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DESGOVERNO

Projetos de Trump, aumentam a ameaça de extinção de espécies já vulneráveis

4 de março de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

A ofensiva da administração Trump contra agências científicas federais, incluindo demissões em massa e cortes de financiamento, está colocando em risco a sobrevivência de espécies ameaçadas de extinção e prejudicando esforços críticos de pesquisa climática, alertam especialistas demitidos. A criação de um “departamento de eficiência governamental”, liderado pelo bilionário Elon Musk, resultou na demissão de milhares de funcionários de agências como os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) e a Fundação Nacional de Ciências (NSF), além de impactar diretamente a conservação da vida selvagem.

Nick Gladstone, biólogo especializado em ecologia de cavernas e ex-funcionário do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA (USFWS), foi um dos mais de 400 profissionais demitidos em estágio probatório. Gladstone trabalhava na recuperação de 15 espécies de invertebrados subterrâneos ameaçados de extinção no centro do Texas, incluindo besouros e aranhas raros. Sua demissão deixou essas espécies, que já enfrentam ameaças como o desenvolvimento urbano e a degradação de habitats, sem a proteção necessária.

“Sem meu cargo preenchido, essas espécies serão negligenciadas pelos próximos anos”, lamentou Gladstone. Ele destacou que esses animais são indicadores críticos da saúde do Aquífero Edwards, fonte de água para mais de 2 milhões de texanos. “Essas são espécies clássicas de ‘canário na mina de carvão’. Estou profundamente desanimado e preocupado que os esforços futuros de conservação cessem.”

A situação de Gladstone não é isolada. Funcionários responsáveis pela recuperação do furão-de-patas-pretas, uma espécie emblemática ameaçada de extinção, também foram demitidos, e os fundos para sua conservação foram congelados. O Projeto 2025, um manifesto de direita publicado antes das eleições do ano passado, criticou a Lei de Espécies Ameaçadas, argumentando que ela impede o desenvolvimento econômico e sugerindo a retirada de espécies como o lobo cinzento e o urso pardo da lista de proteção.

Apesar de uma carta de demissão alegar que as habilidades de Gladstone não atendiam às necessidades do departamento, seu supervisor elogiou seu desempenho em uma avaliação recente, destacando conquistas significativas em pouco tempo. “Há muito que precisa ser feito para proteger adequadamente essas espécies, e mesmo meu papel foi insuficiente para acompanhar tudo isso”, disse Gladstone.

A crise se estende além da conservação da vida selvagem. Cientistas dedicados a enfrentar a crise climática e proteger os sistemas alimentares dos EUA também foram impactados. Um cientista de adaptação climática do US Geological Survey (USGS), demitido em estágio probatório, alertou que a interrupção das pesquisas climáticas é especialmente preocupante em um momento de mudanças aceleradas.

“Não estamos em um momento em que podemos desacelerar a pesquisa climática”, disse o cientista, que preferiu permanecer anônimo. “Estávamos focados em como o clima está mudando e conduzindo o planejamento de cenários para melhor usar nossos recursos. Cortar cargos sem considerar o impacto promove mais desperdício governamental.”

A demissão de funcionários em estágio probatório foi considerada ilegal pelo gabinete do procurador especial, que solicitou a reintegração de alguns profissionais com salários retroativos. No entanto, a execução dessa decisão depende do Merit Systems Protection Board, que recebeu um pedido de suspensão das demissões por 45 dias.

Gretchen Goldman, presidente da Union of Concerned Scientists, criticou duramente as ações da administração Trump. “Eles interferiram em pesquisas médicas que salvam vidas, retiraram financiamento para iniciativas tecnológicas e estão demitindo funcionários públicos que aplicam leis essenciais para proteger o meio ambiente”, disse Goldman. “O governo Trump está enterrando informações pelas quais o público pagou e demolindo funções governamentais das quais todos dependemos.”

Enquanto agências como o USFWS, o USGS e o Departamento de Agricultura dos EUA se recusaram a comentar, a comunidade científica continua a alertar sobre os impactos de longo prazo dessas decisões. A destruição de décadas de conhecimento e esforços de conservação não apenas ameaça a biodiversidade, mas também coloca em risco a saúde ambiental e econômica do país.

A história de Gladstone e de outros cientistas demitidos serve como um alerta urgente: a ciência e a conservação não podem ser pausadas sem consequências graves para o planeta e as gerações futuras.

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