Em março deste ano comecei a pesquisar sobre as empresas circenses que atuam no Brasil, que ainda utilizam animais em suas apresentações. Obtive várias constatações, entretanto, a mais importante foi que os verdadeiros artistas do circo não são os animais, e sim os artistas circenses, que mesmo com todas as dificuldades inerentes a profissão estão presentes no picadeiro, dia após dia, com o sorriso no rosto, se reciclando frequentemente para levar alegria ao público.
Percebi que atuação dos animais no circo se tornou tão pequena perto da grandiosidade do talento humano, de maneira alguma menosprezo a beleza dos animais que tanto admiro, entretanto enfatizo a miserabilidade que se tornam esses grandiosos seres quando presos a uma atividade que não lhes é natural – a atividade circense -.
As pessoas não irão assistir a grandiosidade desses animais dentro dos circos, toda beleza e majestade inerentes a esses seres preciosos, só poderão ser observadas quando estes estão na sua vida natural, em seus habitats de origem.
Na verdade, até os leigos, que não conhecem a realidade da vida desses animais – tortura e confinamento -; não acham interessante observá-los em suas miseráveis jaulas ou correntes, esta observação pode ser um exercício muito deprimente. Não é esse tipo de atuação que alegra o público. O público quer alegria, alegria que vem de dentro, sem imposição, sem tortura, sem medo…
Refletindo sobre a atividade circense e sobre os momentos que estive em um circo, me recordei o que de fato alegra as pessoas, e o que me alegrou também… São os artistas do circo! Sempre fiquei tão emocionada com o globo da morte! Imagine só: sete motos dentro de um globo pequenino e todas fazendo looping ao mesmo tempo… É muito emocionante! Isso que é emoção e diversão! Assistir animais fazendo performances incompatíveis com sua natureza, sabendo a violência que é infligida a eles para desempenhar tais Atos Anormais, isso não é alegria!
Existem circos que mantém elefantes acorrentados pelas quatro patas, impossibilitados de dar passo algum, com graves distúrbios comportamentais – denominado comportamento estereotipado -, que acontece na maioria das vezes pelo confinamento severo. Na hora do espetáculo o elefante é levado para o picadeiro e apenas da um volta e se dirige novamente para as correntes onde passará as próximas horas e dias esperando para dar uma voltinha no picadeiro, sem nenhum aplauso ou sorriso do público.
Porque eles continuam a manter esses animais em condições tão cruéis?
Além dos elefantes vários outros animais sofrem com a atividade circense. O cavalo é um exemplo comum de animal explorado dentro dos circos. Esse animal, que aparentemente parece forte e resistente, na verdade é tão sensível e frágil, que pequenos estímulos provocam grandes sensações de dor. No circo eles são obrigados a dançar funk e desempenhar outros atos que com o mínino de esforço do telespectador é possível perceber sua sensação de dor e incômodo. Se colocasse um palhaço dançando funk seria imensamente mais engraçado.
Não há como entender o porquê na manutenção desses animais, talvez pelo seu alto preço no mercado. Mas isto não se seria razão, porque estes animais também geram grandes custos, quando lhe são oferecidos comida de qualidade e cuidados veterinários, o que geralmente não acontece.
Além de um confinamento cruel os animais de circo podem sofrer outros tipos de abuso: privados de luz solar em gaiolas dentro das tendas e exposição diária ao barulho ensurdecedor oriundo dos espetáculos.
O cachorro também é um animal muito usado na indústria circense. Este animal é muito inteligente e pode ser treinado de maneira indolor e ética, por meio de reforço positivo, mas nos circos eles são obrigados a fazerem coisas tão abusivas, como pular de uma altura de 20 metros com um pára-quedas, que mesmo com sua natureza doméstica e obediente ao dono, é impossível de não observar o extremo sofrimento deste ser inocente, que é considerado o melhor amigo e companheiro do homem. E todo esse sofrimento para uma apresentação mal elaborada e sem nenhuma graça.
Há necessidade urgente dos artistas reciclarem seus números, algo que todos nós temos que exercitar em nossas vidas, essa reciclagem é necessária em todas as profissões e com o circo não seria diferente.
Mas também há apresentações muito bonitas: como os tecidos e os trapezistas; e o sorriso que eles têm em seus rostos, da para perceber que eles estavam felizes, realizados… O mesmo não pode ser observado nos animais de circo. O elefante tem um olhar de choro e desânimo; como as lhamas, os camelos, os cavalos e os leões que já observei no caminho.
Hoje temos inúmeras alternativas para substituir o uso de animais em circo. O talento humano é infinito e tem que ser explorado da melhor maneira, com boa infra-estrutura, e com amor pela profissão!
Junto com a proibição de animais em circos e a realocação desses animais em santuários dignos, há também necessidade de investimento em políticas públicas para reestruturação da atividade circense no Brasil, pois está tão desestruturada! E não é pela retirada dos animais, mas sim pela falta de preocupação do poder público com este segmento.
Precisamos ser parceiros de causa, mas não somente pela causa animal, mas também pela causa social, estrutural, emocional e de justiça.
Eu gostaria de dar um VIVA bem forte a esse novo passo que estamos dando para os animais e a atividade circense no Brasil. Estamos lutando para banir o sofrimento animal dentro dos circos e podemos nos unir para dizer SIM ao desenvolvimento do talento humano e firmar parcerias ao invés de inimizades.