante atuante no caso dessas girafas.

Há outra questão no processo da chegada das girafas ao Brasil que também gerou mobilização entre biólogos e pessoas preocupadas com o bem-estar animal. O relatório inicial trazia a letra W (de wild, selvagem em inglês) ao se referir aos animais. Isso quer dizer que foram capturados na natureza. O artigo 18 de uma portaria do Ibama impede que animais retirados da vida selvagem sejam comercializados.

Esse relatório foi questionado e o documento encaminhado ao Ministério Público. Fiscais do Ibama autuaram o BioParque, que pertence ao Grupo Cataratas, por maus-tratos. A Polícia Federal fez uma operação no Resort. Dois funcionários foram detidos e soltos no mesmo dia.

Roberto Cabral, um dos fiscais do Ibama e autor do laudo que acusa o Grupo Cataratas de maus-tratos, foi afastado do cargo por alguns meses e só depois realocado às suas antigas funções. Ele afirmou à reportagem que prefere não falar sobre.

Esse debatido relatório foi refeito, terminando favorável a todo o processo de importação das girafas vindas da África do Sul. À época, o Ibama informou que, após notificação, os recintos foram adequados conforme a legislação e que o Instituto segue acompanhando a adaptação dos animais, por meio de vistorias frequentes. Biólogos e equipes de reportagem já tentaram visitar o local para ver as girafas, mas não conseguiram.

“Sempre mostram apenas três girafas. Cadê o resto? Se estão tão bem por que não deixaram que entrássemos para verificar isso?”, questiona Marcio Augelli.

O que diz o BioParque/Grupo Cataratas

“O BioParque do Rio reitera o seu compromisso intransigente com o bem-estar dos animais e não poupará esforços para esclarecer os fatos objeto do relatório da Polícia Federal. Todo o processo de importação seguiu rigorosamente as normas brasileiras e sul-africanas.

A empresa informa que as girafas permanecem no Portobello Safari, estão bem e evoluindo positivamente a cada dia com o manejo, que inclui o condicionamento e enriquecimento ambiental e recintos dentro das normas ambientais.

Caso foi parar na Justiça

Em janeiro de 2022, um dia após a operação da Polícia Federal, a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarega Leite, da 7ª Vara de Fazenda Pública do Rio, concedeu liminar para remoção das girafas do Resort Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba, no prazo máximo de 48 horas, com multa diária de R$ 5 mil para o BioParque em caso de descumprimento. No entanto, o caso foi transferido para a Justiça de Mangaratiba, que se negou a aceitá-lo. Com isso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ficou de decidir quem será o responsável pelo assunto e o caso segue em aberto.

Procurada pela reportagem para comentar novidades e desdobramentos na investigação sobre o caso das girafas, a Polícia Federal respondeu que era preciso entrar em contato com a regional responsável, a do Rio de Janeiro.

O Resort Portobello Resort & Safari também foi procurado, porém, não respondeu.

Quinze meses após essa chegada ao Rio de Janeiro, a preocupação de biólogos e pessoas atuantes no bem-estar animal só aumenta. O professor Marcio Augelli alerta que ao observar uma das últimas fotos divulgadas dos animais que estão em Mangaratiba, ele notou lesões nas articulações das patas, o que pode caracterizar uma doença que afeta, sobretudo, girafas que vivem em cativeiro.

Detalhe para as lesões

“Pode haver fêmeas prenhas, hoje são animais adultos, de vida selvagem. Podem ter morrido mais. Nem sabemos quantos estão vivos. Não sabemos quase nada sobre a situação desses animais. Por que eles não deixam defensores dos animais verificarem a situação das girafas? Por que só órgãos que estão sob suspeita dizem que estão fazendo essa verificação? Eu tentei muitas vezes ir lá em Mangaratiba e não consegui entrar”, afirma o ativista.

Procurado pela reportagem, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) informou que “esclarece que os animais passaram por um processo de adequação ao ambiente, o que foi acompanhado pelo órgão. Atualmente, as girafas estão em áreas compatíveis com os padrões da legislação para zoológicos, construídas pelo Portobello. O Resort Portobello tem a licença para atuar como zoo e tem área de safari com exposição de animais. O Inea reitera que as girafas apresentam bem-estar e comportamento natural”.

Na nota enviada à reportagem, o Grupo Cataratas ainda informou que “o desenvolvimento dos animais é acompanhado pelos órgãos competentes, respeitando os procedimentos e os protocolos de segurança, sempre primando pelo bem-estar das girafas. Ainda não há definição sobre a transferência dos animais para o BioParque do Rio”.

Fonte: Diário do Rio

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