Perdemos um verdadeiro e grande herói, Rafik Hassan Qassem, cuja parte da vida foi dedicada a proteger os indefesos cães e gatos que habitam as ruas devastadas pela guerra. Por meses, Rafik desafiou o perigo e enfrentou os horrores das bombas e mísseis, movido apenas por seu amor incondicional pelos animais que dependiam dele. No domingo (26/05), quando saía de moto com um amigo para alimentar os mais vulneráveis, eles foram mortos em um covarde ataque aéreo israelense na vila de Aita al-Shaab, no sul do Líbano.
Todas as manhãs Rafik saía pelas ruas da aldeia alimentando cães e gatos que foram abandonados por refugiados da guerra. Amigos de Rafik disseram ao Arabic News, que ele costumava obter a comida dos cachorros e gatos a partir de sobras de restaurantes, outras vezes, ele pagava o alimento dos animais com seu próprio dinheiro.
Ele já havia sido aconselhado por familiares e muitos colegas a deixar a aldeia, mas Rafik sempre respondeu que ficaria porque “os animais estão sozinhos lá”. “Os cães e gatos não encontrariam ninguém que pudesse alimentá-los e viveriam com medo”, lembram-se de Qassem ter dito.
Segundo a mesma fonte, Qassem sobreviveu a outro ataque aéreo israelita quando um míssil aterrou perto dele há dois meses, mas isso não o impediu de permanecer na aldeia.
O prefeito de Aita al-Shaab, Mohammad Srour, em entrevista ao jornal L’Orient Today, lamentou profundamente a morte e disse que Rafik Qassem era mecânico de carros. “Ele nunca saiu da aldeia, nunca tocou numa arma. Estou muito triste por Rafik, assim como estou por todos os que morreram neste conflito”, disse ele.
Rafik não era apenas um protetor de gatos e cães; ele era um símbolo de compaixão e resistência em meio ao caos. Sua dedicação ia além do simples ato de alimentar e cuidar dos animais abandonados. Ele oferecia a eles um refúgio, um raro sopro de normalidade em um mundo de destruição. Rafik enxergava nos olhos assustados dos animais uma dor que espelhava a de seu próprio povo, e com isso, redobrava seus esforços, ciente de que, através desse ato de bondade, trazia um pouco de luz para a escuridão que os cercava.
O coração de Rafik parou, mas seu legado continua a pulsar nos corações daqueles que acreditam que o amor e a compaixão são mais fortes que a violência. Ele foi cruel e covardemente arrancado da vida, mas a memória de sua bravura e dedicação viverá eternamente. Que sua alma descanse em paz, sabendo que sua coragem inspirou muitos e que os gatos que ele amava ainda sentirão sua presença em cada vento suave que acaricia suas peles.
Rafik Hassan, você pode ter partido, mas seu espírito viverá para sempre entre nós. A ANDA rende aqui nossas homenagens expressando toda nossa gratidão por nos mostrar que mesmo no inferno, podemos encontrar um pedaço de céu.
Com a morte centenas de animais morrerão de fome. Os bons morrem cedo. Sem mais palavras