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Quem quer, afinal, a liberdade dos animais? - parte 2

4 de abril de 2009
2 min. de leitura
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Nesta semana, aqui em Porto Alegre, começa a já muito tradicional Feira do Peixe, no Centro da cidade, patrocinada pela Prefeitura. Durante alguns dias, embaixo de estruturas montadas em frente ao Mercado Público, balconistas de bancas de peixe tentam fisgar os compradores aos gritos, para vender seus congelados e ‘frescos’. Carpas vivas – na verdade, zumbis – ficam em tonéis sob olhar dos basbaques, enquanto funcionários cutucam-nas com varas para que não boiem – e conseqüentemente pareçam não comestíveis. Ao lado, em churrasqueiras, ‘tainha na taquara’, uma tradição na Semana Santa nestes pagos.

Pois discutíamos, internamente, a realização de algum protesto no referido local. O fluxo de pessoas é intenso, tanto de compradores quanto de fornecedores, com seus fétidos caminhões transportando peixes vivos, meio mortos, ‘frescos’, congelados e ‘não apropriados para consumo humano’, eventualmente. Políticos, curiosos, desocupados, batedores de carteira, personagens folclóricos do Centro, moradores de rua e afins, todos pisoteando o gelo derretido e as escamas daquilo que será sorvido como celebração daqui a uma semana. Mas o principal público presente é a dupla comprador/vendedor. A quem esperamos ‘converter’? Ingenuamente, vamos entrar em confronto? Todos ali são inimigos, no final das contas. Para todos, ali, somos perturbadores da paz.

Dos peões que tratam os peixes vivos como tijolos a serem empilhados, com tédio e raiva do patrão – aguardem as fotos desde ano, para breve – às donas de casa que correm para aproveitar as promoções, passando pelos idosos que procuram pelo filé mais magro ‘para melhorar o colesterol’, pelos padres que estimulam e lembram aos fiéis a razão de ser de tudo aquilo, e chegando até mesmo nos autointitulados vegetarianos – aqueles que não comem carne, ‘só peixe’. De todos esses, quem quer a liberdade dos animais? Eu posso me aproximar e tentar dizer algumas palavras, provavelmente pela primeira vez em meio às ofertas de tilápia e peixe-anjo, sem soar tão excêntrico e não confiável como um maluquete qualquer que os abordaria na rua, falando sobre o fim dos tempos, revelações e planetas invisíveis?

De passagem, o bom pai de família aproveita para comprar o obrigatório ovo de Páscoa e algo para ser assado no almoço do Domingo de Páscoa. Posicionar-se contra todas essas instituições nos faz tão antipáticos quanto alguém que prega o fim dos finais de semana, por exemplo. Ainda mais quando a maior parte das pessoas se agarra a esses pequenos alívios como oásis da vida seca e ingrata. Para esses, ao menos existem os animais para, com sua existência, tornar menos desgraçada sua própria existência.

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