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Proteção de zonas úmidas é essencial à preservação da gaivina-dos-pauis

2 de maio de 2010
3 min. de leitura
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Em meados de março foi avistado um exemplar da gaivina-dos-pauis (Chlidonias hybrida) na lagoa do Negro, ilha Terceira. De acordo com os especialistas, a ave permaneceu no local por pelo menos três semanas, o que reforça a hipótese de ter circulado por outras zonas úmidas do arquipélago. O episódio até poderia passar despercebido, não fosse o fato de não se avistar uma gaivina-dos-pauis nos Açores há 50 anos.

Foto: Challiyan / Wikimedia Commons

Segundo Eduardo Dias, pesquisador da Universidade dos Açores, “a lagoa do Negro serviu como zona de resguardo, alimentação e proteção durante um tempo”, o que permitiu depois à ave retomar a sua rota original. O episódio da gaivina-dos-pauis acabou sendo uma contribuição a “mais para a salvação da espécie”.

Mais do que tudo, esta presença veio reforçar a importância dos Açores “como plataforma no meio do Atlântico, para espécies que estão perdidas ou em viagem e param para descansar ou se alimentar”. E não foi a primeira vez que apareceram espécies de outras zonas, como a águia-americana na ilha das Flores. “Existem provas da passagem de cerca de 300 espécies só nos últimos 50 anos.”

A gaivina é conhecida pelo voo rasante que faz junto dos pauis para encontrar alimento – insetos e peixes que estejam na superfície da água. Distingue-se de suas congêneres pela associação a zonas úmidas, já que as outras gaivinas são de zonas salgadas e marítimas. Originária do Mediterrâneo e Ásia Menor, onde pode ser observada com relativa frequência, existe também em Portugal continental.

Contudo, apesar de algumas zonas de distribuição confirmadas no centro e sul do país, seu caráter de nidificação irregular torna difícil estimar o número exato de indivíduos. Os dados do Livro Vermelhos dos Vertebrados apontam para um valor que não ultrapassa os 250 indivíduos. Apesar de não existirem grandes evidências sobre o declínio da espécie, está classificada em Portugal com o estatuto de Criticamente em Perigo. Não só pelo reduzido sucesso na reprodução, como pela dependência, da população portuguesa, da imigração de outras gaivinas-dos-pauis.

Entre as principais ameaças inclui-se a drenagem de zonas úmidas – habitat favorável, por excelência, à sua nidificação -, a regularização intensiva e desajustada dos rios e outros cursos de água, que aniquila a vegetação flutuante onde a gaivina-dos-pauis faz os ninhos e o aumento da presença humana junto das colônias de nidificação. Por outro lado, a instalação de linhas de transporte de energia em zonas que cruzem as rotas de migração provocam algumas mortes. Um cenário que se repete com a instalação de parques eólicos.

Para que possa ser protegida é essencial, antes de mais, proteger as zonas úmidas, manter os cursos de água e vegetação associada. Também podem ser criadas zonas de nidificação artificial, para atrair aves reprodutoras, uma medida com grande sucesso na Itália, depois da colonização de habitats artificiais, como arrozais e aquaculturas.

Entre as medidas de orientação do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade também está  assinalada a melhoria de fiscalização sobre a perturbação, a proibição de instalação de linhas de transporte de energia nas zonas de maior importância para a espécie ou a introdução de sinais anti-colisão nas já existentes.

“Vários ornitólogos acreditam que, com as condições ecológicas necessárias do meio selvagem, as gaivinas-dos-pauis poderiam passar de visitantes casuais a nidificantes nos Açores.” Mas para que isso possa acontecer é essencial que sejam renaturalizadas diversas zonas das ilhas.

Fonte: DN Ciência



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