O objetivo mais popular das negociações internacionais para proteger a biodiversidade é preservar ao menos 30% do planeta até 2030, mas alcançar um acordo sobre este percentual não é suficiente – alertam participantes das negociações.
Delegações do mundo todo se reuniram até esta terça-feira (29) em Genebra, para chegar a um acordo sobre a proteção da biodiversidade que depois será adotado pela COP15 do Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB).
As ONGs esperam que isso ajude a acabar com a destruição da natureza, depois que os países violaram seus compromissos durante a última década.
Uma coalizão de mais de 90 nações quer proteger ao menos um terço da terra e dos oceanos até 2030, um objetivo chamado de 30×30 e que está no texto negociado.
“O mundo inteiro está convencido de que proteger a natureza é crucial para o futuro do planeta, inclusive das grandes empresas e da indústria”, considera o diretor do Centro de Ações de Proteção da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Trevor Sandwith.
Um objetivo numérico é “fácil de alcançar e de medir”, mas é apenas uma parte da equação, acrescenta.
O acordo que for adotado em Kunming, China, também deve garantir que as áreas protegidas sejam administradas de forma eficaz e equitativa.
– Povos indígenas –
O tema é particularmente sensível para os povos indígenas, que lutam para proteger suas terras ancestrais e seus modos de vida.
As comunidades indígenas vivem em territórios que abrigam 80% da biodiversidade restante da Terra, segundo um relatório recente dos especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês).
Em 2020, 17% dos territórios terrestres e 7% das áreas marítimas e costeiras estavam protegidas. O objetivo inicial era 17% e 10%, respectivamente.
Para alcançar 30%, as delegações apostam em “outras medidas de conservação eficazes e equitativas”, incluindo áreas com atividades humanas compatíveis com a proteção da natureza.
Isso abre a porta para a inclusão de terras administradas e pertencentes aos povos indígenas. Após anos de marginalização e de deslocamento forçado, seus representantes querem, agora, garantir que suas comunidades terão a palavra.
Se a maioria apoiar o objetivo 30×30, sua implementação “não será simples”, alerta um delegado de um país do norte, acrescentando que África do Sul e China, país anfitrião da COP15, estão preocupados com isso.
“Estou otimista, mas ainda resta trabalho por fazer”, completa.
A decisão da Índia de apoiar esse objetivo pode pesar na balança.
“A proteção [da natureza] acontece apenas quando se proporciona às espécies um espaço para viver”, disse à AFP em Genebra o presidente da Autoridade Nacional de Biodiversidade da Índia, Vinod Mathur.
A Índia protegeu 22% de seu território, graças a parques nacionais e a reservas para os tigres. Aumentar esses espaços protegidos seria “muito difícil”, devido a uma forte competição pelas terras, explica Vinod Mathur.
– “Precisamos de 100%” –
A sessão de negociações em Genebra termina nesta terça-feira sem a negociação detalhada do objetivo de 30×30.
Para além de um percentual, no entanto, é preciso se concentrar na qualidade dos territórios protegidos, insiste Heather Bingham, que lidera a iniciativa Planeta Protegido.
“É um grande desafio: sabemos muito bem onde estão as áreas protegidas, mas não sua eficácia”, acrescenta.
O uso de dados satélites poderia ajudar a mudar esta situação.
Para Linda Krueger, da ONG Nature Conservancy, as novas áreas protegidas terão de passar por um teste. “Temos de ver se a biodiversidade se mantém, ou se melhora por lá”, disse.
O objetivo de proteger ao menos 30% do planeta não deve frustrar os esforços necessários para preservar a natureza em outros lugares, aumentando os espaços verdes nas cidades e reduzindo os pesticidas na agricultura.
“Precisamos de 100%. Já perdemos muita natureza”, acrescenta.