Protetores de animais acusam o CCZ de Lauro de Freitas (BA) de realizar um resgate negligente que culminou com a morte de um cãozinho da raça pit bull. A história teve início na última sexta-feira (24), quando o animal foi abandonado amarrado em uma barra de ferro sob a uma forte chuva no bairro Praia do Flamengo, em Salvador. As imagens do cão rapidamente foram compartilhadas em grupos no WhatsApp e redes sociais e uma corrente do bem se formou na tentativa de resgatá-lo e encaminhá-lo para um local seguro.
Em entrevista à ANDA, a protetora Fabiana Teodoro conta que o pit bull era um animal jovem, com cerca de apenas um ano de idade, forte e saudável, que estava visivelmente cansado e estressado. Ela afirma que há relatos que o animal teria sido espancado por um carroceiro. A fim de evitar novos maus-tratos, um grupo de protetores organizou uma operação de resgate. Eles conseguiram abrigo temporário para o animal em uma casa vazia, cedida por um morador.
Infelizmente, a tentativa de resgate foi frustrada, porque o animal estava muito agitado e assustado. Foram realizados diversos esforços, como oferecer alimento, mas o cão estava muito ansioso e optaram por tentar salvá-lo no próximo dia. No entanto, no dia seguinte, o cão foi solto da barra de metal e apareceu na frente de um condomínio. Com medo do tamanho e da raça do cachorro, moradores encurralaram o animal em um terreno vizinho.
Fabiana explica que, apesar dos temores de ataques, o animal era extremamente dócil, balançava a cauda e não tinha nenhuma expressão de reação violenta, ao contrário, ele estava tremendo e chegava a colocar com o rabo entre as patas quando alguém se aproximava. Um policial soube da história do pit bull e demonstrou interesse em ajudá-lo. Ele levaria o animal para um local seguro, um canil organizado, até encontrar adotantes definitivos.
No momento do resgate, no sábado, 25 de dezembro, o cão foi extremamente cooperativo, dócil e chegou a brincar. Ele foi colocado em uma saveiro e estava prestes a ser levado para o novo lar, mas o salvamento foi interrompido pela chegada de uma equipe do Centro de Controle de Zoonoses de Lauro de Freitas, cidade a cerca de 30 km de distância de Salvador. Ainda não há confirmação sobre quem acionou o CCZ e o porquê deles acolherem uma denúncia tão distante.
A protetora, que atua há mais de 20 anos na causa animal, ficou surpresa com o método de resgate utilizado pela equipe do órgão. Imagens e vídeos feitos no local mostram que o animal foi obrigado a entrar em uma caixa de transporte de tamanho muito menor do que o seu porte. O cão também foi laçado e deixado com uma corda no pescoço. Em razão do tamanho do pit bull, a caixa não fechava, então optaram por tirar a parte frontal e pressioná-la na traseira da caminhonete.
Ela acredita que faltou sensibilidade e responsabilidade pelo tratamento e vida do pit bull, que foi totalmente negligenciada. “Ninguém do CCZ de Lauro de Freitas se preocupou com a integridade física do animal. Era um dia que estava muito sol, muito calor e o animal estava cansado, estressado e abalado psicologicamente. Apesar disso, não estava agressivo, estava apenas exausto, porque nos dias anteriores passou por muito sofrimento”, disse Fabiana.
No dia seguinte, menos de 12 horas após ser levado para Lauro de Freitas, a organização REMCA anunciou em sua página no Instagram que o pit bull havia morrido em razão de uma overdose do medicamento clonazepam (comercializado com o nome Rivotril). A REMCA afirmou na postagem que esteve em “diálogo com o diretor do CCZ e os médicos veterinários” e que o animal foi supostamente medicado por “pessoas que tentavam acalmá-lo”.
Após saberem da notícia, protetores que estavam envolvidos no caso questionaram a versão dada pelo CCZ. Fabiana, acompanhada de duas advogadas, foi pessoalmente ao local apurar o que tinha acontecido com o cachorro. Ela afirma que assim que chegou ao local se deparou com cenas de maus-tratos. “Um animal, provavelmente com cinomose, que precisava estar no soro e uma baia limpa com acompanhamento médico, estava sozinho, sem água e sem refeição, rodeado de fezes”.
Ela flagrou ainda “vários gatinhos em uma baia minúscula, úmida, repleta de urina, sem alimentação, sem água. Analisamos todas as baias”, lembra. Na terça, dia 21, ela retornou ao CCZ com outros protetores, incluindo a ex-vereadora Ana Rita Tavares, e o local estava fechado, mesmo durante o horário obrigatório de funcionamento. A intenção do grupo era ter esclarecimentos sobre o caso do pit bull e pedir providência sobre os animais mantidos no local.
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O grupo chamou a polícia e o diretor do CCZ aceitou conversar com alguns representantes. A equipe do órgão confirmou a versão da overdose, mas não apresentou nenhum exame ou laudo comprovativo. Os protetores acreditam que o animal possa ter sido vítima de asfixia em decorrência da corda no pescoço e da caixa apertada. Dois homens que participaram da reunião foram identificados como os responsáveis pelo resgate negligente.
Os protetores têm diversos questionamentos, como o nível de preparo das pessoas que recolheram o animal, a comprovação da morte do animal por overdose, uma vez que a veterinária chefe do CCZ não apresentou provas e por que eles foram atender uma ocorrência tão longe da cidade. Fabiana e os outros defensores da causa animal querem que o órgão libere o cadáver do pit bull para uma necropsia privada para que a causa da morte seja determinada.
Fabiana Teodoro, a advogada Alexandra Deering e Ana Rita, que também é advogada, registraram um Boletim de Ocorrência sobre o caso do pit bull e as irregularidades encontradas no CZZ. Entramos em contato com o Centro de Controle de Zoonoses de Lauro de Freitas, mas não obtivemos resposta até a finalização da matéria.
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