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PRINCIPAIS CAUSAS

Queimadas e desmatamento na agropecuária são os grandes vilões no combate às mudanças climáticas

Pesquisadoras afirmam que, no Brasil, a restauração de terras degradadas e a pecuária bovina regenerativa podem reduzir a emissão de gases do efeito estufa

21 de janeiro de 2025
Julio Silva
2 min. de leitura
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Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real via Flickr

Grandes responsáveis pela crise climática mundial, o desmatamento e as queimadas também refletem nos sistemas alimentares e na qualidade dos alimentos. No entanto, a atividade humana, principalmente no âmbito da agropecuária, também pode acelerar a crise nos ecossistemas e afetar a produção alimentar global.

De acordo com Nadine Marques, pesquisadora da Cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, o desmatamento refere-se à conversão de vegetações nativas, como florestas, em áreas destinadas a outros usos, principalmente agricultura e pecuária. Ela conta que um relatório do MapBiomas aponta que, nos últimos cinco anos, a agropecuária foi responsável por mais de 97% da perda de vegetação nativa. Esse processo ocorre, em grande parte, na Amazônia e no Cerrado, onde áreas são desmatadas inicialmente para a criação de bovinos e, posteriormente, para plantações de monoculturas, como soja e milho.

Queimadas e mudanças climáticas

O impacto do cultivo de grãos também merece atenção. Grande parte dessa produção é destinada à fabricação de rações para animais confinados, como aves e suínos. Segundo Estela Sanseverino, também pesquisadora da Cátedra Josué de Castro,  41% da produção mundial de grãos tem esse destino. Além disso, ela ressalta que produtos agrícolas como óleo de palma e soja são amplamente utilizados na formulação de alimentos ultraprocessados, reforçando a interconexão entre o consumo global e o desmatamento.

Outro ponto destacado por Estela foi o aumento das queimadas, especialmente em 2024, ano crítico para o Pantanal, a Amazônia e o Cerrado. No Cerrado, a região do Matopiba (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) foi a mais afetada, enquanto no Pantanal o fogo consumiu cerca de 12 mil quilômetros quadrados, área equivalente a quatro vezes a cidade de São Paulo. Estudos apontam que condições climáticas extremas intensificaram em 40% a propensão a incêndios no Pantanal, mas a principal fonte ainda são queimadas mal gerenciadas para ampliar áreas agropecuárias.

Gases do efeito estufa

O desmatamento contribui fortemente para as emissões globais de gases de efeito estufa. Segundo Estela, um relatório do Banco Mundial divulgado em 2024 aponta que os sistemas agroalimentares são responsáveis por um terço dessas emissões, sendo a conversão de florestas a maior vilã, representando 18,4% do total. Globalmente, o desmatamento é responsável por 11% das emissões, das quais 90% são atribuídas à expansão da agropecuária.

“Gado, alho-de-palma, soja, cacau, borracha, café e fibra de madeira de plantação são responsáveis por algo entre um quarto e um terço da ocupação dessas áreas desmatadas. Para o Brasil, o desmatamento zero, o fim da pecuária e restauração de terras degradadas têm grande potencial de mitigação das mudanças climáticas e já podem ser aplicadas no território nacional”, complementa a pesquisadora.

Fonte: Jornal da USP

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