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Projeto tenta desvendar hábitos da única espécie de golfinho brasileiro

17 de outubro de 2011
3 min. de leitura
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Foto: Reprodução/Internet

Todos já estão a postos nos barcos, casacos fechados contra o vento frio do fim do inverno catarinense. “Tudo certo, pessoal. Let’s go. ¡Vámonos!”, avisa pelo rádio a bióloga Marta Cremer.

É o começo da maior operação já feita no Brasil para estudar as toninhas (conhecidas, em latim científico, como Pontoporia blainvillei).

Única espécie de golfinho ameaçada de extinção no país, as toninhas mobilizaram uma força-tarefa internacional na baía da Babitonga, em São Francisco do Sul (a 188 km de Florianópolis).

Para coletar dados sobre o animal, cujos hábitos muitas vezes ainda são um mistério para os cientistas, o grupo identificou com microchips cinco animais.

Os dados, enviados via satélite, trarão informações sobre as viagens dos cetáceos e detalhes sobre o tempo e a profundidade de seus mergulhos.

Mais de 30 pessoas, vindas do Brasil, dos Estados Unidos e da Argentina, participam da iniciativa. Além de biólogos, veterinários e estudantes.

“Eles são ágeis para manobrar o barco, cercam os animais como ninguém”, explica Cremer, chefe do Projeto Toninhas, professora da Univille (Universidade da Região de Joinville) e responsável por controlar a confusão de idiomas e sotaques.

Após 20 minutos cortando as águas escuras da baía, uma estudante de doutorado avista, de binóculo, o que parece ser um grupo.

“Coisa incrível”

“Onde? Que coisa incrível!”, diz Haydée Cunha, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “É uma sensação muito forte. A primeira vez que eu vi uma toninha viva foi aqui”, conta a bióloga, que até chorou nesse primeiro contato.

A reação dela não é exceção. A concentração de vários grupos de toninhas em um espaço fechado, como na Babitonga, é única no Brasil. Os animais costumam ficar espalhados pela costa.

No grupo, que reúne pesquisadores com vários anos de trabalho sobre esses animais, há muitos que jamais se depararam com um deles vivo na natureza.

Ao contrário de seus “primos” famosos, como o golfinho-rotador, abundante em Fernando de Noronha (PE), e o golfinho-nariz-de-garrafa, protagonista da série “Flipper”, as toninhas são tímidas e não costumam tolerar a interação com humanos.

Embora também salte para a superfície, a toninha tem um pulo bem mais discreto que o dos outros golfinhos.

Alarme falso

“Pessoal, alarme falso. São Sotalia”, avisa Cremer, pelo rádio. Conhecido como boto-cinza, o outro gênero de golfinho que habita a Babitonga enganou os pesquisadores, ao ser visto de longe.

Enquanto os brasileiros apresentam certo ar de decepção, o grupo americano do Sarasota Dolphin Research Program, na Califórnia, não dá bola para a confusão. Eles nunca tinham visto um Sotalia também.

Patrocinado pela Petrobras, o Projeto Toninhas deve receber, até 2012, pouco mais de R$ 1 milhão da empresa. Além da colocação dos microchips, o orçamento prevê também ações de divulgação e conscientização. Hoje, a maior ameaça ao animal é a captura em redes de pesca.

A espécie se alimenta principalmente de pequenos peixes, um tipo de lula e camarão. As toninhas seguem os cardumes pela costa e acabam entrando na rota dos barcos pesqueiros.

Presas nas redes, algumas com vários quilômetros de extensão, as toninhas não têm chance. Acabam morrendo afogadas rapidamente. E, como são animais de reprodução lenta, com apenas um filhote por vez, há o risco de que a reposição natural não seja suficiente para impedir seu desaparecimento.

“É um massacre. Já houve casos de mais de 20 animais mortos de uma vez só. Não queremos que as toninhas terminem como o baiji [golfinho fluvial declarado extinto na China]”, relata Cremer, enquanto pilota o barco na direção de um grupo, agora confirmado, de toninhas.

Os pesquisadores comemoram, muitos batem fotos. Pouco depois, mais dois grupos são avistados. É hora de ensaiar a captura. O grupo argentino e o americano, bem como alguns brasileiros, já têm experiência nessa delicada operação.

Duas boias fazem as vezes de golfinho. O fracasso dessa primeira tentativa não desanima os cientistas. Era só o primeiro dia.

Fonte: Jornal Floripa

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