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EQUILÍBRIO DO ECOSSISTEMA

Projeto Sementes Regenerativas prevê reinserção da palmeira Juçara em Florianópolis (SC)

A proposta é reinserir a espécie nativa, ameaçada de extinção, na Mata Atlântica catarinense

8 de dezembro de 2023
Redação ANDA
6 min. de leitura
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Foto: Muda de palmeira Juçara; Reprodução

O Projeto Sementes Regenerativas implantará um sistema agroflorestal (SAF), no bairro Ribeirão da Ilha, para reinserir uma espécie nativa endêmica da Mata Atlântica, a palmeira Juçara. Como resultado esperado, o projeto prevê, já no primeiro ano, a doação de mais de um milhão de sementes para futuro plantio em terras indígenas Guarani M’bya, localizadas no norte de Santa Catarina, que já compõem a rede de parcerias e apoios do Instituto Muhda.

EQUILÍBRIO ECOLÓGICO

De acordo com a obra “Juçara: a palmeira da Mata Atlântica”, da bióloga Eliza Carneiro, os frutos da Juçara, quando maduros, são de coloração roxo-escura, quase negros, brilhantes e muito nutritivos, já que são ricos em carboidratos e lipídios.

A palmeira Juçara possui um importante papel no ecossistema da Mata Atlântica: no inverno, quando a oferta de frutos frescos diminui, os frutos da Juçara permanecem no ambiente, como alimento nutritivo à fauna da região.

Sejam presos aos cachos, ou caídos no chão da mata, os frutos são de extrema importância para a alimentação de muitas espécies, já que fazem parte da dieta de quase 50 espécies de aves e cerca de 20 espécies de mamíferos.

Das aves que se alimentam de Juçara destacam-se os tucanos, papagaios, jacús, jacutingas, sabiás, arapongas, pavós, surucuás, macucos e algumas espécies de periquitos e tiés.

Dentre os mamíferos a anta, a cotia, a paca, o esquilo caxinguelê, o quati, o macaco-prego, o mono-carvoeiro, o veado-mateiro, o gambá, a raposa, a irara, o cateto, bem como alguns ratos selvagens e preás.

Todas as espécies que se alimentam dos frutos da Juçara, tanto as aves quanto os mamíferos, atuam como dispersores das sementes da palmeira, o que representa papel fundamental na manutenção e expansão da espécie.

LOCAL DA REINSERÇÃO

Foto: Parque Muhda; Reprodução

A agrofloresta será implantada no Parque Muhda. Sede do Instituto Muhda, o Parque é uma área de 96.000m² (com aproximadamente 90% do espaço em Área de Preservação Permanente) e está localizado no Ribeirão da Ilha, bairro considerado Patrimônio Histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com mais de 80% do território inserido no Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri.

O Parque Muhda é um espaço de proteção da vegetação nativa e da biodiversidade da Mata Atlântica, mas é também um congregador dos elementos naturais, abastecendo as famílias vizinhas com a nascente existente no terreno, ampliando redes comunitárias horizontais de distribuição.

O início das atividades foi em 25 de setembro de 2023. O sistema agroflorestal foi é desenhado como um modelo escalável, que retoma alimentos de base biodiversa e espécies com potencial tintorial para aplicação nas artes naturais, que estimula a prática florestal do bioma Mata Atlântica em conjunto com a valorização de hábitos e culturas tradicionais ancestrais, como o tingimento natural e o cultivo de plantas nativas.

No Parque Muhda, conforme o fluxo estimado de turistas visitantes nos primeiros 12 meses, realizado pelo Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE/USP), 15.000 turistas poderão, anualmente, circular pela agrofloresta e conhecer sobre o SAF, a Juçara e seu simbolismo cultural.

A PALMEIRA JUÇARA

Foto: Fruto da palmeira Juçara; Reprodução

Por meio de seus frutos e sementes, a palmeira Juçara simboliza hábitos culturais de alimentação, artesanato e cosmovisão de povos tradicionais de diferentes territórios catarinenses.

Na dimensão técnico-ambiental, o benefício do projeto passa pela otimização da cadeia produtiva de colheita, beneficiamento e ressignificação do resíduo agroindustrial, que passa a ser reutilizado como matéria-prima para práticas artísticas tradicionais, como o artesanato de povos ancestrais e originários.

A implantação de um modelo agroflorestal de Juçara, com espécies de potencial tintório, gerará diversos benefícios transversais, seja pela regeneração de uma área degradada de encosta, como pelo cuidado com a qualidade da nascente local, que irriga as residências de populações ribeirinhas do entorno.

O estímulo à geração de renda dos parceiros produtores e extrativistas de Juçara na região sul do Brasil também é outro benefício, assim como a doação de sementes e mudas para matéria-prima para a prática do artesanato Guarani e a manutenção da saúde das artesãs indígenas, ao utilizarem corantes naturais ao invés de material industrializado para a elaboração das tintas.

SOBRE O INSTITUTO MUHDA

O Instituto Muhda é uma associação civil sem fins lucrativos sediada em Florianópolis (SC) que busca conquistar autonomias com resiliência e determinação, comungando sonhos e trabalhando em união. Enquanto movimento, os caminhos são orientados a partir de diretrizes que, como bússolas, norteiam as intenções do corpo coletivo do Muhda. São elas: soberania alimentar, saúde, educação, apoio às populações vulnerabilizadas, sustentabilidade e estímulo à arte e à cultura.

Na organização do Instituto, uma rede integrada se esforça para catalisar mudanças transformadoras a favor da vida, liderando iniciativas socioambientais que promovem diversas formas de autonomia. No coração da entidade, está um quadro de colaboradores e parceiros adeptos, com um coletivo de especialistas que abrangem vários campos do conhecimento. Para cada projeto distinto, são selecionados profissionais cujas habilidades se harmonizam e se complementam, alimentando uma visão integrada de suporte e ação impactante nos territórios tocados.

SOBRE A AGROINDÚSTRIA FAMILIAR BARBACUÁ

A Agroindústria Familiar Barbacuá, localizada em Praia Grande (SC), tem como filosofia a regeneração da Mata Atlântica, a partir da conservação da espécie de palmeira Juçara. O estímulo ao plantio das Juçaras promove uma economia circular, na medida em que as mudas doadas aos pequenos agricultores permitem o fornecimento de posteriores frutos às famílias produtoras de açaí. Já a presença da Juçara nas áreas agroflorestais permite a disponibilidade de alimentos para animais e humanos, o que contribui para um ecossistema equilibrado.

Em 7 anos de história, o movimento Barbacuá já beneficiou mais de 30 toneladas de frutos, distribuiu 10 milhões de sementes e cerca de 50 famílias de agricultores foram impactadas durante esse período. A atuação desta rede também acontece pela educação ambiental, no desenvolvimento de práticas e oficinas de conscientização sobre a importância ecológica da palmeira Juçara, o desenvolvimento sustentável, a soberania alimentar e o empreendedorismo agroecológico. Hoje, a rede Barbacuá já integra as regiões do sul catarinense, Alto Vale e Grande Florianópolis, além do norte do Rio Grande do Sul.

SOBRE O FUNDO CASA SOCIOAMBIENTAL

O Fundo Casa Socioambiental é uma organização que busca promover a conservação e a sustentabilidade ambiental, a democracia, o respeito aos direitos socioambientais e a justiça social por meio do apoio financeiro e fortalecimento de capacidades de iniciativas da sociedade civil na América do Sul.

Para isso, desenvolvemos uma poderosa rede de apoio a pequenas iniciativas da sociedade civil. Uma rede que mobiliza recursos, fornece suporte e fortalece as suas capacidades, garantindo uma autonomia cada vez maior para esses grupos, que estão espalhados por toda a América do Sul. Acreditamos que a transformação parte da escuta, e por isso ouvimos os verdadeiros protagonistas de cada causa que abraçamos: aqueles que têm suas vidas diretamente afetadas por qualquer alteração no território que ocupam.

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