Por Vinicius Siqueira (da Redação)
Acadêmicos chineses e defensores dos direitos animais e da ética dizem que a proposta da Administração de Silvicultura Estatal em melhorar a “gestão” de animais selvagens pode levá-los a níveis ainda maiores de exploração nas indústrias do entretenimento e de medicamentos, e se opõem rigidamente. As informações são do New York Times.
A proposta, apelidada de “Licenças para Domesticação e Criação de Animais Selvagens”, adicionaria duas novas licenças para a exploração de animais selvagens: em circos e em “produções e negócios”, segundo aqueles que analisaram o documento oficial. Ela se soma a três licenças já existentes: resgate e proteção, pesquisa científica e educação científica popular, que já são discutidas intensamente.
A Administração de Silvicultura primeiramente apresentou as propostas ao público por meio de comentários em fóruns online no dia 20 de novembro, mas parou de pedir opiniões no fim da semana passada. Nesta segunda-feira (16), representantes de grupos de direitos animais e acadêmicos realizaram uma seminário no Ministério do Centro de Proteção Ambiental para oficiais da Educação Ambiental e Comunicações, de maneira que conseguissem esclarecer suas visões. Nenhum esteve presente.
“Essas coisas – circos com animais e o comércio de animais selvagens – existem há muito tempo e agora eles dizem, ‘vamos melhorar esta situação’. Então o governo que teria o papel de regulamentar e controlar, está em processo de legalizar estas práticas”, disse Jin Yipeng, experiente veterinário e professor na Universidade Agrícola da China, em Pequim. No fim de cada evento ele ressalta, “se trata de dar passos para trás”.
Defensores animais, ele diz, temem que este movimento se reflita na ganância das pessoas, “elas podem fazer muito dinheiro desta forma”, disse o Sr. Jin.
O governo chinês estão sob crescente pressão das maiores companhias da tradicional medicina chinesa para aumentar o número de ursos confinados em fazendas onde suas bílis são extraídas como um ingrediente farmacêutico.
Lá eles são presos por mais de 30 anos dentro de pequenas celas, passam por uma vida de tristeza, maus-tratos, desnutrição e completa negligência. São mortos para extração de suas vesículas por meio de cateteres e bisturis enquanto seus corpos permanecem abertos.
“O governo não pode parar de olhar animais selvagens como um recurso”, mais do que uma categoria de vida que deveria ser protegida, disse um defensor animal que não quis se identificar.
O artigo primeiro da proposta afirma que seu objetivo é “proteger, desenvolver e usar racionalmente os recursos de animais selvagens, intensificar a domesticação e aumentar a criação de animais selvagens, e proteger os direitos legais das pessoas e das empresas em domesticar e criar animais selvagens”.
No seminário, defensores argumentaram que as performances de animais em circos necessariamente envolvem crueldade e mostraram fotos de animais machucados sangrando para provar a tese. O governo parou de levar para debate a proposta de novas licenças para fazendas de ursos em 1993, os defensores disseram, e temem que a nova proposta facilitará a quebra das restrições, que já são informalmente violadas. O governo diz que há 68 licenças de fazendas de ursos operando atualmente, confinando milhares de ursos.
“Nós deveríamos estar falando sobre proteger animais selvagens, mas há muitos pontos propostos na nova regulamentação que, na verdade, aumenta o uso comercial dos mesmos”, disse Mang Ping, professora no Instituto Central de Socialismo, onde pesquisa ética ambiental.
A proposta contradiz a lei de proteção de animais selvagens chinesa, que não menciona circos ou comercialização, disse Mang. E eles violaram o espírito das decisões tomadas no 18º Congresso do Partido Comunista em 2012, que convergiram em uma proteção mais forte sobre o meio ambiente (e, por consequência, sobre os animais que nele vivem). Já a nova proposta pede uma proteção menos abrangente.
“Um dos problemas desta proposta é que ela não se adéqua às leis”, termina Mang, relatando que é estranho o próprio governo aprovar tal medida.