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Quinze elefantes destroem casas em protesto por atropelamento

13 de agosto de 2013
5 min. de leitura
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Por Patricia Tai (da Redação)

 Corpo do elefante que morreu, sendo enterrado. (Foto: NBC News)

Corpo do elefante que morreu, sendo enterrado. (Foto: NBC News)

Na semana passada, próximo à aldeia de Matari no leste da Índia, um trem atropelou e matou um elefante. Era uma fêmea e, de acordo com autoridades locais, ela cruzava os trilhos procurando por comida. Mas enquanto o infeliz incidente, relativamente comum na região, é de fato lamentável sob uma perspectiva humanitária propriamente dita, é apenas mais uma das inumeráveis tragédias aceitas em nome do progresso.

Para membros da manada de elefantes à qual pertencia o elefante que morreu, no entanto, a perda foi perturbadora demais para ser ignorada.

De acordo com o Times of India, desde o incidente, a manada de aproximadamente quinze elefantes parece estar velando o corpo da amiga falecida. Por muitos dias, o grupo permaneceu nas proximidades do local onde ocorreu a tragédia, em vigília contínua, atrapalhando as outras locomotivas que passavam pela área.

Enquanto tais demonstrações de tristeza não são incomuns quando elefantes perdem um membro da manada, para este grupo, suas emoções parecem tingidas com uma fúria especial, dirigida às criaturas responsáveis – que eles entendem como os humanos de forma geral. Nos dias seguintes ao atropelamento, os elefantes começaram a se vingar nas vilas da redondeza. Apesar dos esforços por parte dos moradores em espantar os animais, os mesmos danificaram pelo menos dez casas na região, incluindo a demolição de parte de um prédio onde funciona uma escola.

Em um esforço para restituir a ordem, autoridades florestais chamaram um esquadrão de caçadores de elefantes para mandá-los embora usando fogos de artifício. Entretanto, os elefantes persistiram em seus esforços para permanecer no local da tragédia, compelidos talvez por um sentimento de luto entre os elefantes que permanece até hoje incompreendido pelos humanos.

“Elefantes frequentemente tentam voltar ao local onde ocorreram tais incidentes pois acreditam que o seu companheiro pode estar apenas machucado e pode ser salvo por eles”, disse D S Srivastava, ativista de vida selvagem indiano. Eles também cumprem rituais de luto de forma sensível e devotada. “Mesmo quando um elefante morre por causas naturais, seus amigos cobrem o corpo com arbustos e galhos de árvores, em sinal de reverência”, complementou o ativista.

Tristemente, tais colisões violentas entre elefantes e trens têm sido muito comuns. Desde 2010, pelo menos cinquenta elefantes foram mortos em trilhos de trens na Índia – parte de uma infraestrutura vital usada para conectar vilas isoladas, que corta trechos inexplorados de florestas.

Só neste ano, já foram publicadas três notícias na Anda sobre o mesmo tipo de incidente: no dia 01 de janeiro o ano começou com a triste notícia de seis mortes em um mesmo acidente ; em março houve uma morte trágica cuja foto dispensa palavras); e em maio, três elefantes, sendo duas fêmeas adultas e um filhote, também morreram pelo intermédio dessas máquinas conduzidas por humanos. Esta é, portanto, a quarta notícia em oito meses, e pode ser que outras não tenham sido divulgadas ou chegado à mídia internacional.

Infelizmente, nos outros anos, também há diversas notícias de atropelamentos, e não só por trens: há um ano atrás, uma notícia falava de dois elefantes que foram atropelados por um caminhão, e em 2009, por um trailer.

Segundo esta reportagem, desta vez, devido à reação da manada por conta do ocorrido, as autoridades têm instruído os motoristas de trens a serem “mais cuidadosos”.

É interessante que, desde que chegaram os trens na Ásia como símbolo de conquista humana, os elefantes não têm cedido facilmente aos chamados “demolidores a vapor”. Em 1894, conforme publicado pela ANDA, um elefante descarrilou um trem em defesa de sua manada, sacrificando a sua vida contra o agressor revestido de metal.

A reportagem do TreeHugger termina com o comentário de que “infelizmente o progresso humano sobre a natureza, é claro, não descarrila trens, nem tem o instinto dos elefantes para fazer tal oposição”.

Talvez muito pelo contrário – subscrevemos.

Foto: Utpal Baruah / Reuters
Foto: Utpal Baruah / Reuters

Nota da Redação: Todos os dias nos deparamos com notícias sobre atropelamentos de animais no Brasil e no mundo. Cães, gatos, tigres, onças, vacas, cavalos e outros, todos os dias morrem pelas estradas atingidos por carros em alta velocidade, guiados por motoristas submersos na falta de consciência e movidos pela pressa insana da sociedade atual.

Crescemos vendo corpos de animais dilacerados pelas ruas, que morreram de forma violenta por atropelamento e ficaram sem socorro, sem respeito e sem dignidade, e a cultura em que somos criados tenta nos obrigar a ser indiferentes a esse absurdo. Tenta nos fazer considerar a coisa mais natural do mundo ver esses corpos dos animais mortos sendo pisados por dezenas de milhares de carros no meio das ruas, por vários dias após o atropelamento, como se um dia não tivessem respirado, vivido, corrido alegres, se emocionado, tentado receber e dar carinho a algum ser humano da mesma espécie desta que o atropelou e dos que agora passam por cima deles com seus carros apressados como se eles fossem nada – e não há dúvidas de que são mesmo, para tantas pessoas.

Se o atropelamento a animais é algo extremamente cruel, inaceitável e evitável, chega a ser o ápice do surreal concluirmos que esses são tempos em que até elefantes são atropelados. Infelizmente, as notícias não deixam negar que o surreal já se mistura e se confunde com o real na sociedade da pressa e do consumo em que vivemos, realidade cega que corre para o que chamam “progresso” – palavra esta altamente questionável.

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