Leticia Cavichioli
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Como voluntária de uma ONG que trabalha com o recolhimento dos cães do CCZ para adoção, fico extremamente preocupada com a parcialidade contida na reportagem intitulada “Campinas registra nove ataques de cães por dia” escrita por Delma Medeiros (Correio Popular, 07/02/2010). Em nenhum momento, em nenhum dos casos citados, foi levada em consideração a maneira como os cães envolvidos em ataques foram criados. Cães que possuem tutores e são mantidos em confinamento, espaços pequenos, acorrentados e sem contato com humanos, possuem transtornos de comportamento e podem atacar pessoas sem motivo aparente. Cães errantes que foram vítimas de maus-tratos e abusos de toda espécie tem verdadeiro pavor de pessoas e sentem-se ameaçados apenas pela proximidade das mesmas. Procurem um especialista em Comportamento Animal e confirmem estas informações.
Cães domésticos mantidos soltos nas ruas são de responsabilidade única e absoluta do tutor que tem o dever de mantê-los dentro de casa, pela segurança das pessoas e do próprio animal.
Pit bulls não são cães agressivos por natureza – nenhum cão nasce um assassino em potencial, mas o tutor pode transformá-lo em uma arma letal. No próprio CCZ Campinas temos vários cães dessa raça, vítimas de abandono e maus-tratos. Cães extremamente dóceis e companheiros. Alguns encontraram um final feliz e hoje vivem em um lar amoroso e saudável, desfrutam de muito cuidado e carinho. Mas ainda há muitos por lá que não tiveram a mesma chance.
Pergunte a um voluntário que trabalha pela causa animal quantos casos de crueldade de humanos contra animais eles presenciaram, quantos animais espancados e mortos por humanos eles viram ou souberam de algum caso assim e vocês verão que são infinitamente maiores que os ataques de cães que ferem pessoas. E não há denúncia. E não há matéria. E a mídia não divulga. Há poucos jornalistas que se importam em divulgar casos de crueldade contra animais, mas eles existem e os animais agradecem – e nós voluntários também pois, afinal, ecoamos suas vozes sofridas de quem não fala a língua dos seres humanos.
Mas nós, voluntários da causa animal, falamos a linguagem do amor e, dessa maneira, conseguimos nos comunicar com aqueles a quem temos o dever de proteger e amparar. Sugiro que deêm uma olhada na cartilha que o próprio CCZ Campinas elaborou, material muito informativo e essencial para quem tem ou pretende ter um animal, e verão que todas as informações dizem respeito à guarda responsável.
Peço a gentileza de avaliação criteriosa das informações aqui contidas e reflexão profunda sobre as mesmas.
Atenciosamente,
Letícia Cavichioli
Campinas registra nove ataques de cães por dia
Situação é considerada epidemia pelo veterinário do CCZ
Delma Medeiros
Medo, sensação de impotência e, em boa parte dos casos, sequelas que vão ficar para sempre. O Centro de Controle de Zoonoses de Campinas (CCZ) registra uma média de nove casos de ataques de cães por dia na cidade. A estatística é menor que a estadual, de pelo menos dez pessoas atacadas a cada hora, de acordo com levantamento da Secretaria de Estado da Saúde, mas assusta e preocupa. “O número é bem maior, porque há muita subnotificação. Mordidas pequenas, arranhões e ataques sem maior gravidade, em geral, não são notificados”, afirma o médico veterinário do CCZ, Ricardo Conde Alves Rodrigues. “Mesmo assim, o número de notificações é bastante alto. Trata-se de uma epidemia”, acrescenta.
Independentemente da gravidade dos ferimentos, quem já esteve diante de um cão feroz não se esquece. “Foi um grande susto. A sensação é de terror, de muito medo mesmo”, diz o aposentado Hélio Muller Pinto, de 81 anos, atacado por um cachorro sem raça definida na Rua Clara Camarão, no Jardim Amazonas, onde mora, no último dia 31. O aposentado saiu de casa para a caminhada diária, quando um dos cinco animais de uma vizinha veio em sua direção. “O problema é que, quando um ataca, os outros vêm atrás. A sorte é que consegui puxar a perna rapidamente, evitando um mal maior. Minha calça rasgou de fora a fora. Mas só a ponta do dente do cachorro atingiu minha perna”, conta Muller, que, desde então, só sai para caminhar munido de um pedaço de pau para se defender de outros ataques.
O menino Renan Henrique Sousa Santos, de 10 anos, não teve a mesma sorte e parte de seu couro cabeludo foi arrancado após ser atacado por um cão mestiço da raça pit bull no bairro São Quirino, também no final de janeiro. O animal pertence à tia do menino e o atacou no quintal da casa dela. Ele foi atendido no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e terá de passar por várias cirurgias de enxerto.
Atacada por um pit bull há quatro anos, a estudante Camila Brustolin, hoje com 19 anos, não se esquece. “Sempre tive medo de cachorro grande e, agora, tenho pavor mesmo, principalmente de pit bull. É uma raça imprevisível. Vejo um e tenho vontade de sair correndo”, afirma Camila. Ela conta que treinava com um grupo de amigos na pista de bicicross de Paulínia e o cachorro já havia até brincado com algumas pessoas. “Mas, de repente, avançou para cima de mim. A sorte é que estava com uma calça grossa e larga, então ele não chegou a me morder, só rasgou a calça e me deixou com hematomas. Mas foi bem difícil tirá-lo de cima de mim”, lembra.
Para o veterinário do CCZ, não há como eliminar o problema, mas é possível amenizar os riscos com algumas medidas preventivas, a começar pela posse responsável e pelo tratamento adequado dos animais. “Manter os cães domiciliados, com contenção adequada, evita fugas e eventuais ataques”, afirma. É justamente à falta de cuidado com os animais que o aposentado Hélio atribui os momentos de pavor que experimentou. Segundo ele, uma vizinha tem cinco cachorros e deixa todos soltos na rua. “Eles já avançaram em várias pessoas. Já avisamos a ela que os cachorros são bravos, mas não adiantou nada”, lamenta Muller.
Rodrigues ressalta, no entanto, que a maioria dos ataques ocorre mesmo dentro das casas. “Por isso, é importante conhecer o perfil da raça e do animal antes de adotar ou adquirir um cachorro”, orienta. A escolha deve ser feita conforme o núcleo familiar. “Se a família tem um bebê ou criança pequena, deve evitar raças de grande porte ou com histórico de agressividade”, orienta. Para adotar um animal adulto também é importante se informar sobre a sua vida pregressa.
Outras atitudes diminuem as chances de um ataque. “O primeiro cuidado é nunca deixar uma criança sozinha com o cão”, alerta Rodrigues. Não mexer com o animal quando ele está se alimentando ou com ninhada recém-nascida, evitar contato físico com cão desconhecido, redobrar o cuidado ao administrar remédio ou tratar um cachorro machucado e manter o animal dentro das residências são medidas que também ajudam a evitar mordidas e arranhões. Ao perceber o ataque iminente de um cão na rua e não houver certeza de conseguir se abrigar, a melhor opção é ficar parado, orienta ainda o veterinário. “Ele pode só cheirar e ir embora. Mas, se correr, aí é certo o ataque”, diz.
DICA DO LEITOR
Bibliotecária
Li a matéria sobre o cão mestiço de pit bull que atacou o garoto Renan, em Campinas. É claro que ninguém gostaria de ser atacado por um cão, mas todos têm o direito de dar sua versão e, nesse caso, o animal não tem quem o defenda.
Como todas as matérias têm que mostrar os dois lados da questão, gostaria que fosse feita uma matéria falando sobre os animais acorrentados. Aquele animal estava acorrentado, num espaço muito pequeno para o tamanho dele, e não sei se essa é a vida cotidiana dele. Claro que um animal tratado dessa maneira, em algum momento, vai ter uma reação de rebeldia, como qualquer outro ser vivo teria.
A falta de esclarecimentos, a quase inexistência de campanhas contra maus-tratos e direitos dos animais, contribuem para casos como esses.”
SAIBA MAIS
Pelos dados do Instituto Pasteur, a relação entre cães e humanos em Campinas é de um animal para sete pessoas. A estimativa é de que a população canina na cidade some 152,8 mil animais. Ainda segundo cálculos do Pasteur, aproximadamente 62% dos cães vivem dentro das casas, 30% têm dono, mas vivem soltos nas ruas, e os demais são errantes, sem donos ou comunitários.
OS NÚMEROS
· ATAQUES EM CAMPINAS
· ATAQUES NO ESTADO (*)
FERIMENTOS CAUSADOS PELOS CÃES
(*) Levantamento entre 2005 e 2009 nos serviços de saúde por intermédio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan)
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde e Centro de Controle de Zoonoses de Campinas
Notificação contribui no controle da raiva
A notificação de todos os casos de ataques de animais, graves ou leves, é muito importante para a saúde pública, diz o veterinário do CCZ, Ricardo Conde Alves Rodrigues. “As notificações permitem que o serviço tenha uma visão mais real da situação. Além disso, é uma forma de prevenir doenças”, afirma.
Segundo Rodrigues, todo cão que morde uma pessoa precisa ser observado para identificar eventuais sinais de raiva canina e outras doenças. “A raiva é a doença mais grave, mas existem outras transmitidas pelos cães, como tétano, infecções bacterianas, além do trauma psicológico”, diz o veterinário. “Se a pessoa for agredida por um cão ou qualquer outro animal, é fundamental que procure um serviço de saúde, mesmo se o ferimento não for grave, pois pode haver a necessidade de tomar a vacina contra a raiva”, reforça a diretora do Instituto Pasteur de São Paulo, Neide Takaoka.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina contra a raiva humana gratuitamente em postos de saúde e hospitais públicos. Neide explica ainda que, diferentemente do que ocorria em décadas anteriores, a vacina contra a raiva não é mais aplicada na barriga. São cinco doses, e no braço do paciente.
O último caso de raiva humana no Estado foi registrado em 2001, na cidade de Dracena, em uma mulher que foi contaminada por seu gato.
A relação dos locais onde é aplicada a vacina contra raiva está disponível no site do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Estado da Saúde, no endereço http://www. cve.saude.sp.gov.br/htm/imuni/posto_sorod1.htm
Festa de aniversário acabou em tragédia em Paulínia
Menina que teve rosto desfigurado há 4 anos ainda passa por cirurgias
Os ataques de cães ferozes na região de Campinas têm feito vítimas de todas as idades. Um dos casos mais dramáticos foi o da menina Camila Silva Goés. Em abril de 2006, quanto tinha 4 anos, ela teve o rosto dilacerado por um pit bull em Paulínia. A menina foi atacada quando voltava com o pai de uma festa de aniversário. O animal escapou do quintal e avançou para o rosto dela. Camila foi socorrida pelo pai, que também sofreu ferimentos nos braços e cabeça.
A menina teve parte da boca, bochechas e nariz arrancados pelo cão, já passou por oito cirurgias e terá que enfrentar muitas outras, segundo o pai, Dário Silva Góes. A última cirurgia, feita em dezembro pela equipe do cirurgião Ivo Pitanguy, custou cerca de R$ 21 mil e só foi possível graças à ajuda recebida pela família. Foi uma cirurgia funcional para corrigir falhas na fala e alimentação. Camila ainda terá que usar aparelho ortodôntico.
“É muito difícil. As pessoas pensam no acidente, mas não imaginam o que é o dia a dia para nossa família. Mesmo passados quatro anos, a situação ainda é muito difícil”, afirma Góes. Ele conta ainda que a menina voltou a ser atendida por uma psicóloga porque continua muito abalada com tudo que aconteceu.
Em junho de 2008, o ataque de um pit bull causou a morte do aposentado Adelino Gonçalves de Souza, de 83 anos. O animal vivia numa escola estadual do Jardim Figueira 2, em Campinas. O aposentado foi atacado dentro das dependências da unidade de ensino. Em maio do mesmo ano, em Valinhos, os ferimentos decorrentes do ataque de um pit bull causaram a morte da menina Beatriz da Silva Santos, de 4 anos. O animal era de sua tia-avó e atacou a menina dentro de casa. (DM/AAN)