Uma avaliação global conduzida pela IUCN (sigla em inglês da União Internacional para a Conservação da Natureza) aponta que 44% das espécies de corais de recifes em todo o mundo estão em risco de extinção. O estudo foi divulgado nesta quarta-feira (13) durante a COP29, cúpula do clima em andamento no Azerbaijão.
O status de conservação de 892 espécies de corais foi reavaliado para a Lista Vermelha da IUCN, repositório mundial de referência para espécies ameaçadas. Em 2008, em análise similar, cerca de 33% dos corais estavam em situação de vulnerabilidade, aponta a organização.
“Enquanto os líderes mundiais se reúnem na conferência climática da ONU em Baku, esta avaliação global de corais ilustra vividamente os impactos severos de nosso clima em rápida mudança na vida na Terra e enfatiza a gravidade das consequências”, afirma a diretora geral da IUCN, Grethel Aguilar.
“Ecossistemas saudáveis como recifes de corais são essenciais para a subsistência humana — fornecendo alimentos, estabilizando litorais e armazenando carbono. A mudança climática continua sendo a principal ameaça aos corais e está devastando sistemas naturais dos quais dependemos. Devemos tomar medidas ousadas para reduzir as emissões de gases estufa se quisermos garantir um futuro sustentável para a humanidade”, completou a executiva.
Segundo o levantamento, a mudança climática é a principal ameaça às espécies de corais construtoras de recifes. Para chegar à conclusão do estudo, as avaliações consideraram a atualização de status mais recente dos recifes de corais da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Corais, juntamente com ameaças atuais e futuras, como o aumento projetado em eventos de aquecimento e grandes eventos de branqueamento, usando dados do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) para cenários futuros do clima.
Além das mudanças climáticas e eventos de branqueamento severos relacionados, os corais são afetados por outras ameaças como a poluição, o escoamento de rejeitos agrícolas, doenças e a pesca intensiva, segundo a IUCN.
Cortar emissões para salvar os corais
“Agindo agora, podemos diminuir o ritmo do aquecimento do oceano e ampliar a janela de oportunidade para que os corais se adaptem e sobrevivam potencialmente a longo prazo. Não se trata apenas de preservar a beleza dos recifes. Os ecossistemas de corais também sustentam comunidades de pesca costeira, estabilizam a linha de costa e os habitats costeiros e ajudam a remover carbono do oceano, entre outros benefícios”, argumenta Beth Polidoro, coordenadora do monitoramento de corais feito pela IUCN.
A organização aponta que a principal solução para salvar os corais da extinção é cortar as emissões de gases de efeito estufa, acompanhadas de ações para fortalecer a resiliência das espécies. Os avaliadores também recomendam mais pesquisas sobre se e como os corais podem se adaptar a águas mais quentes.
A maioria dos corais é encontrada no Indo-Pacífico, região de encontro entre os oceanos Índico e Pacífico. No oceano Atlântico, as espécies estão particularmente ameaçadas devido a eventos anuais de branqueamento severo, poluição e impactos de doenças, destaca a análise.
Projeto quer recuperar corais da costa alagoana que estão em processo de branqueamento.
A avaliação global da IUCN abrange todos os corais construtores de recifes, espécies encontradas em habitats de águas rasas e quentes, que formam os recifes coloridos vistos em áreas oceânicas tropicais e subtropicais.
As avaliações da Lista Vermelha de corais de água fria, que são encontrados em águas profundas ao redor do mundo e não dependem da luz solar, estão em andamento, frisa a organização. Apenas 22 espécies de corais de água fria de um total de mais de 4.000 foram avaliadas até agora. As principais ameaças a essas espécies incluem a atividade pesqueira, especialmente a pesca de arrasto de fundo, mineração em alto mar, perfuração de petróleo e gás ou colocação de cabos em alto mar.
Aquecimento do mar e sol intenso causam branqueamento
Construídos ao longo de dezenas de milhares de anos, os recifes de corais são os ecossistemas marinhos mais biodiversos. A mudança climática causa o aumento da temperatura da água e uma radiação solar mais intensa, o que leva ao branqueamento dos corais e doenças, muitas vezes resultando em mortalidade em massa.
Os corais construtores de recifes têm uma relação simbiótica com algas chamadas zooxantelas, que dão aos corais suas cores vivas. O branqueamento dos corais é o resultado de uma resposta ao estresse causado pelo aumento da temperatura da água, quando os corais expulsam as algas de suas estruturas.
Os principais financiadores da avaliação global de corais foram a Fundação MSC, braço do Grupo MSC de transporte marítimo; a National Geographic e Eurofins, multinacional especializada em análises de alimentos, meio ambiente e fármacos.
Branqueamento chega a níveis inéditos, diz NOAA
Desde fevereiro de 2023, tem sido observado um branqueamento significativo de corais ao redor do mundo. E, agora, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), do governo dos EUA, relatou que este é o evento mais extenso já registrado.
“Este evento ainda está aumentando em extensão espacial e quebramos o recorde anterior em mais de 11% em cerca de metade do tempo”, disse Derek Manzello, coordenador do NOAA Coral Reef Watch à Reuters. “Isso pode ter ramificações sérias para a resposta final desses recifes a esses eventos de branqueamento.”
De acordo com dados de satélite, 77% das áreas de recifes de corais do planeta foram submetidas a estresse térmico de branqueamento. Este é o quarto evento do tipo observado desde 1998. O recorde anterior, concentrado no período de 2014 a 2017, afetou pouco menos de 66% da área de recifes do mundo.
Fonte: Um Só Planeta