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EXPLORAÇÃO ANIMAL

Protesto contra PL que prevê descanso a cavalos forçados a puxar carroça reforça especismo

A proposta estabelece que os cavalos não sejam explorados para puxar carroças aos sábados e domingos. Embora beneficie os animais, o projeto não os liberta da exploração e dos maus-tratos

22 de setembro de 2021
Mariana Dandara | Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Ilanna Serena/G1

Um protesto realizado na manhã desta quarta-feira (22) por carroceiros de Teresina, no Piauí, expôs o especismo que permeia a sociedade. Contrários a um projeto de lei que prevê dias de descanso para cavalos explorados para puxar carroças, os manifestantes atearam fogo em pneus e interromperam o trânsito na Avenida Marechal Castelo Branco, em frente à Câmara Municipal, das 7h às 9h.

Além de impor descanso aos finais de semana para os cavalos, a proposta também prevê auxílio de R$ 300 aos carroceiros. Eles, no entanto, discordam do valor e, por isso, manifestaram-se. Carroceiro há vinte anos, Almir dos Santos, de 61 anos, criticou também a proibição do uso do veículo de tração animal aos finais de semana.

O idoso argumentou que a profissão da qual faz parte é “marginalizada” e “sofre preconceito”. Disse ainda que é “uma profissão como outra qualquer qualquer” e que é o meio de “ganhar o pão de cada dia”. “Precisamos trabalhar aos finais de semana”, disse ao G1 o carroceiro, que argumentou que o faturamento costuma ser maior aos sábados e domingos.

“Nós não maltratamos animais, pode até ter algum que faça, mas não são todos”, afirmou Almir ao defender a profissão sem levar em consideração os maus-tratos inerentes à tração animal, como o incômodo e as lesões causadas na língua e na boca dos cavalos por conta do freio, além do peso sobre a coluna desses animais, que mesmo quando não é excessivo pode gerar problemas de saúde, conforme comprovado por estudos.

Há ainda a exploração, que independe dos maus-tratos. Um animal bem tratado ainda assim pode ser explorado. Isso porque forçar um cavalo a realizar uma atividade anti-natural para a espécie, obrigando-o a realizar ações que ele não faria por conta própria e que não o beneficiam, apenas para que um humano seja favorecido, configura exploração.

Acordo entre vereadores e carroceiros

Um acordo entre vereadores e carroceiros presentes na manifestação resultou em uma readequação do valor do auxílio, que passou para R$ 600. Para isso, outro projeto de lei precisará ser apresentado, conforme exposto pelo presidente da Câmara, Jeová Alencar (MDB), que informou que a nova proposta já está sendo elaborada pela prefeitura.

Foto: Ilanna Serena/G1

Ao comentar o caso, a presidente da Associação de Trabalhadores em Veículos de Tração Animal, Tina Lima, disse que “todos os carroceiros estão felizes e de acordo com a decisão”. “Eles disseram que o projeto foi suspenso, um projeto que prejudicava os trabalhadores e suas famílias. Queremos respeito e esperamos que a decisão seja mantida”, afirmou.

Para que a nova proposta seja elaborada, foi marcada para esta quinta-feira (23) uma reunião entre carroceiros e representantes da Prefeitura de Teresina. O objetivo é debater formas de beneficiar os animais sem prejudicar os trabalhadores.

Por uma sociedade sem tração animal

Embora a proposta a ser elaborada possa, de fato, beneficiar os cavalos ao livrá-los da exploração duas vezes na semana, o especismo permanece. Isso porque a única forma de combater esse tipo de preconceito que estabelece a superioridade humana às demais espécies é colocando fim a práticas exploratórias. Sendo assim, o projeto de lei ideal deveria proibir veículos de tração animal.

A demanda dos carroceiros pela sobrevivência, no entanto, é legítima. Mas é preciso, porém, não só prover alternativas de sustento a essa categoria, como conscientizar a sociedade como um todo sobre a necessidade dos humanos terem seus direitos resguardados sem que para isso os animais tenham que perder seus próprios direitos.

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