Todos os anos, cerca de 8,5 mil toneladas de antibióticos — quase um terço do que as pessoas consomem anualmente — acabam em sistemas fluviais ao redor do mundo. É o que estima um estudo feito por pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, e publicado em 22 de abril no periódico científico PNAS Nexus.
Trata-se da primeira pesquisa a estimar a escala da contaminação global de rios pelo uso de antibióticos por humanos. A equipe utilizou um modelo global com dados de campo de quase 900 áreas fluviais, desconsiderando os antibióticos usados por fazendas de gado ou farmacêuticas.
“Nossos resultados mostram que a poluição por antibióticos em rios, proveniente apenas do consumo humano, é um problema crítico, que provavelmente seria agravado por fontes veterinárias ou industriais”, observa em comunicado o coautor do estudo, Jim Nicell, professor de engenharia ambiental na Universidade McGill.
A jornada dos antibióticos
Segundo a pesquisa, dos 40 antibióticos mais consumidos pelos humanos (29.200 toneladas), 8,5 mil toneladas (29%) são lançadas no sistema fluvial e 3.300 toneladas (11%) chegam aos oceanos ou às águas subterrâneas (como lençóis freáticos).
Após o consumo humano e o metabolismo dos compostos, os resíduos de antibióticos são excretados. Em seguida, passam por processos complexos de acumulação e decomposição conforme navegam das águas residuais aos sistemas fluviais naturais.
Conforme calculam os pesquisadores, quase 6 milhões de km de rios em todo o mundo estão sujeitos a concentrações totais de antibióticos acima dos limites protetores dos ecossistemas e promotores de resistência durante condições de baixo fluxo.
Isso significa que a poluição por antibióticos nos rios está não apenas em níveis altos o suficiente para prejudicar a vida aquática, como também para que agentes infecciosos fiquem mais resistentes aos medicamentos. Os principais culpados pela poluição nos rios no mundo são a amoxicilina, ceftriaxona e cefixima.
“Embora as quantidades de resíduos de antibióticos individuais representem apenas concentrações muito pequenas na maioria dos rios, o que os torna muito difíceis de detectar, a exposição ambiental crônica e cumulativa a essas substâncias ainda pode representar um risco à saúde humana e aos ecossistemas aquáticos”, diz Heloisa Ehalt Macedo, pesquisadora de pós-doutorado em geografia na Universidade McGill e autora do estudo.
O Brasil perante o mundo
No Brasil, 211 mil km de rios apresentam alto risco ambiental devido às concentrações de antibióticos em condições de baixo fluxo. O ciprofloxacino, um antibiótico comum no tratamento de infecções urinárias e respiratórias, é a principal substância poluidora detectada.
A extensão de rios contaminados em nosso país é menor do que em países como Índia, China ou Rússia (677 mil km, 669 mil km e 285 mil km, respectivamente).
Porém, o número de pessoas expostas (33,9 milhões) é bastante elevado, maior que nos Estados Unidos (11,8 milhões) e na Rússia (11,2 milhões), nações com maior extensão poluidora em quilômetros do que a nossa. Isso sugere que por aqui há maior vulnerabilidade populacional, provavelmente devido a fatores estruturais, ambientais e sociais.
Fonte: Revista Galileu