Quatro baleias-jubarte ficaram presas a redes de pesca no litoral de Florianópolis, em Santa Catarina, e duas delas foram encontradas já sem vida. As outras foram libertas e puderam voltar a nadar em alto mar livres dos equipamentos de pesca.
Os casos foram registrados pela Polícia Militar Ambiental (PMA) nos últimos dias. De acordo com a instituição, as ocorrências coincidem com o período em que a tainha, espécie de peixe, é explorada para a pesca e redes fixas são colocadas em vários pontos do litoral.
Em todo o Brasil, foram registrados 14 casos de emalhes baleias até a última terça-feira (15), sendo que pelo menos cinco delas morreram. No estado de Santa Catarina, nove baleias ficaram presas a redes de pesca e seis foram libertas com vida. Os dados alarmantes pertencem ao Protocolo de Encalhes e Desenredamento de Baleias da APA da Baleia Franca.
A PMA afirma recolher redes diariamente durante fiscalização realizada nos arredores de Florianópolis. “Ocorre que com o aumento no surgimento das baleias coincidentemente no inverno e na época da tainha, também houve aumento no número das redes fixas (proibidas pela legislação, portanto redes irregulares). O crescimento nas ocorrências de enredamento de baleias vem preocupando”, disse ao G1 o policial militar ambiental Roberto Salles Pereira Oliveira.
O biólogo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Jorge Freitas, explicou que as baleias têm dificuldade para nadar quando estão presas às redes. “Em determinado momento, elas não conseguem mais voltar a superfície para respirar e aí morrem afogadas”, relatou. Os casos são investigados pelas autoridades.
As vítimas dessas redes, porém, não são apenas as baleias. Isso porque esses equipamentos são feitos de material resistente e permanecem por anos no fundo do mar. “Elas acabam pescando e matando outros peixes, tartarugas e animais marinhos que vivem no fundo do mar”, comentou o biólogo.
No caso das baleias presas ao equipamentos pesqueiros em Florianópolis, uma delas foi liberta na terça-feira (15) após passar horas presa à rede na região da Ilha do Francês. Outra baleia foi solta por moradores da região após se prender em uma rede fixa instalada no Pântano do Sul enquanto, segundo testemunhas, fugia da perseguição de uma lancha. A atitude dos moradores, porém, foi desaconselhada pela PMA. “Existe um protocolo internacional de desenredamento de baleia, e não se deve se aproximar dos animais. [A PMA] atua em conjunto com diversos órgãos e é necessário ter as ferramentas e o treinamento adequado para a operação. Ao avistar uma baleia enredada deve-se marcar a coordenada geográfica e avisar aos órgãos competentes”, afirmou a instituição por meio de nota.
Outras baleias, no entanto, não tiveram a sorte de serem libertas das redes com vida. Uma delas foi encontrada morta na praia da Solidão no último sábado (12). De acordo com as autoridades, a baleia-jubarte era jovem e estava com uma rede na boca. No corpo do animal também foram encontrados equipamentos pesqueiros e, ainda segundo as autoridades, “não se sabe o quanto mais de rede tinha na calda”. A outra baleia que morreu estava à deriva no costão da praia da Galheta, com um equipamento pesqueiro enrolado ao corpo.
Os dois corpos não foram retirados do mar porque, conforme explicitado pela PMA, é preciso que os animais mortos encalhem nas praias para serem submetidos à necrópsia e ao sepultamento. No entanto, a permanência dos corpos em alto mar pode levar a uma espécie de explosão das baleias. Isso porque a gordura densa das jubartes impede a saída de gases gerados pela decomposição, podendo haver rompimento dos corpos e, por consequência, poluição local por meio da matéria orgânica.
“O mais coerente é esperar esses animais encalharem na costa. Há chance de ruptura, mas isso não gera risco sanitário ou ambiental. As carcaças no mar servem de alimento para outros animais. Inclusive para os tubarões. Mas isso não quer dizer que haja risco para a população, já que eles estão no local em razão do alimento disponível”, concluiu o biólogo Jorge Freitas.