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Quando as tradições devem ser quebradas

31 de maio de 2016
3 min. de leitura
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Uma das poucas notícias positivas desse maio de 2016 veio da Ilha de Paquetá, no Rio: os 31 cavalos usados para passeios de charrete na ilha foram substituídos por carros elétricos. Pelo o que li no G1, os animais, que sofriam maus-tratos e viviam em péssimas condições, serão levados para uma fazenda em Guaratiba.
Apesar da boa notícia, teve gente que reclamou. “É tradição na ilha”, disseram uns. “Gera empregos”, comentaram outros.
Nada disso justifica a exploração desses cavalos. Os carros elétricos permitirão que essas pessoas continuem trabalhando e tradição nenhuma tem justificativa se ela carrega sofrimento ou segregação.
Era tradição mulher não ter direito ao voto. Ainda é tradição, em mais de 20 países africanos, circuncidar meninas. Era tradição queimar hereges na fogueira. Era costume escravizar negros (e tachar abolicionistas de loucos). Ainda é tradição dar meninas para casamentos precoces e forçados.
Tradição? Ou crime contra os direitos humanos? Mas é aquela história, né? Se ainda hoje é difícil falar de direitos humanos, imagina de direitos animais.
Quando se trata de identificar e não financiar a exploração dos bichos, muitas pessoas optam pela indiferença e pelo comodismo. É mais fácil ir junto com a corrente, acreditando que tradições vêm na frente de qualquer animal de tração, do que ser aquela pessoa do contra. Mesmo sabendo que os motivos do “contra” têm como base o respeito à vida.
Mais broxante do que isso é saber que mesmo pessoas com acesso à informação escolhem a cegueira.
Durante um passeio, uma amiga questionou por que eu queria pegar um daquelas bicicletas-táxi, se duas horas antes eu havia comentado o quanto é ultrapassado passear de charrete, puxada por cavalo. “Cavalo não pode, mas ser humano sim?”, me perguntou ela. Sim, amiga, pode, porque o ciclista do bike táxi ESCOLHE fazer esse trabalho e recebe por isso. Ninguém amarra a bunda dele na bicicleta e o chicoteia pra pedalar mais rápido.
Isso é tão óbvio para mim quanto é automático para muitos pais assinarem a autorização para aquela excursão do filho ao zoológico, junto com a escola. Costumes como esses são tão “normais” que nem nos questionamos sobre onde e como esses animais deveriam estar.
A verdade é que nenhum animal, em nenhum lugar do mundo, deve estar dentro de grades, gaiolas, tanques com água, amarrado ou sendo espancado. Se seu filho não pode ver de perto um leão, uma girafa ou um rinoceronte no seu habitat natural, um motivo tem e a gente sabe qual é.
Quer muito que seu filho conheça de perto animais selvagens? Talvez seja mais educativo mostrar à criança um vídeo do canal National Geographic ou então propor à escola um passeio aos santuários, como o Rancho dos Gnomos, na Grande São Paulo, que acolhe animais selvagens (vindos de situações de maus-tratos, como circos) e promovem ações educativas para crianças e adultos.
Por isso, pense, questione antes de se entregar à primeira atração envolvendo animais, vendida como tradição ou algo divertido. Na dúvida, lembre-se:
Passeio turístico de charrete em Nova York, Viena ou Florença?
Exploração e sofrimento dos cavalos.
Passeio de bike táxi?
Diversão. 

Tourada espanhola?
Exploração e morte gratuita de touros.
Tradição espanhola dos Castells?
Garantia de diversão, muitos “uaus” e “owwws”.
 Castells é tradição na Catalunha e consiste em fazer construções humanas semelhantes a castelos. Clique aqui para ver um breve vídeo sobre essa competição que reúne as pessoas da comunidade e exige muito trabalho de equipe. Link do vídeo.
Parque aquático americano ou aquário municipal?
Exploração e prisão de animais marinhos.
Passeio de barco para observação de baleias?
Emocionante!

Mergulho na mar para observação de peixes?
Emoção em dose dupla! 

Prender passarinho na gaiola?
Coisa de gente sem cérebro.
Observação de pássaros na natureza?
Coisa de gente inteligente. 

Circo com animais no Brasil ou na Rússia?
Exploração, prisão e muito sofrimento de elefantes, tigres, leões, macacos e ursos.
Safári na África?
Legal e caro. 

Documentários sobre animais selvagens no National Geographic?
Interessante e barato.
Zoológico em qualquer lugar do mundo?
Exploração e prisão de animais selvagens.
Visita a um santuário de animais?
O primeiro passo em direção à mudança de paradigmas.

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