EnglishEspañolPortuguês

Quase 450 novas espécies foram reveladas na Amazônia nos últimos 3 anos

4 de novembro de 2013
5 min. de leitura
A-
A+
Apesar de ter sido descoberta recentemente, essa pequena rã, do tamanho da unha de um polegar, já é considerada ameaçada de extinção. Seu nome científico, Allobates amissibilis, significa "que pode ser perdida". Foi encontrada na Guiana. (Foto: Reprodução)
Apesar de ter sido descoberta recentemente, essa pequena rã, do tamanho da unha de um polegar, já é considerada ameaçada de extinção. Seu nome científico, Allobates amissibilis, significa “que pode ser perdida”. Foi encontrada na Guiana. (Foto: Reprodução)

Desde 2010, pelo menos 441 espécies foram descobertas na Amazônia. O número representa uma média de aproximadamente 110 ao ano. Números que somente a floresta com a maior variedade biológica do planeta pode proporcionar. Os dados estão em um relatório divulgado pela organização ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF), que revela curiosidades como um macaco que ronrona como um gato, uma piranha vegetariana e uma rã do tamanho da unha de um polegar. “A Amazônia é a número um em biodiversidade no mundo. Mesmo com pouco investimento científico, descobrimos uma nova espécie a cada três ou quatro dias”, afirma Claudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva, da Rede WWF, que compilou esses achados.

Segundo o documento, foram encontradas 258 novas espécies de plantas, 84 de peixes, 58 de anfíbios, 22 de répteis, 18 de aves e uma de mamífero. O relatório, no entanto, assegura que o número poderia ser ainda maior caso a lista incluísse uma enorme quantidade de insetos e outra de invertebrados.

Denominada Apistogramma cinilabra, essa espécie de peixe está adaptada a níveis extremamente baixos de oxigênio. O animal só pode ser encontrado em um lago na região de Loreto, no Peru. (Foto: Reprodução)
Denominada Apistogramma cinilabra, essa espécie de peixe está adaptada a níveis extremamente baixos de oxigênio. O animal só pode ser encontrado em um lago na região de Loreto, no Peru. (Foto: Reprodução)

Maretti, que é doutor em geografia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que, embora as espécies tenham sido descobertas recentemente, muitas já estão em situação de risco. Isso porque elas foram encontradas em áreas restritas e, por isso, são consideradas endêmicas (só existem em porções exclusivas da floresta). “Algumas estão em regiões ameaçadas, o que permite que sejam consideradas espécies em risco. Mas essa classificação requer um processo mais longo e precisa da análise de vários especialistas”, explica.

Diante da ameaça, ele reforça a importância das unidades de conservação (UCs) para a preservação da biodiversidade. De acordo com um levantamento do instituto de pesquisa Imazon, em dezembro de 2010, as áreas protegidas na Amazônia Legal somavam 2.197.485 quilômetros quadrados, ou 43,9% da região – cerca de 25,8% do território brasileiro. Desse total, as UCs federais e estaduais correspondiam a 22,2% do território amazônico, enquanto as terras indígenas homologadas, declaradas e identificadas cobriam 21,7%.

“Essas áreas têm grande efetividade e são o melhor mecanismo de conservação, mas não devem ser entendidas de forma isolada. Um parque nacional não consegue resolver todo o problema de conservação, pois as espécies migram. Em especial, as porções de floresta localizadas no Norte de Mato Grosso e outras no Maranhão precisam de um olhar especial para o desmatamento. A Amazônia não é homogênea, tem 28 diferentes ecorregiões, com florestas tropicais e savanas mais ou menos abertas”, conta Maretti.

Segundo a doutora em genética Izeni Pires Farias, coordenadora da Rede de Biodiversidade de Peixes, Herpetofauna, Aves e Mamíferos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), os números compilados pelo WWF confirmam dados colhidos pela rede.

“O que eles reportaram no trabalho faz sentido para o que a gente já encontrou aqui. O projeto não terminou, mas a busca é direcionada para essa biodiversidade, que não conhecemos ainda e tem características heterogêneas”, afirma.

A nova espécie de cobra foi batizada de Chironius challenger em homenagem ao professor George Edward Challenger, personagem do livro 'O mundo perdido', de Arthur Conan Doyle. O réptil vive nas montanhas entre a Guiana e o Brasil. (Foto: Reprodução)
A nova espécie de cobra foi batizada de Chironius challenger em homenagem ao professor George Edward Challenger, personagem do livro ‘O mundo perdido’, de Arthur Conan Doyle. O réptil vive nas montanhas entre a Guiana e o Brasil. (Foto: Reprodução)

Izeni reforça a opinião de Maretti sobre a importância das unidades de conservação. “Temos muitos rios com cachoeiras visados pelo ponto de vista da criação de hidrelétricas. Quase todos estão sendo estudados para esse fim. Sabemos que o país necessita dessa fonte de energia, mas há a necessidade de ver alternativas que causem menos impacto no ecossistema. Há ainda o problema da extração ilegal de madeira, a grilagem, o tráfico de animais e o dilema da usina de Belo Monte. Muitas espécies que nem conhecemos são exportadas como peixes ornamentais, porque estão no meio daqueles já conhecidos”, completa a pesquisadora.

Proteção especial

As unidades de conservação são porções bem definidas de terra que têm recursos naturais de importância ecológica e ambiental. Essas frações do território nacional são especialmente protegidas por lei e contam com regime especial de administração. O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) foi instituído no Brasil em 2000 pela Lei 9.985, que estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das UCs. O SNUC as divide em dois grupos: as de proteção integral (admitem apenas o uso indireto dos recursos naturais) e as de uso sustentável (conciliam a conservação da natureza com o uso sustentável de parte os recursos).

Fonte: EM

Você viu?

Ir para o topo