Proteger apenas 1,22% da superfície terrestre, o que equivalente a 164 milhões de hectares, seria suficiente para evitar a extinção das espécies raras mais ameaçadas do mundo, aponta o relatório Imperativos de Conservação: Protegendo os Últimos Locais Terrestres Desprotegidos que Abrigam Biodiversidade Insubstituível, produzido pela iniciativa Global Safety Net (GSN) e publicado na revista Frontiers in Science.
O documento, que reuniu um grupo internacional de ecologistas e especialistas em conservação representando 20 instituições acadêmicas e organizações não governamentais, defende que locais chamados “Imperativos de Conservação” são uma questão de extrema urgência e devem ser vistos como a principal prioridade à medida que os governos desenvolvem metas em linha com o objetivo global “30 por 30” – proteger 30% da superfície da Terra até 2030.
Os pesquisadores identificaram 16.825 áreas em todo o mundo, cobrindo aproximadamente 164 milhões de hectares, que necessitam de proteção urgente, a fim de evitar as extinções previstas de milhares de espécies raras. Quase 61% estão localizados nos trópicos, sendo 76% especificamente em florestas tropicais, e 38% estão em estreita proximidade com áreas protegidas existentes, o que as tornam mais fáceis de serem conservadas.
“Uma das descobertas marcantes do nosso estudo é a concentração de locais raros. Mais de 80% ocorrem em apenas 30 países e 72% em apenas 10 países, com o Brasil e as Filipinas representando mais de um terço de todos os locais do Imperativo de Conservação”, disse o coautor Anup Joshi, da Universidade de Minnesota, em comunicado de imprensa.
O relatório ainda alerta sobre os atuais esforços globais de conservação. Os investigadores calcularam que, embora 120 milhões de hectares tenham sido adicionados à Base de Dados Mundial sobre Áreas Protegidas entre 2018 e 2023, apenas 11 milhões de hectares que abrigam espécies raras, de distribuição limitada e ameaçadas, foram colocadas sob proteção.
“Muitas espécies na Terra são raras, o que significa que têm áreas de distribuição restritas, ocorrem em densidades muito baixas ou apresentam ambas as condições”, disse o principal autor, Eric Dinerstein, da organização Resolve. “Nosso estudo mostra como esses bolsões desprotegidos de raridade são altamente concentrados, cobrindo uma área surpreendentemente pequena. Visar estas áreas para proteção imediata oferece uma vitória alcançável para a conservação da natureza, evitando a sexta grande extinção da vida na Terra.”
Os locais dos Imperativos de Conservação abrigam mais de 4,7 mil espécies ameaçadas, incluindo mamíferos e aves que dependem de habitats intactos, como o tamaraw nas Filipinas e o macaco-de-crista-celebes na Indonésia, e anfíbios, répteis e espécies de plantas raras com distribuição restrita.
Proteger os locais identificados no estudo custaria aproximadamente US$ 34 bilhões (R$ 185,3 bilhões) por ano durante os próximos cinco anos, apontou o coautor Karl Burkart. do One Earth. “Isto representa apenas 0,03% do PIB global e menos de 2% dos subsídios prejudiciais ao ambiente fornecidos anualmente pelos governos – um pequeno preço a pagar para evitar milhares de extinções iminentes de plantas e animais”, salientou.
Para chegar a esse valor, os pesquisadores desenvolvem um modelo global de custo da terra, utilizando dados recolhidos de mais de 800 projetos de proteção ao longo dos últimos 14 anos, ajustados pela inflação.
Embora o modelo se concentre na aquisição de terras privadas e nos arrendamentos de longo prazo, outras abordagens de gestão de terras são provavelmente necessárias para proteger estas áreas, incluindo a redesignação governamental e a gestão territorial indígena.
Fonte: Um Só Planeta